Estados Unidos tentam se reaproximar da América Latina
10 de maio de 2013Os Estados Unidos pretendem reforçar os laços políticos e, principalmente, econômicos com os países da América Latina. Um dos sinais desse movimento é a visita do vice-presidente norte-americano, Joe Biden, ao Brasil e à Colômbia no mês de maio.
Além disso, o presidente Barack Obama vai receber, no início de junho, em Washington, os presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e do Peru, Ollanta Humala. O governo Obama está priorizando, dessa forma, temas comerciais e empresariais com uma região que tem apresentado, nos últimos anos, crescimento constante, ao contrário dos Estados Unidos e da Europa.
"Em seu primeiro mandato, Obama priorizou o Oriente Médio e adjacências. Agora, no segundo mandato, há uma sinalização de que isso poderá ser revertido. Parece que eles pretendem deixar a guerra contra o terror de lado e devem tentar liberalizar o comércio", explicou Virgílio Arraes, professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com a Casa Branca, Biden vai se encontrar no Brasil com a presidente Dilma Rousseff e com o vice-presidente Michel Temer, com os quais deverá debater "formas de aprofundar a aliança comercial e econômica, assim como melhorar a cooperação no espectro amplo de assuntos bilaterais, regionais e globais que conectam ambos países".
Posteriormente, Biden vai para Colômbia, onde conversa com o presidente Juan Manuel Santos sobre questões de segurança, além de analisar "vias para melhorar a prosperidade" de ambos os países. Isso mostra a reaproximação econômica com a América Latina, já que os EUA vêm perdendo espaço para a China, União Europeia e até mesmo o Mercosul.
Perda de influência
"Na tradição da política externa regional, toda a América Latina era considerada uma região debaixo da influência política e econômica dos EUA. Hoje, eles vêm perdendo essa supremacia do ponto de vista político para Europa e China. Essa visita serve para que o país se aproxime mais da América Latina, também comercialmente", frisou Evaldo Alves, coordenador do curso de negócios internacionais e comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Eduardo Mariutti, diz que, devido à intensificação das relações da China com a América do Sul, que ocorreu em sincronia com um tênue processo de polarização do Atlântico Sul em direção ao Brasil, o interesse dos EUA pela região vai aumentar.
"Mas esse interesse vai aumentar no velho estilo: promover 'parcerias' que reforcem a predominância dos EUA na região, com vista a reforçar seu status quo. Esses contatos entre os presidentes são sinais dos EUA de que eles estão de olho na região", ressaltou Mariutti.
A última escala será a ilha caribenha de Trinidad e Tobago, onde Biden vai se reunir com líderes de vários países do Caribe, de forma similar ao encontro que Obama celebrou com seus pares na última semana na Costa Rica.
Piñera e Humala em Washington
No dia 4 de junho, Obama vai receber o presidente chileno, Sebastián Piñera, o qual assim reciproca a visita do chefe de Estado norte-americano a Santiago, em março de 2011.
Já a visita do presidente peruano, Ollanta Humala, a Washington está marcada para 11 de junho. Os dois deverão conversar sobre temas econômicos, principalmente quanto ao Acordo de Associação Transpacífica (TPP, em inglês), do qual o Peru é um dos poucos países da América Latina participantes, junto a Chile e México. Outros temas são a luta contra o narcotráfico, educação e a agenda de inclusão social de Humala.
Com a Europa em crise, os EUA constataram que podem crescer economicamente tendo como aliados os países latino-americanos. "Ainda mais com a saída de cena de Hugo Chávez, diante de um carisma menor da presidente Dilma Rousseff comparando-se com Lula, e diante da crise argentina e do desgaste de Cristina Kirchner. Então isso abre uma perspectiva para uma presença maior dos EUA na região", argumentou Arraes, da UnB.