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Terror na China

Martin Schrader (rr)6 de agosto de 2008

Um ataque a granada no noroeste da China desperta o medo de atentados terroristas durante os Jogos Olímpicos de Pequim. Mas opiniões de especialistas acerca dos possíveis riscos diferem muito entre si.

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Soldados em frente ao Estádio OlímpicoFoto: AP

De acordo com as autoridades chinesas, os ataques na região chinesa de Xinjiang, que custaram a vida de 16 policiais na última segunda-feira (04/08), têm fundo terrorista. Trata-se do segundo incidente em Xinjiang, num período de duas semanas. Mas a principal questão é: deve-se temer um atentado também em Pequim durante os Jogos Olímpicos que começam nesta sexta-feira?

Rohan Gunaratna, um dos mais conhecidos especialistas em terrorismo na China, advertiu no jornal The Straits Times que "o terrorismo é a principal ameaça das Olimpíadas". Gunaratna, que dirige o Centro Internacional de Pesquisa em Violência Política e Terrorismo na Universidade Tecnológica de Nanyang, distingue quatro grupos que devem ser classificados como ameaça, na percepção do departamento de segurança do Comitê Organizador em Pequim.

Estes seriam a Al Qaeda, o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (Etim), uma organização para a libertação do Tibete e a seita Falun Gong. Dentre estes, o maior perigo seria representado pelo Etim, a que o jornal China Daily atribuiu a responsabilidade pelos ataques na segunda-feira.

"Pequim é uma fortaleza"

Karte Westchina mit der Provinz Xinjiang und dem Grenzort Kashgar
Local dos atentadosFoto: AP

Especialistas entrevistados por DW-WORLD.DE, no entanto, aconselham não dramatizar os riscos do evento ou até mesmo criar pânico. "Pequim, atualmente, pode ser comparada a uma fortaleza", disse o pesquisador Xuewu Gu, especialista em Leste Asiático.

Segundo ele, "o risco de um atentado é relativamente baixo e a cidade não dá chance à criminalidade organizada, a atentados e terroristas". O mero fato de os ataques recentes terem acontecido fora de Pequim mostra que grupos perigosos não estão em condições de organizar a violência na cidade, sendo forçados a desafiar o poder do Estado fora da capital.

Um Estado dentro do outro

Segundo Martin Wagener, que investiga a violência no Leste Asiático na Universidade de Trier, criou-se em Pequim um "verdadeiro Estado de segurança máxima". Em suas pesquisas, ele constatou que o governo chinês deslocou 34 mil soldados do Exército de Liberação Popular (ELP) e mais de 110 mil policiais para garantir a segurança dos Jogos, além de aviões de combate, helicópteros e navios.

China Anschlag in Xinjiang Polizei am Tatort
Policiais gesticulam para fotógrafos em KashgarFoto: AP

Também foram instaladas 300 mil câmeras de vigilância eletrônica e, como se não bastasse, outro 1,4 milhão de voluntários ajudará a garantir que nada aconteça. Tudo isso, argumenta Wagener, torna praticamente impossível contrabandear explosivos para pontos sensíveis da cidade.

Além disso, o atentado em Kashgar, segundo Xuewu Gu, não deve ser visto como uma demonstração anormal de violência. Afinal, há anos a região vem sofrendo com atentados de pequena e média grandeza contra a polícia e edifícios do governo. A mídia internacional é que deu pouca atenção ao fato.

"Parto do princípio que atentados como este continuarão acontecendo após os Jogos Olímpicos, pois suas causas não serão eliminadas pelo evento", explica. "Pelo contrário: os problemas continuarão existindo, já que as injustiças sociais crescem na China e os conflitos entre o governo central e as minorias se acirra."

Desinformação deliberada

Wagener considera até possível que Pequim instrumentalize incidentes como o de Kashgar a fim de justificar seu gigantesco aparato de segurança e dar um outro rumo à situação: contra separatistas em Xinjiang, contra manifestantes tibetanos e contra a seita religiosa Falun Gong.

"Tudo que o governo investir agora poderá ser usado mais tarde para eliminar pela raiz manifestações por mais democracia", explica Wagener. Aliás, esse seria desde já seu principal interesse. "Mas isso eles naturalmente não podem deixar transparecer. Por isso precisam do terrorismo islâmico e islamista."

Sicherheit bei den olympsichen Spielen in China / Peking 2008
Polícia protege hotel onde se hospeda o Comitê Olímpico InternacionalFoto: AP

De fato, o governo chinês parece promover uma desinformação deliberada da opinião pública, como indicam medidas tomadas após o atentado em Kashgar. Informações independentes sobre o ataque eram muito difíceis de obter, segundo um repórter da agência de notícias AFP. Autoridades locais teriam bloqueado o acesso à internet ainda no mesmo dia.

Ao que parece, a polícia tentou impedir que circulassem representações paralelas dos fatos, além das que foram divulgadas oficialmente. Policiais teriam chegado até a invadir o quarto de hotel de um fotógrafo da AFP e o forçado a apagar imagens do atentado.

Dois jornalistas japoneses, que tentavam cobrir o incidente, foram presos temporariamente, informou a agência AP. O repórter Shinji Katsuta conta que lhe bateram várias vezes no rosto. Pouco depois, outras autoridades teriam se desculpado pelo ocorrido.