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Reunificação

2 de outubro de 2009

Quando o Muro de Berlim caiu em 1989, mulheres politicamente ativas da ex-Alemanha Oriental temiam que renovação acontecesse sem sua participação. Para muitas, reunificação foi retorno a antigos padrões de comportamento.

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Operária em fábrica de motores na antiga RDAFoto: picture-alliance/dpa

Oficialmente, as mulheres da antiga República Democrática Alemã (RDA) gozavam de igualdade de direitos. Aparentemente, podiam exercer qualquer profissão, na fábrica, na agricultura como engenheira, médica ou tratorista – a vida profissional era algo indiscutível, mesmo para as que tinham filhos. O Estado lhes permitia combinar família e trabalho. As crianças frequentavam escola de tempo integral e para os mais novos havia jardins-de-infância e creches.

No decorrer da década de 80, já antes da queda do Muro, a imagem da camarada emancipada começou a apresentar falhas, como constatou a socióloga Hildegard Maria Nickel em seus estudos. As mulheres estavam cada vez mais descontentes, pois, depois do trabalho, ainda tinham que dar conta de todas as tarefas domésticas. Além disso, em geral, funções políticas e cargos governamentais continuavam fora de seu alcance.

Nesse ponto, a vida feminina na Alemanha Oriental assemelhava à do lado ocidental, onde poucas mulheres participavam do Parlamento nos anos 1980. Uma legislação que garantisse maior justiça e igualdade, como a exigência de uma quota de participação feminina, ainda era incipiente. O lugar da alemã ocidental era ao lado do seu marido. Como esposa, ela devia se dedicar exclusivamente às crianças, ao marido e aos afazeres domésticos.

Estudos de gênero

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Merkel iniciou carreira política na época da queda do MuroFoto: dpa/Fotoreport

Durante a década de 1980, Hildegard Maria Nickel se ocupou de estudos de gênero na Universidade Humboldt, ainda na antiga Berlim Oriental. Renovação na RDA? Dizia-se que, somente com a ajuda de quotas de participação, seria possível uma participação apropriada em posições de liderança e competência.

Nickel conhecia o desgosto de muitas mulheres alemãs orientais de serem honradas somente uma vez ao ano, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. A partir daí, não foi possível, no entanto, o desenvolvimento de um movimento político enérgico, já que as mudanças de 1989-90 ocorreram rápidas demais.

Petra Bläss, política alemã oriental que, após a reunificação alemã, chegou a ocupar o cargo de vice-presidente do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, afirma que, por ocasião da queda do Muro, as alemãs orientais tinham claras críticas sobre o que a RDA entendia por igualdade de direitos.

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Petra Bläss foi vice-presidente do BundestagFoto: picture-alliance / dpa

Bläss afirma que, de repente, o movimento feminista da Alemanha Oriental se viu na situação de ter que defender muito daquilo que anteriormente criticara, tornando-se uma espécie de pioneiro na luta pela preservação das conquistas sociais da RDA.

Os meses entre 9 de novembro de 1989 e 18 de março de 1990 são considerados como o apogeu do movimento feminista independente na RDA. Muitas mulheres tomavam a palavra para expressar suas exigências. Manifestos e cartas abertas foram escritos. Foi nesse período que a atual chefe alemã de governo, Angela Merkel, começou a ganhar experiência na política.

Retrocesso reunificado

Após 18 de março de 1990, teve início o retrocesso em termos de igualdade de oportunidades entre mulheres e homens, tanto no leste como no oeste. Carola von Braun, política liberal que ocupava na época o cargo de responsável por assuntos da mulher em Berlim Ocidental, afirma que "de repente, de um dia para outro, o movimento feminista ocidental foi decepado – não posso expressar a coisa de outra forma".

Segundo ela, a grande questão passou a ser se a reunificação viria ou não. "E se sim, sob que condições? Estes eram os temas absolutamente dominantes na época. E afirmo que não foi somente a política para a mulher e para a igualdade de direitos que sofreram. A partir de 1989, vivenciamos um retrocesso em todas os grandes setores de reforma. Isso deve ser dito bem claro."

Muitas das mulheres alemãs orientais até então emancipadas perderam seus postos de trabalho, perdendo também sua independência econômica. Para elas, a reunificação não foi uma libertação, mas sim um retorno aos antigos padrões de comportamento.

Outro retrocesso para elas foram as novas regras sobre o aborto contidas no Parágrafo 218 da legislação. Na RDA o aborto tinha uma regulamentação liberal e era financiado pelo Estado. Na Alemanha reunificada, as mulheres têm que arcar com os custos e, mesmo assim, se submeter a um complicado processo de aprovação. Na opinião de Hildegard Maria Nickel, isso contribuiu para que muitos – não apenas mulheres – que antes eram politicamente ativos se sentissem frustrados e se retirassem da política.

Autora: Henriette Wrege (ca)
Revisão: Augusto Valente