Estratégias de comunicação ajudaram a polir imagem da monarquia espanhola
18 de junho de 2014No último dia 21 de maio, a Casa Real espanhola estreou seu perfil no Twitter. O fato de a monarquia ter aberto esse novo canal de comunicação era um indício de que alguma notícia importante estava por vir. O que de fato aconteceu, duas semanas depois: em 2 de junho, às 10h39min, quase ao mesmo tempo do comunicado oficial do presidente do governo e duas horas antes de o rei aparecer na televisão para dar a notícia, a conta oficial da Casa Real na rede social anunciava a abdicação de Juan Carlos, aprovada pelo Senado nesta terça-feira (17/06).
A política de comunicação da Casa Real é gerenciada por Rafael Spottorno, chefe da instituição, com a ajuda do secretário-geral e de uma equipe de cinco especialistas. Spottorno é sobrinho do filósofo José Ortega y Gasset, cuja principal obra, A rebelião das massas (1929), trata do rompimento entre as classes populares e as elites dominantes. Diplomata de carreira, Spottorno já trabalhou para o rei dez anos antes de assumir o cargo atual, época na qual esteve à frente do lançamento do site oficial da Casa Real.
As elites, as massas e a imprensa
A entrada no mundo virtual não foi a única medida tomada para reforçar a imagem da monarquia. Em 1981 foi criado o Prêmio Príncipe de Asturias, com o objetivo de competir com as principais homenagens internacionais a membros de destaque das artes e das ciências. E também com a intenção de melhorar a imagem do então jovem príncipe Felipe, que algum dia viria a ser convocado a assumir o trono.
Também faz parte da estratégia de comunicação um estudado plano de aparições públicas, em que a família real percorre, todos os anos, todo o território da Espanha. Assim preenchem-se páginas e mais páginas de jornais e revistas espanhóis. A proximidade dos monarcas com o povo é tanta que uma vez roubaram o relógio do rei, um Rolex de ouro, enquanto ele distribuía apertos de mão à multidão durante uma visita a Sevilha.
Mas a principal política de comunicação da Casa Real tem sido a atenção especial dada aos jornalistas, que retribuem com um respeito incomum. Já se chegou a falar sobre um suposto pacto de silêncio com a mídia, para que não fossem divulgados, por exemplo, casos amorosos do rei – que acabaram sendo publicados pela imprensa estrangeira.
De fato, até recentemente era difícil encontrar alguma crítica a Juan Carlos na mídia espanhola. O príncipe Felipe – cuja melhor assessora é sua esposa, Letizia, que apresentava notícias na televisão antes de se tornar princesa – sabe que não herdará esse silêncio.
O golpe de Estado de 1981
O maior êxito de toda a política de comunicação da Casa Real, no entanto, foi garantido por outra estudada aparição televisiva. Foi durante a tentativa de golpe de 1981. O rei dirigiu-se aos espanhóis para repudiar os militares golpistas e reiterar seu compromisso com a Constituição e a democracia, recém-estabelecidas. Isso fez com que se dissolvesse o golpe de Estado, cujos envolvidos – entre eles, o então chefe da Casa Real – acreditavam ter o apoio de Juan Carlos.
Há quem suspeite que o golpe de Estado tenha sido organizado pelo próprio rei, que teria recuado no último minuto. Ou então que o monarca teria planejado o golpe, desde o início, justamente para aparecer no final e rejeitar a tentativa.
Juan Carlos sempre negou qualquer envolvimento ou conhecimento prévio do golpe. De qualquer forma, com ou sem a participação do rei, tendo sido uma armação ou não, tal aparição na televisão foi uma jogada de mestre em termos de comunicação e lhe rendeu mais três décadas de reinado.