EUA e oposição síria veem com ceticismo o recuo de Assad
28 de março de 2012A oposição síria manifestou ceticismo diante do anúncio de que o presidente Bashar al Assad teria aceitado um plano de paz proposto pelo enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe, Kofi Annan.
"Nós não confiamos nesse regime", disse o líder oposicionista Waid Al-Buni em Istambul, nesta terça-feira (27/03). "Se ele [Assad] realmente está falando sério, deve pôr isso em prática amanhã. Amanhã não deve mais haver tanques nas ruas e os militares do regime sírio devem ter se retirado. Só amanhã veremos se o regime é realmente honesto", completou o líder da oposição.
Também a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, disse que a aprovação do plano de paz deve ser acompanhada por ações imediatas, como um cessar-fogo. Quando questionada sobre a credibilidade das palavras de Assad, ela relembrou o histórico do líder sírio de "prometer muito e não cumprir com suas palavras".
"Vamos julgar a sinceridade e o compromisso de Assad pelo o que ele faz, não pelo que diz", afirmou Clinton, que, a exemplo da Liga Árabe e da Turquia, pressionou as várias alas da oposição síria a se unirem.
Outras nações ocidentais também receberam a notícia com cautela. O ministro britânico do Exterior, William Hague, disse em Londres que a aprovação do plano pode ser "o primeiro passo significativo" para acabar com a repressão. "Mas só se [o gesto] for realmente honesto", disse Hague. "Este não foi o caso com os compromissos anteriores do regime."
Oposição escolhe representante
Os grupos de oposição da Síria concordaram nesta terça-feira, numa reunião em Istambul, em nomear o Conselho Nacional Sírio (SNC) seu único representante. Segundo uma declaração divulgada ao final de um encontro de dois dias, "a conferência decidiu que o SNC é o interlocutor e representante formal do povo sírio".
Estavam presente no encontro cerca de 400 opositores do regime de Assad, que comprometeram-se com "uma reestruturação do SNC e a formação de uma comissão preparatória pra escrever um novo estatuto para o Conselho".
A grande maioria da oposição presente assinou a declaração, exceto alguns representantes sírios curdos insatisfeitos com a ausência de uma referência a um assentamento para eles.
Plano de paz
O enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe disse que seu plano consiste na retirada de artilharia pesada e das tropas nos centros populacionais, assistência humanitária sem restrições, liberação de prisioneiros, liberdade de movimento e livre acesso aos jornalistas.
As Nações Unidas estimam que mais de 9 mil pessoas foram mortas na Síria desde o início da repressão às manifestações oposicionistas, há pouco mais de um ano. As autoridades sírias culpam terroristas estrangeiros pela violência e pelas mortes de 3 mil soldados e policiais.
AKS/afp/rtr
Revisão: Alexandre Schossler