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EUA e Europa pressionam Facebook a se explicar

21 de março de 2018

Enquanto perde bilhões em valor de mercado, companhia enfrenta cerco político para esclarecer como dados de milhões de usuários acabaram sendo usados para eleger Trump. Zuckerberg silencia.

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Facebook F8 Conference
Sede do Facebook na CalifórniaFoto: Getty Images/J. Sullivan

O Facebook está sendo pressionado a se explicar, dentro e fora dos Estados Unidos, após a revelação de que dados de milhões de usuários teriam sido coletados ilegalmente por uma consultoria britânica e depois usados na última campanha eleitoral americana, a favor do hoje presidente Donald Trump.

As autoridades reguladoras e promotores públicos americanos abriram investigações sobre o Facebook. Seu chefe e criador, Mark Zuckerberg, foi convocado por políticos na Europa e nos EUA a se explicar, enquanto investidores, temerosos do efeito do escândalo, derrubaram o valor da companhia em US$ 50 bilhões em apenas dois dias.

A questão ainda a ser respondida, como frisa o jornal The New York Times na edição desta quarta-feira (21/03): o Facebook usou realmente de forma indevida os dados de seus usuários; se não, quem o fez? Até agora, os mais altos executivos da companhia, incluindo Zuckerberg e sua vice, Sheryl Sandberg, silenciam sobre o caso.

De quem é a culpa?

O responsável pelo aplicativo usado para coletar as informações de milhões de perfis do Facebook disse nesta quarta-feira estar sendo usado como "bode expiatório” do escândalo.

O professor de psicologia da universidade britânica de Cambridge Aleksandr Kogan afirmou, em entrevista à BBC, que achava estar fazendo algo "perfeitamente legal" ao vender para a empresa de britânica consultoria digital Cambridge Analytica os dados que coletara. “A Cambridge Analytica nos garantiu que tudo era perfeitamente legal”, ressaltou.

O uso indevido das informações pessoais de 50 milhões de perfis do Facebook teria tido origem numa pesquisa elaborada na rede social através do aplicativo “This is you digital life”, desenvolvido por Kogan.

A enquete fez perguntas sobre a personalidade dos usuários. Cerca de 270 mil pessoas participaram. Antes de responder à primeira questão, elas precisavam permitir que o realizador da sondagem acessasse não só seus perfis do Facebook, mas também o de seus contatos. Assim, Kogan acabou tendo acesso a um imenso banco de dados que teria transmitido à Cambridge Analytica.

Acionistas desembarcam

Acionistas e usuários aumentaramm a pressão sobre o Facebook devido ao escândalo de uso de dados. Investidores venderam ações e foram à Justiça contra a empresa. Usuários lançaram uma petição para que a rede não transmita dados pessoais de seus membros.

Acionistas entraram com queixa em um tribunal federal em São Francisco, nos EUA, contra o Facebook, acusando a rede social de fazer "declarações falsas e enganosas" sobre a política da empresa.

Os acionistas argumentam que o Facebook deveria comunicar ter permitido acesso de terceiros a dados de milhões de usuários sem a permissão deles. O fato de a empresa não ter feito isso mais cedo teria causado prejuízos aos acionistas.

Usuários da rede exigem, em uma petição da Fundação Mozilla, que o Facebook faça mais para proteger os dados e respeitar seus usuários.

As ações do Facebook despencaram, perdendo cerca de 20% de seu valor desde a revelação do escândalo de uso de dados e os negócios do grupo com a empresa britânica Cambridge Analytica. Só nos últimos dois dias, a rede social perdeu quase US$ 50 bilhões em valor de mercado.

Já o Facebook se diz vítima. "A empresa inteira está escandalizada porque fomos enganados. Estamos comprometidos em fortalecer vigorosamente as nossas políticas para proteger a informação das pessoas e daremos os passos necessários para conseguir isso", prometeu a rede social, em comunicado divulgado à imprensa. Nele, o Facebook rejeita ter algo a ver com as atividades da Cambridge Analytica, reconhece a gravidade da situação e afirma estar trabalhando para coletar todos os fatos e tomar as ações apropriadas.

O escândalo começou no último fim de semana, quando foi relevado que a empresa de análise de dados Cambridge Analytica, sediada no Reino Unido, teria usado dados de usuários do Facebook para ajudar Donald Trump a vencer a eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos.

Os jornais The New York Times e The Observer divulgaram o esquema de coleta e venda de informações de mais de 50 milhões de usuários da plataforma. A Cambridge Analytica nega qualquer irregularidade.

UE e EUA abrem inquéritos

A coleta de dados pela Cambridge Analytica desencadeou pedidos por investigações da União Europeia, assim como de autoridades federais e estaduais dos Estados Unidos. Um comitê parlamentar britânico convocou o fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, a responder a questionamentos sobre o caso.

Diante do escândalo, a Cambridge Analytica suspendeu seu presidente-executivo, Alexander Nix, enquanto aguarda uma investigação independente sobre o caso. Uma reportagem da emissora britânica Channel 4 mostrou Nix discutindo com potenciais clientes maneiras de influenciar eleições.

No programa, Nix descreve, diante de câmeras escondidas, práticas questionáveis usadas
para influenciar eleições estrangeiras e diz que sua empresa fez todas as pesquisas, análises e targeting de eleitores para as campanhas de TV e digital de Trump. Ele também se vangloria de ter encontrado "muitas vezes" Trump, quando ainda era candidato presidencial republicano.

Jared Kushner, o genro de Trump e agora assessor do presidente, supervisionou as operações digitais da campanha de Trump. Um ex-conselheiro de Trump disse que Kushner é que levou a Cambridge Analytica à campanha presidencial de 2016. O advogado de Kushner não fez imediatamente responda a um pedido de comentário.

Christopher Wylie, ex-funcionário e denunciante da Cambridge Analytica, disse ao jornal The Washington Post na terça-feira que em 2014 o estrategista conservador Steve Bannon, que viria a se tornar assessor da Casa Branca, supervisionou os primeiros esforços da empresa para coletar dados do Facebook para formar um banco de dados com perfis detalhados de milhões de eleitores americanos.

Bannon aprovou gastar quase 1 milhão de dólares para adquirir dados, incluindo de perfis do Facebook, em 2014, segundo Wylie. Segundo o jornal americano, não está claro se Bannon sabia como a Cambridge Analytica teve acesso aos dados do Facebook.

MD/efe/rtr/dpa

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