Especialista sugere abertura do G8 a emergentes
10 de fevereiro de 2006O encontro de ministros das Finanças do G8 se realiza desta vez em Moscou, com participação de Antonio Palocci Filho e seus colegas de pasta da China, Índia e África do Sul. Stefan Schirm, professor da cadeira de Política Internacional da Universidade de Bochum, fala à DW-WORLD sobre o futuro do grupo.
DW-WORLD: Hoje se debate o papel do G8 no cenário internacional. Na sua opinião, como este papel mudou, principalmente nos últimos dez anos?
Stefan Schirm: Na verdade, não acho que o papel do G8 tenha mudado muito. O que mudou foi a economia mundial, em decorrência da globalização, do aumento das crises financeiras na Ásia, Rússia e Argentina durante os anos 90. O comércio exterior torna-se cada vez mais importante para várias economias nacionais. Com isso, aumentou a necessidade de melhorar a administração e a prevenção de crises da economia mundial.
O G8 tem uma organização muito fraca para impedir crises financeiras ou administrá-las melhor. Para isso há outras instituições internacionais mais importantes, como o Fundo Monetário Internacional, por exemplo. Mas até o FMI foi bastante criticado por ter fracassado em impedir crises financeiras e, até mesmo, de ter colocado fogo na fogueira. Esta foi uma das críticas manifestadas na Ásia. A fim de poder controlar melhor a economia mundial, o G8 tem que chegar urgentemente a compromissos sólidos.
Quanto ao papel da Rússia, será que este clube internacional merece ser chamado de G8 ou ainda é um G7+1?
Se o clube se chama G8 ou G7+1 é uma questão semântica. O que está em jogo, no fundo, é integração política da Rússia no Grupo. "G8" confirma a idéia de que a Rússia tem os mesmos direitos. Mas o G7 ainda tem que trabalhar mais nisso.
O fato de a Rússia ter sido aceita – em vez da China, do Brasil ou da Índia, por exemplo, que economicamente teriam o mesmo direito de pertencer ao grupo como a Rússia – requer uma justificativa política. Isso implica o compromisso do Ocidente em aceitar a Rússia e, inversamente, o compromisso russo em assumir a responsabilidade de global player na economia mundial. Acho que ambas as partes ainda têm que se aproximar bem mais.
Como o senhor descreveria as posições isoladas dos membros do G8?
Naturalmente, os membros do clube têm posições diferentes, mas isso sempre foi assim, desde os anos 70. Com a ampliação do G7 para G8, através da inclusão da Rússia, o grupo ficou mais heterogêneo e, com isso, os interesses também se tornaram mais distintos. Mas ao longo de um processo de coordenação, estes interesses devem ser transformados em compromissos claros. Isso é difícil, mas não impossível.
Este é o primeiro encontro de cúpula sob a direção da Rússia. Por que os EUA e o Reino Unido encaram aquele país de forma tão crítica?
Ao contrário dos demais membros do G7, a Rússia naturalmente não vivenciou a economia de mercado há décadas e também ainda não se consolidou como democracia. Um certo ceticismo é perfeitamente compreensível e normal. OS EUA e o Reino Unido estão pressionando a Rússia a se desenvolver como economia de mercado e democracia.
É exatamente o que eu disse antes. Ambos os lados têm que convergir. Ou melhor, neste caso é a Rússia que tem que se aproximar do Ocidente, se quiser ser aceita de igual para igual como democracia e economia de mercado.
O que o senhor poderia dizer sobre o futuro destes fóruns internacionais? Será que o G20 é uma forma possível para o G8?
Decisivo para o futuro do G8, na minha opinião, vai ser sua disposição em fixar compromissos e realmente cumpri-los. Aí sim ele poderia ser ou se tornar um grêmio política e economicamente relevante. Se tudo continuar descompromissado, é provável que o G8 se reúna apenas para sessões de fotos e tudo fique como está. Isso depende do comprometimento dos acertos.
Já existe um G20 dos "países do Sul". Se falarmos de um G20 que inclua países do G8 e nações emergentes do Sul, isso passaria a fazer sentido, pois teríamos uma participação bem mais abrangente de países importantes de todo o mundo. Por outro lado, haveria problemas de coordenação muito maiores entre os países ocidentais do G7 do que entre o G7 e a Rússia.
Se a China, o Índia, o Brasil, o México e outros participassem de um grande G20 juntamente com os países industrializados, a coordenação seria muito mais problemática, mas – em detrimento da eficiência – a representatividade deste grupo seria bem maior.