EUA aprovam primeira e polêmica pílula de prevenção do vírus da aids
17 de julho de 2012A Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) aprovou nesta segunda-feira (16/07) a primeira droga destinada a reduzir o risco de infecção pelo vírus HIV. Apesar de celebrado como um marco na batalha contra o vírus, iniciada há 30 anos, o comprimido Truvada é também alvo de críticas.
O medicamento, fabricado pelo laboratório Gilead Sciences, é indicado para ser usado – sempre associado à prática de sexo seguro – para reduzir os riscos de infecção por HIV por contato sexual. O principal alvo são pessoas saudáveis com alto risco de infecção, como aquelas com um parceiro infectado pelo vírus.
Não se trata, portanto, de uma pílula de uso geral, mas de um medicamento para ser usado por pessoas que correm alto risco de se infectar, e seu uso deve ser feito como parte de uma estratégia de prevenção que inclua também a camisinha.
"Novos tratamentos, assim como métodos de prevenção, são necessários para lutar contra a epidemia de HIV", declarou Margaret Hamburg, comissária da FDA. Ela ressaltou que há 50 mil novos casos de infecção a cada ano nos Estados Unidos, apesar dos esforços para conter a difusão da doença.
Os EUA esperam reduzir o número de infecções em 25% até 2015. Aproximadamente 1,2 milhão de norte-americanos são portadores do vírus HIV, causador da aids caso não seja tratado com medicamento antirretrovirais.
No Brasil, desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2011, foram registrados 608.230 casos de aids (condição em que a doença já se manifestou), de acordo com o Boletim Epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde em 2011. Em 2010, foram registrados 34.218 casos da doença no país.
Estudos de sucesso
O Truvada, no mercado desde 2004, havia sido liberado anteriormente para o tratamento para pessoas infectadas pelo HIV para ser usada em combinação a outras drogas antirretrovirais.
Agora, a FDA aprovou o novo uso do medicamento baseando-se em dois estudos que mostraram que o Truvada reduz os riscos de contaminação por HIV.
O primeiro dos estudos, publicado em 2010 e que incluiu 2.499 homens homossexuais não infectados com o vírus do HIV, mostrou que a droga reduz em 73% o risco de infecção se tomada com regularidade.
O segundo estudo, de 2011, realizado com 4.758 casais heterossexuais em que um dos parceiros estava infectado pelo HIV e o outro não, mostrou que a Truvada reduziu o risco de infecção em 75%.
Falsa segurança
Críticos alertam para o fato de que a droga poderia dar a seus usuários uma falsa sensação de segurança e encorajar um comportamento sexual de risco. O uso do Truvada deve sempre ser acompanhado do uso de preservativos, alertam especialistas.
A FDA também afirma que a pílula deve ser usada como parte de uma estratégia de prevenção que inclui sexo seguro, aconselhamento para redução de riscos e exames regulares de HIV.
O órgão afirma que os estudos realizados não indicaram que o uso da pílula estimula a prática de sexo não seguro. "Não temos nenhuma evidência que mostre que preservativos não foram usados ou que houve um decréscimo de seu uso quando o Truvada foi utilizado", disse Debra Birnkrant, diretora da divisão de produtos antivirais da FDA.
É necessário também que o fabricante inclua um aviso alertando que o Truvada só deve ser utilizado por indivíduos que foram confirmados como não portadores do vírus HIV antes da prescrição da droga.
Médicos temem que pacientes já infectados pelo vírus do HIV se tornem resistentes ao medicamento ao ingeri-lo, tornando a doença mais difícil de ser tratada. O laboratório fabricante também alerta para efeitos colaterais, como problemas nos rins e no fígado.
Há ainda quem se preocupe com os custos elevados do medicamento – cerca de 14 mil dólares por ano. Especialistas dizem que, mesmo assim, o uso da droga pode sair barato se ela impedir pessoas de contrair a doença. O custo do tratamento vitalício para um indivíduo soropositivo é estimado em mais de 600 mil dólares.
"É caro, mas, por outro lado, é muito mais barato do que um tratamento vitalício contra o HIV", afirmou o médico Joel Gallant, da Universidade Johns Hopkins.
LPF/dpa/afpe/ape
Revisão: Alexandre Schossler