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Estação polar projetada por alemães é considerada exemplar

Silke Bartlick (ca)20 de outubro de 2013

Entrou recentemente em operação a unidade de pesquisa antártica Bharati. Ela foi desenvolvida para pesquisadores indianos por uma equipe de engenheiros alemães de Hamburgo, que teve de superar imensos desafios.

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Foto: IMS/bof

O verão antártico é curto: o sol aparece, no máximo, durante quatro meses. Então as temperaturas sobem para toleráveis 10 graus negativos, raramente neva, e o vento diminui. Durante essa época, o continente só é acessível por navio ou a partir da África do Sul, com aviões de carga russos.

Nos últimos anos, Andreas Nitschke esteve três vezes na Antártida, onde construiu a estação indiana de pesquisa antártica Bharati, o projeto mais notável em sua carreira de engenheiro civil.

Do norte da Alemanha para a Antártida

Em 2006, o Centro Nacional de Pesquisa Oceânica e Antártica (NCAOR, na sigla em inglês), da Índia, lançou um concurso internacional para o projeto de uma nova estação de pesquisa no Polo Sul. A equipe de Nitschke, da empresa de engenharia IMS de Hamburgo, ganhou a licitação em 2008.

"Nossa proposta foi a melhor de todas", gaba-se Nitschke, em parte graças ao fato de os engenheiros já terem projetado a estação antártica alemã Neumayer III. Eles conheciam muito bem os desafios da Antártida e responderam com uma solução tão inteligente quanto elegante.

Indische Forschungsstation Bharati in der Antarktis
Navios porta-contêineres aportam na camada de gelo ao longo da costaFoto: IMS/bof

A nova estação indiana de pesquisa Bharati é composta de 134 contêineres de alta qualidade. Na Alemanha, eles foram completamente mobiliados, pintados e equipados com portas, janelas e o sistema elétrico necessário. Lacrados, os contêineres foram transportados para o porto belga de Antuérpia, e de lá embarcados para a Antártida.

É claro que no continente gelado não existem portos e píeres, explicou Andreas Nitschke. Os navios simplesmente se encalham no gelo ao largo da costa. Mesmo no verão, a camada de gelo tem um metro e meio de espessura, portanto suporta o peso. "Então o guindaste pode colocar o material sobre o gelo. E há ainda os veículos de neve com reboque, que transportam os contêineres até o canteiro de obras." Ali, eles são montados e, finalmente, recebem os elementos da fachada.

Obra-prima logística

Segundo Andreas Nitschke, a logística é o maior desafio para quem quer construir na Antártida. "É difícil chegar lá. E quando se está, é difícil sair." Por esse motivo, qualquer extravio de material ou entrega adicional não provoca somente atrasos, mas também custos extremamente altos. Portanto, tudo deve ser cuidadosamente planejado, e material suficiente para eventuais reparos deve estar à disposição no local.

Outro problema: o breve verão antártico de quatro meses deve ser suficiente para a execução da obra. Com um pequeno truque, os alemães puderam otimizar o aproveitamento do pequeno intervalo de tempo.

Indische Forschungsstation Bharati in der Antarktis
Estação foi construída nos meses de verãoFoto: NCAOR

No verão de 2011, foram preparadas as fundações, o subsolo pedregoso foi aplainado e foram fixadas as paredes de concreto, que formam o alicerce sobre o qual o edifício propriamente dito seria ancorado. No verão seguinte vieram os contêineres, que foram montados em pilotis metálicos sobre o alicerce. A estação de pesquisa é suspensa porque, se ficasse no solo, "seria simplesmente coberta pela neve", explicou Andreas Nitschke.

A estação Bharati – que significa "pequena Índia" – é um projeto com muitos interessados, construída por operários poloneses, tchecos e alemães, e utilizada por cientistas indianos desde a sua inauguração, em março de 2013. Pilotos de helicóptero sul-coreanos transportaram os materiais de construção. Nos navios porta-contêiner russos trabalharam ucranianos, bielorrussos e lituanos. E próximo à estação trabalham chineses, russos, australianos e americanos. "A Antártida é muito internacional", observa Nitschke.

Diversos países mostram presença, mantendo ali estações de pesquisa. A Antártida não pertence a ninguém, mas abriga muitas matérias-primas. "Todos estão atrás delas. E quem está ali presente, talvez possa um dia reivindicar o seu quinhão."

Indische Forschungsstation Bharati in der Antarktis
No interior da Bharati não se percebe construção com contêineresFoto: IMS/bof

Espaço para exercitar a tolerância

Andreas Nitschke comenta que todos os que passam muito tempo na Antártida voltam diferentes. Ali se aprende a ser tolerante e a lidar com outras culturas. Em caso de conflito, não é possível desviar do caminho ou recorrer a um tribunal. "Quem quiser saber como é a vida sem uma sociedade de competição, basta ir para lá."

Mas é preciso gostar de lugares diferentes e não ser exigente. No inverno, as temperaturas caem para abaixo de 40 graus negativos, passam-se semanas sem que se veja a luz do sol, alimentos frescos são uma raridade. Por volta de 60 pessoas trabalham na estação indiana durante o verão, no inverno 15 permanecem no local.

Eles têm à disposição cabines próprias, cozinha, escritórios, oficina de reparos, despensas e câmaras frigoríficas, um hospital com sala de cirurgia, uma sala de ginástica e um espaço de lazer com cinema e futebol de mesa, além de um grande saguão e uma sala de oração. De dentro não se percebe que tudo isso é montado com contêineres.

Para reduzir ainda mais o consumo energético, está prevista a construção de uma unidade de energia eólica no local. A estação já dispõe da própria usina de dessalinização e tratamento biológico de águas residuais.

"Uma estação antártica é um mundo autônomo, comparável a um navio em alto-mar", descreve Andreas Nitschke. A diferença é que o navio não permanece tanto tempo no mar como a estação, que durante os oito meses do inverno fica inteiramente isolada do resto do mundo.

Atualmente, a estação indiana de pesquisas Bharati está sendo apresentada como edifício exemplar numa exposição itinerante do British Council. A mostra pode ser visitada em Glasgow, Escócia, mas em breve também virá para a Alemanha.