EUA e Rússia trocam acusações de nova corrida armamentista
23 de agosto de 2019Representantes da Rússia e dos Estados Unidos trocaram acusações nesta quinta-feira (22/08), no Conselho de Segurança da ONU, de que ambos os países estariam promovendo uma nova corrida armamentista após abandonarem o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF).
A reunião do Conselho de Segurança foi convocada por Moscou após Washington ter testado nesta semana um míssil de cruzeiro, um tipo de armamento que estaria proibido se ambos os países ainda fossem signatários do INF.
O vice-embaixador da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, acusou os EUA de estarem "prontos para uma corrida armamentista". Ele criticou o que chamou de "hipocrisia" de Washington, acusando o país de ter violado "consistentemente e deliberadamente o INF", o que, segundo afirma, foi provado com a realização do teste em 18 de agosto.
O russo ainda acusou países europeus parceiros dos EUA na Otan e representados no Conselho de Segurança – Alemanha, Reino Unido, França, Bélgica e Polônia – de tolerarem as ações americanas. "Passo a passo, vocês retrocedem à situação histórica em que mísseis eram apontados de locais diferentes para cidades europeias."
"Da nossa parte, não seremos os primeiros a adotar tais medidas", ressaltou Polyanskiy. "Entretanto, considerando que nossos colegas americanos estão claramente esfregando as mãos e querendo exibir seus músculos, é possível que essa situação [...] possa ocorrer em breve."
O vice-embaixador russo pediu aos europeus que se deem conta de que, "em razão das ambições geopolíticas dos EUA, todos estamos a um passo de uma corrida armamentista que não poderá ser controlada ou regulada de nenhuma forma". Ele disse, contudo, que seu país estaria pronto para um "diálogo sério" sobre o controle de armas.
Por sua vez, o embaixador interino dos EUA na ONU, Jonathan Cohen, disse que a Rússia representa uma ameaça à paz e segurança internacional e acusou o país de tentar desenvolver "novas armas nucleares estratégicas". Segundo o americano, esses armamentos incluiriam um drone nuclear subaquático "projetado para destruir cidades costeiras e portos com uma onda radioativa", além de mísseis nucleares e balísticos de alcance intercontinental.
Cohen acusou Moscou de ter decidido há mais de uma década romper as obrigações estabelecidas pelo INF e de já ter colocado de prontidão vários batalhões de operação de misseis de cruzeiro "com a capacidade de atingir alvos críticos na Europa".
"A Federação Russa e a China ainda desejam um mundo onde os Estados Unidos exercitem o autocontrole enquanto eles continuam seu acúmulo de armas sem abrandamento e sem pudor", afirmou Cohen. "Os testes dos EUA para desenvolver capacidades convencionais de lançamento de solo não são provocativos ou desestabilizadores, Nós não ficaremos inertes."
Países aliados dos Estados Unidos na Otan apoiaram as declarações de Cohen, com a vice-embaixadora francesa, Anne Gueguen, culpando a Rússia pelo fim do INF. O britânico Stephen Hickey disse que as ações russas estão em linha com um "padrão de agressões que representam uma clara ameaça à paz e segurança internacional" e comprometem a alegação de que a Rússia seria um "parceiro internacional sério".
O armamento testado pelos EUA no último domingo foi uma versão com capacidade nuclear do míssil de cruzeiro Tomahawk. Esse tipo de arma nuclear havia sido retirado de serviço antes de os dois países abandonarem o INF, em 2 de agosto, e se acusarem mutuamente de violações.
O teste americano ocorreu dias após uma explosão acidental num local de testes russo, que alguns especialistas disseram estar associada a uma tentativa de Moscou de desenvolver mísseis nucleares. O incidente matou cinco cientistas e gerou um aumento no nível de radiação no local. As autoridades russas não se pronunciaram sobre as causas da explosão.
"O que de fato aconteceu em 8 de agosto na Rússia? O que causou a explosão, de qual sistema se tratava e a qual propósito servia?", questionou Cohen. O americano disse que seu país tem interesse em um "controle armamentista sério", que incluiria a China e iria "além dos tratados que se concentram em modelos limitados de armas nucleares ou no alcance dos mísseis".
Por sua vez, o embaixador da China na ONU, Zhang Jun, disse que seu país não tem interesse em tomar parte em nenhum tratado de controle de armas com os EUA e a Rússia.
RC/afp/ap
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