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Esgotar até a última chance

(ns)18 de março de 2003

A Alemanha continua empenhada em evitar uma guerra contra o Iraque. O ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer participa na quarta-feira (19/03) de uma reunião de crise do Conselho de Segurança em Nova York.

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Javier Solana (e) e J. Fischer, em BruxelasFoto: AP

A ameaça de Washington ao Iraque perturbou a rotina do encontro regular dos ministros do Exterior da União Européia, nesta quarta-feira em Bruxelas. O encarregado de Política Externa da UE, Javier Solana, manifetou-se claramente sua frustração pela decisão em favor das armas. O ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, referiu-se a "um agravamento, uma situação talvez trágica, na véspera de uma guerra com a qual não concordamos".

A última cartada em NY

Vários ministros do Exterior dos 15 países que integram o Conselho de Segurança da ONU farão uma última tentativa de deter a guerra contra o Iraque, ao reunir-se em caráter extraordinário no Conselho de Segurança da ONU. Os ministros francês, Dominique de Villepin, russo, Igor Iwanow, e Fischer confirmaram sua presença. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, por sua vez, indicou que não comparecerá. Sua ausência, contudo, não deve ser interpretada como sinal de desconsideração para com o Conselho de Segurança, já que não foi possível encontrar um consenso, ressaltou. Na reunião, será apresentado e discutido o programa de trabalho que o chefe dos inspetores de armamento da ONU no Iraque, Hans Blix, encaminhou aos membros do conselho. Ele propõe um modelo mais rígido de inspeções, com passos concretos de desarmamento e prazos.

Nesta terça-feira, o Japão, a Austrália, a Dinamarca, a Itália, a Polônia e a Romênia manifestaram seu apoio à posição dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Espanha. O presidente francês, Jacques Chirac e o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, rechaçaram o ultimato do presidente George W. Bush. Não há justificativa para "uma decisão unilateral pela guerra", disse Chirac em Paris, nesta terça-feira (18/03).

A defesa de Chirac e a persistência de Schröder

Em pronunciamento transmitido pela televisão, na manhã desta terça-feria, o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, mostrou-se comovido com o fato de ver sua posição compartilhada pela maioria esmagadora do povo alemão e também pela maioria dos membros do Conselho de Segurança. Mesmo duvidando de que a paz ainda tenha uma chance nas próximas horas, Schröder garantiu que seu governo persistirá, pretendendo esgotar até a última chance de evitar um conflito armado.

Chirac igualmente vê a posição francesa compartida "pela grande maioria da comunidade internacional", o que é uma clara reação às insinuações de Bush, de que a França teria dividido as Nações Unidas e, com isso, enfraquecido o Conselho de Segurança. "A França agiu em nome do primado do direito e conforme sua concepção das relações entre os povos e as nações", frisou, acrescentando que cabe unicamente ao Conselho de Segurança legitimar o uso da violência. A ameaça de guerra de Washington prejudicaria futuras tentativas de solucionar, por vias pacíficas, conflitos por causa de armas de extermínio proibidas.

Blair em apuros

Em atitude de protesto contra a política do primeiro-ministro britânico Tony Blair, mais dois altos funcionários apresentaram sua demissão: os ministros adjuntos na Saúde, Lord Hunt, e do Interior, John Denham. Na segunda-feira, já havia deposto seu cargo o líder da bancada trabalhista na câmara baixa e ex-ministro do Exterior, Robin Cook. Blair enfrenta sua prova de fogo nesta terça-feira, quando a câmara baixa se pronunciará sobre a participação de Londres numa guerra contra o Iraque. O premier contará com os votos dos conservadores, mas perdeu constantemente o apoio dentro do Partido Trabalhista nas últimas semanas, o que poderá ser fatal para seu futuro político ou mesmo sua continuidade no cargo.

Durante uma votação sobre a política de Blair quanto ao Iraque, no final de fevereiro, 122 deputados trabalhistas foram contra o premier. Pelas últimas estimativas da imprensa britânica quase a metade da bancada de Tony Blair pode votar contra a participação. Na Grã-Bretanha, porém, o primeiro-ministro não depende do Parlamento para tomar a decisão.