Estratégia flexível: o novo tipo de guerra
24 de março de 2003Esta guerra do Iraque não difere da anterior somente pelo que representou para a diplomacia, a ONU e o direito internacional nos meses que antecederam o conflito: também mudaram a estratégia e a técnica militar. Maior precisão das bombas, maior poder de fogo, uso precoce de tropas terrestres, mas também grande consideração para com a população são algumas características da nova estratégia flexível, que Jürgen Krönig expõe neste artigo.
A forma como transcorreu a guerra até agora surpreendeu a maior parte dos especialistas. Poucos previram a nova estratégia dos aliados. Em vez de maciços bombardeios durante semanas - como se esperava - a invasão de tropas por terra já começou nas primeiras 24 horas. Na Guerra do Golfo de 1991, contudo, os tanques e unidades da aliança contra Saddam Hussein só começaram a avançar após cinco semanas de bombardeios.
Várias frentes desde o início
Desta vez, porém, foram abertas várias frentes de batalha quase de forma concomitante: no Sul do Iraque, mas também no Norte, principalmente nas proximidades de Kirkuk, cidade petroleira, onde se travam as lutas mais ferrenhas. Ao mesmo tempo, unidades especiais adentraram-se no território inimigo, ocupando aeroportos militares no Ocidente do país, enquanto fuzileiros navais aterrissaram na Península Fao, para assegurar as instalações de exploração de petróleo e conquistar o porto de Umm Qasr, de importância estratégica.
Objetos escolhidos para bombas de precisão
Quanto aos intimidadores ataques aéreos nas madrugadas de sábado e domingo (22 e 23/03), nos quais foram despejados sobre Bagdá milhares de mísseis de cruzeiro e bombas teleguiadas, não se tratou de bombardeios devastadores de grandes superfícies. Os mísseis atingiram alvos escolhidos, os palácios de Saddam Hussein, centrais de comando e centros de comunicação do regime, posições e bunkers da Guarda Republicana e tropas de segurança do ditador iraquiano.
A maior consideração possível
A estratégia de Colin Powell na Guerra do Golfo em 1991 tinha por objetivo atingir mortalmente o inimigo, através de bombardeios durante semanas, provocando altas perdas em suas forças armadas, antes de que começasse a ofensiva das tropas terrestres. Essa estratégia agora foi substituída por uma combinação de maior potencial de fogo e a maior consideração possível - como denomina o estrategista britânico Timothy Garden, do King's College de Londres. O adversário deve ser desmoralizado e intimidado. Ao mesmo tempo, faz-se de tudo para evitar baixas de militares e da população civil, procurando reduzir o seu número ao mínimo possível. O avanço da tecnologia armamentista criou as condições para isso.
Enquanto a anunciada precisão dos mísseis e bombas controladas por laser não passava de uma ilusão em 1991, a partir de então deu-se, ao que tudo indica, um salto qualitativo na tecnologia armamentista. A precisão dos sistemas hoje disponíveis é de 70 a 80% na avaliação de especialistas. Dez anos atrás, não passava de 10%. No entanto, isso também significa admitir que também nesta guerra haverá vítimas entre a população civil.
Mídia é instrumento da guerra psicológica
Elemento essencial da nova estratégia flexível, à qual basta um pequeno número de tropas, é a guerra psicológica, na qual a mídia global desempenha um papel que não deve ser subestimado. Televisões globais graças a satélites divulgam as espetaculares imagens da queda de mísseis que baterias antiaéreas procuram, em vão, destruir; imagens de como os edifícios que simbolizam o regime iraquiano se transformam em ruínas; imagens de soldados iraquianos se entregando às tropas britânicas e americanas. A mensagem que se transmite é inconfundível: "Os dias do regime estão contados. Entreguem-se, não tem o mínimo sentido continuar lutando!"
Ao mesmo tempo, as imagens de tevê têm a função de ressaltar um importante aspecto da estratégia das bombas: Bagdá à noite não caiu imediamente na escuridão. Mesmo na madrugada de domingo (22/03), muitas ruas e prédios continuavam iluminados, embora tenha havido ataques para cortar a eletricidade dos palácios de Saddam Hussein. Os ataques aéreos não visam destruir a infraestrutura. Quebrar o poderio do ditador iraquiano é o seu objetivo, mas o povo não deve ser afetado.
Boatos e desinformação com graves conseqüências
Boatos, especulações e desinformação proposital complementam a estratégia. Trata-se de confundir o adversário, levando-o a tomar decisões errôneas. Um exemplo muito bem sucedido de ação para confundir o inimigo foi o que conseguiu fazer a CIA e que teve conseqüências talvez decisivas para o desfecho da guerra. No início da semana passada, circulava o boato - avidamente repetido pela mídia global - de que o vice-presidente Tarik Asis teria fugido. Isso fez com que ele rapidamente se apresentasse ante as câmaras, em uniforme de combate, para assegurar sua lealdade inquebrantável.
Esse passo pode ter sido fatal. Afirma-se que a partir de então o vice-presidente caiu na mira da espia eletrônica, levando o inimigo, sem querer, até a casa em um subúrbio de Bagdá onde a liderança iraquiana se reuniu em conselho de guerra. Essa casa foi o alvo dos primeiros mísseis de cruzeiro dos aliados, na madrugada de quinta-feira (20/03). Não foram confirmados os rumores de que Saddam Hussein teria sido ferido ou até morrido na ocasião. Ou será que isso também faz parte de alguma jogada para confundir uns e outros? (ns)