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Esgoto e lixo preocupam atletas olímpicos do remo e canoagem

Peter Sawicki (av)26 de julho de 2016

Apesar de promessas e uso de ecobarcos, despoluição das águas cariocas mostra poucos resultados, e imundície, vírus e bactérias não são os únicos desafios para os competidores.

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Mortandades de peixes são fenômeno crônico na Lagoa Rodrigo de Freitas
Mortandades de peixes são fenômeno crônico na Lagoa Rodrigo de FreitasFoto: picture alliance/ZUMA Press

Um Rio de Janeiro "mais verde e mais limpo" foi uma da metas anunciadas pelos anfitriões dos próximos Jogos Olímpicos, ainda em 2009, após o sucesso da candidatura da metrópole brasileira. Parte dessa tarefa seria o saneamento das águas cariocas, cronicamente contaminadas há décadas.

Há poucos dias do início dos Jogos, porém, há poucos sinais de que essa intenção vá se realizar. Ainda deplorável, a qualidade da água é uma fonte de grande preocupação para os canoeiros e remadores alemães. "Nunca vi condições tão ruins numa edição de Jogos Olímpicos, posso afirmar sem qualquer dúvida", comenta o treinador da seleção nacional de canoagem, Reiner Kiessler.

A paisagem em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos locais das competições, é idílica, com vista para o Corcovado, encimado pelo célebre Cristo Redentor. No entanto, tal beleza não faz esquecer o mau estado do corpo d'água, em que são continuamente despejadas enormes quantidades de esgoto e lixo, resultando em mortandades de peixes periódicas.

É fato que a Rodrigo de Freitas está ligada ao Oceano Atlântico por um canal, o qual permite que suas águas se autopurifiquem, até certo ponto. Além disso recentemente os organizadores dos Jogos empregaram ecobarcos para tentar intensificar a despoluição das águas do Rio.

Sem nível olímpico

Apesar disso, em 2015 estudos encomendados pela agência de notícias Associated Press confirmavam que a lagoa continuava empestada de vírus e bactérias – de forma que mesmo o contato involuntário da água com a boca pode causar doenças.

"Aí é perigoso. Nessas horas a pessoa fica ressabiada", admite a campeã olímpica Franziska Weber, que, com a parceira Tina Dietze, compete pela medalha de ouro nos 500 metros do caiaque de dois.

No entanto, ao remar, é praticamente impossível evitar o contato com a água. "Não vai ser possível deixar de se molhar, não dá para correr tão limpo assim", afirma Hans Gruhne, da equipe de skiff quádruplo. "Ainda assim, espero que seja mais ou menos suportável, que talvez não chova nos dias em que estamos lá."

Os atletas querem tentar de tudo para minimizar os riscos de contrair enfermidades. "Não devemos beber das garrafas no barco, por que elas entram em contato com a água suja", conta a remadora de skiff quádruplo Lisa Schmidla.

O canoeiro Marcus Gross, favorito dos mil metros de caiaque de dois, juntamente com o parceiro Max Rendschmidt, aposta na disciplina: "É importante lavar bem as mãos e limpar tudo." No fim das contas, porém, atesta: a lagoa "não tem nível olímpico".

Sebastian Brendel está entre os principais campeões da canoagem alemã
Sebastian Brendel está entre os principais campeões da canoagem alemãFoto: picture alliance/dpa/M. Shipenkov

"Problema cultural" da população

A poluição em outros locais relacionados aos Jogos, como a Marina da Glória e a Lagoa de Jacarepaguá, também tem sido alvo de críticas dos atletas e da imprensa internacional.

São vários os motivos por que o Rio não preencherá os requisitos referentes à qualidade da água. Por um lado, os moradores das favelas continuam despejando suas águas residuais nos canais e rios vizinhos, sem qualquer filtragem, e as impurezas acabam por confluir nos diferentes corpos d'água.

Em entrevista recente ao jornal Washington Post, o secretário carioca do Meio Ambiente, Carlos Muniz, alegou ser quase impossível prevenir esse estado de coisas, já que os residentes não têm alternativas devido à falta tanto de um sistema abrangente de tratamento de águas residuais como de conscientização para o problema. Assim, trata-se de um "problema de longo prazo, que envolve uma mudança de cultura", argumentou Muniz.

No mesmo artigo, uma porta-voz não-identificada da secretaria acrescenta que os esforços para sanear a Baía da Guanabara também fracassaram devido à falta de coesão entre os órgãos governamentais responsáveis.

O oceanólogo David Zee, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que há décadas estuda as águas cariocas, criticou severamente a situação ao Washington Post. "Quando falamos de legado ambiental, estamos falando de saúde pública. Nesse aspecto, o Rio é um fracasso."

Mas a poluição não é o único problema que aguarda os esportistas aquáticos na Rio 2016. Como mostraram os testes competitivos preliminares, as profundidades irregulares e as plantas aquáticas também representam desafios consideráveis.

"Quem ficar preso numa trepadeira está condenado a perder. É uma planta nojenta, no teste várias ficaram presas no leme e prejudicaram os atletas", relata o treinador Kiessler. "Vai ser muito difícil estabelecer condições normais aqui."