Snowden, o prisioneiro de Sheremetyevo
27 de junho de 2013Como não possui mais um passaporte válido, o técnico de informática Edward Snowden não pode deixar o aeroporto de Moscou. Seu documento foi cassado pelos Estados Unidos depois que o ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) vazou informações secretas para a imprensa sobre um esquema da agência que monitorava informações de cidadãos norte-americanos e estrangeiros. A vigilância acontecia através de um programa chamado Prism, que acessava dados de grandes servidores de internet mundiais.
Desde o início de junho, quando revelou o esquema, o jovem de 30 anos está fugindo. No último domingo (23/06), ele desembarcou em Moscou vindo de Hong Kong. Segundo a imprensa internacional, da Rússia, Snowden pretendia ir para Cuba ou para o Equador.
Mas a viagem para a América Latina está sendo adiada porque o ex-agente não possui um passaporte válido e, dessa maneira, não consegue comprar uma passagem para seguir viagem, informou nesta quarta-feira a agência de notícias russa Interfax, que citou fontes anônimas próximas a Snowden.
Na terça-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia anunciado que o jovem estava na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, ao noroeste de Moscou. Essa informação não foi confirmada por outras fontes. Não é possível saber exatamente onde o fugitivo da agência secreta americana realmente está.
Prisioneiro da Rússia
"Eu acredito que Snowden não está na área de trânsito do Sheremetyevo", afirmou Gerhard Mangott, especialista em Rússia da Universidade de Innsbruck, na Áustria, em entrevista à DW. O ex-consultor da NSA provavelmente está sendo interrogado por autoridades russas em um local secreto, completa o especialista. "Os russos não deixariam passar essa oportunidade", diz Mangott. Mas Putin já desmentiu essa suposição.
O especialista em Leste Europeu da Universidade de Colônia Gerhard Simon também está cético. "Não sabemos se Snowden realmente está em Sheremetyevo", diz. Para Simon, na realidade, o ex-consultor é um prisioneiro da Rússia, pois ele precisa da ajuda do país para poder continuar sua viagem.
Snowden seria "um peixe que inesperadamente pulou na rede do serviço secreto russo", diz Mangott. O especialista austríaco afirma também que Putin estaria sentindo "uma satisfação pessoal" com a situação. Há alguns anos um esquema de espionagem russo foi descoberto nos EUA. Agora, Moscou teria a possibilidade de uma revanche, segundo Mangott.
Teste para as relações entre Rússia e Estados Unidos
Os EUA exigem a extradição de Snowden e fazem ameaças. Putin disse que essa ação é impossível, pois não há um acordo de extradição entre Moscou e Washington e que, além disso, o ex-consultor não cometeu nenhum crime na Rússia.
Para Simon, da Universidade de Colônia, esse argumento é hipócrita. "Mandados de prisão internacional sempre partem do princípio de que outro país acusa alguém de um crime que precisa ser esclarecido", diz o especialista.
O caso Snowden compromete ainda mais as relações entre Rússia e EUA, estremecidas desde a eleição de Putin para presidente, há um ano. Entre os assuntos considerados "espinhosos" entre os dois países estão as visões diferentes sobre o conflito na Síria e a disputa sobre os planos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para a implementação de um escudo antimíssil na Europa, por exemplo.
No fim de 2012 houve, inclusive, uma crise legislativa. Os EUA aprovaram a chamada lei Magnitski – que proíbe a entrada no país dos funcionários públicos russos culpados da morte do advogado russo que criticava o Kremlin quando estava em prisão preventiva. A justificativa dos EUA para a elaboração da lei foi punir violações de direitos humanos nesse caso na Rússia, que reagiu proibindo a adoção de crianças por famílias norte-americanas.
Sem exílio na Rússia
Mangott alerta que os Estados Unidos podem agora aprovar leis que causem consequências graves na relação bilateral. Ele se refere às declarações de alguns senadores americanos, que exigem uma dura resposta para o comportamento russo no caso Snowden.
Para evitar essa reação, Moscou deve deixar Snowden seguir viagem, acredita Mangott. Simon é da mesma opinião. Segundo o especialista, a Rússia não tem interesse em um peso permanente na relação com os EUA. Lembrando casos passados de espionagem entre os norte-americanos e a União Soviética, Simon afirma que, "olhando para trás, esses casos não abalaram as relações de longo prazo dos dois países".