EUA buscam frear entrada ilegal de menores
27 de julho de 2014A reunião entre os presidentes de Honduras, Guatemala e El Salvador e Barack Obama, na sexta-feira (25/07) em Washington, pode ser interpretada como a mais recente tentativa do presidente americano de solucionar a situação dos milhares de imigrantes ilegais no sul do país.
O assunto vem despertando acaloradas discussões internas nos Estados Unidos e tornou-se uma politicamente explosivo no ano em curso, em que 50 mil crianças e adolescentes da América Central entraram ilegalmente nos EUA, através da fronteira do México.
Para Dan Restrepo, do Center for American Progress, o encontro teve a importante função de dar o pontapé inicial para uma gestão de crise mais decidida. "Este não é um problema que se possa ligar e desligar. Não se pode resolvê-lo a curto prazo, é preciso operar de maneira duradoura em sua dinâmica e suas complexas conjunturas."
Restrepo acredita que agora haverá discussões entre representantes do alto escalão, tanto nos EUA quanto nos três países centro-americanos afetados – e também entre eles. Ele espera que o vice-presidente americano, Joe Biden, presente à reunião da sexta-feira, também passe a participar regularmente das conversas.
Carl Meacham, do think tank Center for Strategic and International Studies, em Washington, acredita que os americanos ainda têm muito a fazer. "A política dos EUA [na América Central] foi muito inconsistente. Não houve muito engajamento, e isso hoje é parte do problema." Ele duvida que a cúpula dos presidentes, com poucos resultados concretos, vá isentar Obama de mais discussões políticas internas.
A estratégia montada pelos republicanos, de responsabilizar a política interna equivocada de Obama pela atual crise humanitária, parece mostrar efeito. Tanto o envio de forças de segurança pelo governador do estado do Texas, quando o fato de o próprio Obama ter encomendado um estudo sobre uma eventual intervenção da Guarda Nacional na fronteira, mostram quão explosiva a questão se tornou.
Busca de ajuda
O congressista republicano Charlie Dent, da Pensilvânia, estado onde foram construídos abrigos emergenciais para os menores centro-americanos, formulou para a DW o que a maioria oposicionista no Congresso esperava do encontro com os três chefes de Estado,Juan Orlando Hernández, Otto Pérez Molina e Salvador Sánchez Cerén: "Obama precisa deixar bem claro que essas crianças vão ser mandadas de volta."
De fato, o presidente americano mostrou firmeza, ameaçou com expulsões rápidas e interpretou como seus primeiros êxitos a recente queda do número de imigrantes. Dent, porém, faz uma outra exigência bem mais complicada de ser atendida. "Obama deveria dizer aos presidentes desses países que os EUA vão alterar a legislação para que essas crianças possam ser repatriadas imediatamente."
Isso implicaria, no entanto, a emenda da lei, promulgada pelo ex-presidente George W. Bush, que garante a imigrantes menores de idade, por exemplo, da América Central, o direito de serem ouvidos em audiência. E Obama e seus democratas não vão estar dispostos a dar esse passo.
Culpa dividida
Antes mesmo do encontro com o homólogo americano, os presidentes de Honduras, Guatemala e El Salvador haviam esquentado o debate, ao sugerir que os EUA também têm uma parcela de culpa no afluxo de menores de idade desacompanhados ao país, levados por organizações criminosas.
Carl Meacham admite a corresponsabilidade em pelo menos um ponto: "É certo que os EUA são um grande consumidor de drogas. Mas, por outro lado, é responsabilidade [dos países centro-americanos] garantir a segurança necessária."
No momento, as três nações são consideradas grandes focos de criminalidade, o que acaba compelindo crianças e adolescentes a querer deixá-los. O republicano Dent conta de sua conversa "com uma menina de cinco anos da América Central que chegou aos EUA sozinha. Mesmo sem saber nadar, ela atravessou rios perigosos e viajou no teto de um trem para o México e os EUA".
Oposição republicana como desafio
Até agora, o Partido Republicano de Charlie Dent se nega a aprovar a verba de 3,7 bilhões de dólares, solicitada por Obama, para lançar um programa de ajuda humanitária. O dinheiro seria aplicado em melhores abrigos, mais juízes de imigração e reforço na segurança das fronteiras. A oposição critica igualmente um projeto da gestão Obama para ajuda às crianças ainda em seus países de origem, a fim de evitar que optem pela perigosa jornada até os Estados Unidos.
Para Carl Meacham, a oposição total dos republicanos é um dos maiores desafios a serem vencidos. "As perturbações do sistema político são o outro grande obstáculo, juntamente com a atual problemática das fronteiras. Enquanto não conseguirmos alcançar um consenso, não apenas a situação na fronteira vai piorar, mas também o caos nos países da América Central", avalia o especialista.