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Estudantes alemães querem esquecer o nazismo

(av)16 de junho de 2002

A revista "Spiegel Online" divulgou os resultados de uma pesquisa em meios universitários: os estudantes estão cada vez menos dispostos a se ocupar do passado da Alemanha.

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Martin Walser, em maio de 1999Foto: AP

O passado incômodo: nazismo, Holocausto e a dificuldade de recordar

. Este é o título de um estudo realizado na Universidade de Essen, para o qual o especialista em Educação Klaus Ahlheim inquiriu mais de dois mil estudantes sobre seu posicionamento quanto ao regime nazista. O resultado: 36% afirmam que está na hora de cortar com o passado, ou seja, adotam a chamada "mentalidade do ponto final".

Segundo outros estudos, 63% dos alemães do oeste e 52% do leste partilham desta opinião. Mesmo assim, os pesquisadores de Essen consideram os resultados alarmantes e apontam uma tendência: no decorrer dos anos 90, cresceu o número dos partidários da "mentalidade do ponto final", sobretudo entre os estudantes mais jovens.

O desejo de romper com o passado assustador alia-se à necessidade de que os alemães "finalmente desenvolvam um espírito nacional sadio; afinal de contas, outras nações com capítulos obscuros em sua história também conseguiram". Aqui delineia-se outra tendência inédita: segundo Ahlheim, há dez anos, uma tal reivindicação seria impensável nos meios universitários.

Ignorância histórica

Uma parte considerável dos estudantes demonstra o chamado "anti-semitismo secundário". Os pesquisadores descrevem assim essa estranha inversão: "Devido à lembrança do Holocausto, a pessoa se sente incomodada, molestada, oprimida, até mesmo perseguida 'pelos judeus', reagindo com afeto anti-semítico."

A recusa do passado se expressa também no rendimento acadêmico: grande parte dos futuros profissionais – quer engenheiros, médicos, economistas, pedagogos ou historiadores – demonstra conhecimentos históricos deficientes.

Embora 96% ainda saibam o que foi Auschwitz e 91% datem corretamente o final da Segunda Guerra Mundial, 31% dos entrevistados erraram quanto ao início da guerra, 71% desconhecem o que sejam as leis de Nurembergue, e 77% capitularam diante da questão "O que foi a Conferência de Wannsee?"

A polêmica Walser

O estudo de Ahlheim inspirou-se no debate suscitado, em 1998, pelo escritor alemão Martin Walser. Ao receber o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, este pediu o fim da "eterna representação" do passado nacional-socialista. O autor de Tod eines Kritikers (Morte de um crítico – lançamento previsto para 26/6, pela editora Suhrkamp) condenou a "instrumentalização de nossa vergonha para fins atuais" e "as patrulhas ideológicas armadas de porrete moral".

Entre aplauso e indignação, as declarações de Walser originaram uma polêmica que durou meses. Entre os opositores mais ferrenhos esteve Ignatz Bubis, então presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, que acusou o escritor de "incendiário intelectual". Bubis faleceu em 1999, amargurado pelo fato de que boa parte da população, inclusive dos intelectuais, preferia simplesmente esquecer o passado nazista e olhar para a frente.

A trajetória de escândalo intelectual não se encerra aí: antes mesmo de ser publicado, o Tod eines Kritikers de Walser vem gerando polêmica acirrada, devido a seu conteúdo supostamente anti-semita. Na próxima quinta-feira (13), o autor lerá pessoalmente, na televisão alemã, trechos do já tão controvertido romance.