EUA
2 de agosto de 2011Algumas horas farão a diferença entre a salvação e o calote na história dos Estados Unidos. Nesta terça-feira (02/08), o Senado deve aprovar o acordo que aumenta o teto da dívida do país, hoje em 14,3 trilhões de dólares – apenas algumas horas antes de a capacidade de empréstimo do Tesouro se esgotar.
A elevação do valor da dívida deve ser suficiente para que os Estados Unidos não estourem a conta pública até novembro de 2012, quando acontecem eleições presidenciais. E assim chega ao fim o debate intenso entre os partidos, que paralisou Washington por semanas e trouxe nervosismos aos mercados – já tensos devido à fraca economia norte-americana e à crise da dívida pública na Europa.
Drama e falta consenso
A votação no Senado, programada para começar às 12h (horário local) desta terça-feira, deve ser menos dramática do que a sessão na Câmara dos Representantes desta segunda-feira. Apesar de todo o protesto prévio, o plano foi aprovado por 269 deputados – eram necessários 216 votos. Outros 161 votaram contra.
Para muitos especialistas, o pior legado desta batalha é a polarização no Congresso norte-americano. A dificuldade em se chegar a um acordo que evitasse o calote norte-americano, fato que prejudicaria qualquer cidadão do país, independentemente de sua orientação política e renda, dá indicações de uma grande disfunção.
Um fator de grande significado que influenciou a paralisia do órgão foi um grupo de legisladores republicados na Casa dos Representantes afiliado ao chamado Tea Party, um movimento conservador no tocante a assuntos fiscais.
O grupo se opõe ferozmente a qualquer tipo de aumento de impostos e do orçamento, e também demonstra grande desconfiança nas "normas e tradições, no partido da oposição e seus líderes, nos grandes bancos, nas elites e pessoas que gerenciam o país e a economia", comenta Stu Rothenberg, analista político norte-americano apartidário.
No Congresso, 60 legisladores são associados ao Tea Party, o que corresponde a um nono dos votos da casa. No entanto, eles conseguem parar a discussão política em Washington porque na Câmara dos Representantes são suficientes para bloquear o plano de limite da dívida que incluía aumento de impostos.
Entre o desejado e o acordado
O presidente Barack Obama pretendia negociar um grande acordo para cortar cerca de 4 trilhões de dólares em custos e equilibrar as contas do país – além de acabar com a burocracia, o desperdício e as armas desnecessárias, mas com grande proteção social.
Mas o que saiu não foi bem o que o presidente desejava. Em vez dos 4 trilhões, apenas 1 trilhão de dólares foi cortado, embora a lei diga que 1,5 trilhão ainda possa ser economizado. Uma comissão foi criada para recomendar outros cortes no orçamento. Mas se esse grupo não encontrar soluções, serão automaticamente diminuídos gastos nas áreas militar e social.
Obama também precisa lidar com a derrota em outro tema: aumento de impostos. O presidente pretendia criar uma lei que obrigasse empresários, gerenciadoras de fundos e a indústria do petróleo a desembolsar mais. Mas a discussão voltou a sair da pauta.
Repercussão
Na China, a opinião é que o débito norte-americano continua uma ameaça à economia global, dizia a manchete do principal jornal oficial, People´s Daily. Como maior credor dos Estados Unidos, o país asiático pediu repetidamente que Washington protegesse os investimentos em dólares, que correspondem a 70% dos 3,2 trilhões das reservas internacionais chinesas.
Na opinião do jornal, a credibilidade do Tesouro norte-americano está sendo prejudicada desde o início da crise imobiliária, mas outras economias continuam sem opção à dependência do dólar.
Frederick Kempe, presidente do Atlantic Council, think tank com base em Washington, tem opinião semelhante. "Apesar de a ameaça de calote ter sido resolvida, muitos danos foram perpetrados. Uma parte da confiança nos Estados Unidos se perdeu, mesmo que as agências de rating não diminuam sua nota, os chineses e outros já o fizeram", comenta.
Para o especialista, os danos ainda serão sentidos a longo prazo, e demonstram uma fragilidade do mundo ocidental: "É uma crise dupla para o Ocidente, quando se considera também a crise na zona do euro".
NP/rts/dpa/dw
Revisão: Roselaine Wandscheer