Escândalo de assédio atinge TV pública alemã
30 de abril de 2018A emissora alemã Westdeutscher Rundfunk (WDR), que faz parte do conglomerado estatal da ARD, está imersa num escândalo de assédio sexual.
Segundo relatos da imprensa alemã, a emissora já tinha há tempos conhecimento de incidentes e nada fez. Conforme o escândalo avança, cada vez mais mulheres denunciam também terem sido vítimas de abuso sexual dentro da WDR.
Os casos de assédio sexual na emissora se tornaram públicos por meio de divulgações da revista alemã Stern e do centro de pesquisa jornalística Correctiv, no início de abril.
Entre os acusados estavam um jornalista do alto escalão da emissora, um funcionário de uma subsidiária da WDR e um ex-correspondente internacional do conglomerado – este último foi dispensado.
Na sequência das investigações, a revista Der Spiegel relatou em sua mais recente edição alegações de assédio sexual contra outros três funcionários da WDR: um proeminente jornalista já aposentado de televisão, um repórter de rádio que possui um histórico de assédios e inconveniências, além de um funcionário do departamento de auditoria da WDR.
Segundo publicação do tabloide alemão Bild desta segunda-feira (30/04), a direção da emissora tinha há anos conhecimento das acusações, mas não tomou precauções. O tabloide inclusive divulgou que o diretor-executivo da WDR, Tom Buhrow, dispensou um segundo funcionário "do alto escalão". A WDR confirmou a informação, mas negou dar esclarecimento sobre as acusações concretas e a identidade do homem.
O Bild explicou que a direção da WDR tinha conhecimento de casos de assédio sexual o mais tardar desde 2010. Depois que o conselho de funcionários (Personalrat, em alemão) questionou algumas funcionárias, a então diretora de televisão Verena Kulenkampff foi informada por escrito que "houve e ainda há incidentes que podem ser avaliados como assédio sexual em local de trabalho" e que as colegas de trabalho em questão estavam "extremamente envergonhadas e com medo".
Na mesma matéria, o Bild relatou sobre duas mulheres que o ex-correspondente supostamente molestou na década de 1990. Uma das mulheres, na época uma estagiária de 25 anos de idade, descreveu uma das experiências:
"Depois de uma reunião tardia, sentamos juntos com colegas e tomamos umas cervejas. Ele agarrou minhas coxas e disse que poderia decidir se eu poderia moderar a transmissão do dia seguinte. Quando ele se tornou mais e mais intrusivo e eu empurrei sua mão, ele respondeu: 'Eu também posso decidir se você estará demitida amanhã'."
Poucas semanas depois, o correspondente teria tocado a campainha de sua casa num fim de semana e perguntado se poderia tomar um café. "Quando voltei para a sala com a xícara de café, ele estava deitado no meu sofá apenas com uma camiseta branca e me mostrava sua ereção", disse a mulher ao Bild. Só depois de três pedidos, ele finalmente deixou o apartamento.
Quando ela e uma colega – que também teria sido molestada – queixaram-se ao superior do correspondente, elas simplesmente receberam a resposta de que deveriam "descansar e não fazer um alarde disso".
Investigação independente
O caso ganhou notoriedade quando uma ex-estagiária reportou no ano passado à emissora que o citado correspondente a convidou para seu quarto de hotel, durante uma viagem de trabalho em 2012, e lhe mostrou um filme pornográfico.
Na semana passada, o diretor-executivo Buhrow nomeou a ex-comissária da União Europeia (UE) Monika Wulf-Mathies como investigadora especial. A ex-presidente do sindicato ÖTV e membro do Partido Social-Democrata (SPD) recebeu "acesso irrestrito a todas as informações, processos e interlocutores" para sua investigação independente, comunicou a WDR.
Além disso, a emissora contratou um escritório de advocacia para lidar com indícios e alegações de possíveis outros casos de assédio sexual. Depois dos relatos da revista Stern e do centro de pesquisa Correctiv, mais e mais funcionárias da WDR relataram casos de agressões sexuais dentro da emissora.
PV/ots
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