Escândalo da carne de cavalo expõe falha em rotulagem de alimentos na UE
16 de fevereiro de 2013O escândalo da carne de cavalo virou uma verdadeira caça ao tesouro. Desde que, em vários países, carne equina foi parar nos pratos de quem pensava estar consumindo refeições congeladas feitas só com produto bovino, as autoridades procuram freneticamente mercadorias adulteradas. Os primeiros casos foram revelados em meados de janeiro. Desde então, a perseguição aos culpados não progrediu muito.
Supermercados na Irlanda, uma empresa francesa que comprou em Chipre e um armazém frigorífico no norte da Alemanha ─ as pistas atravessam toda a Europa. A carne parece ter origem na Romênia ─ parece, porque não há regras na UE exigindo a rotulagem de produtos de carne processada. Só resta iniciar um exaustivo processo de investigação.
No Reino Unido, três homens foram presos em conexão com a fraude. De acordo com os investigadores, o fornecedor de alimentos francês Spanghero comercializou intencionalmente toneladas de carne de cavalo rotuladas como produto bovino.
Origem obscura
"Precisamos documentar, por exemplo, de quem recebemos mercadorias e para onde elas são enviadas", diz René Soldner, diretor em uma grande empresa de logística alemã. Alimentos são reembalados e armazenados diversas vezes, passando por várias mãos. Mesmo os intermediários não sabem exatamente de onde alguns produtos vêm.
"As regras de rotulagem são insuficientes", afirma Frank Waskow, do Centro de Defesa do Consumidor do estado alemão de Renânia do Norte-Vestfália. Nos anos 90, a "síndrome da vaca louca" (BSE) levou à introdução de regras para que a origem das carnes ficassem claras. Porém estas só se aplicam à carne não processada.
"Se ela for apenas salgada ou processada de qualquer outra forma, já não precisa mais ser rotulada", ressalta Waskow. Em produtos contendo muitos ingredientes, como lasanha, pizza ou iogurte, a origem é ainda mais obscura.
Transporte barato, alto preço final
E por falar em iogurte: já na década de 90, Stefanie Böge, do Instituto Wuppertal, pesquisou de onde vinham os ingredientes individuais de um iogurte de morango. O resultado: as bactérias vinham do norte da Alemanha e eram processadas no sul do país, junto com morangos de plantações polonesas e outros ingredientes da Holanda. Finalmente, uma empresa com sede em Düsseldorf colava as etiquetas nos vidros vindos do estado da Baviera.
Os baixos custos do transporte levam as empresas a produzirem alimentos ao preço mais baixo possível em outros lugares, não importa onde. Ambientalistas apontam repetidamente para esse problema. Só dessa forma são possíveis caminhos como o dos camarões do Mar do Norte.
Há alguns anos, revelou-se que as empresas alemãs enviavam os crustáceos numa longa viagem de 5 mil quilômetros, de ida e volta ao Marrocos. Em troca de alguns poucos euros, os trabalhadores locais separavam a carne do animal, que voltava como ingrediente pronto, por exemplo para os sanduíches de peixe vendidos na costa do Mar do Norte.
Porcos que atravessam a Europa
Números das autoridades alemãs mostram que o transporte de produtos alimentares aumenta constantemente, tanto para importação quanto para exportação. Segundo cálculos parciais do Departamento Federal de Estatísticas (Destatis) em 2011, a Alemanha importou alimentos de origem animal no valor de 17,7 bilhões de euros, incluindo o transporte de animais vivos. Em 2000, as importações haviam sido de apenas 11,8 bilhões de euros.
Bruxelas também se preocupa com os problemas do transporte de alimentos e da rotulagem relativa à origem. Um novo projeto de lei deverá entrar em vigor já em 2014. "Nele, está previsto que produtos de carne processada também têm que ser rotulados com informações sobre suas origens", informa Waskow. Essa é uma reivindicação antiga do Centro de Defesa do Consumidor para que trabalha. Só resta decidir quem assumirá os gastos adicionais da medida.
Mas existem também exemplos positivos. Quem comprou recentemente peixe congelado num supermercado alemão talvez tenha visto o selo "Followfish" estampado nas embalagens. Essa aliança de ambientalistas, pescadores e aquicultores foi fundada em 2007. Seus produtos trazem um código impresso que permite a qualquer consumidor pesquisar na internet onde o peixe costumava nadar, antes de ter virado almoço.
Autora: Julia Mahnke (md)
Revisão: Augusto Valente