EUA querem se juntar aos primos pobres na Alca
12 de janeiro de 2004A zona de livre comércio com 870 milhões de consumidores espalhados do Alasca à Terra Fogo, questionada principalmente pelo Brasil e a Venezuela, é o tema principal da Cúpula Extraordinária das Américas, em Monterrey, no México. Só falta o presidente Fidel Castro, porque Cuba não faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA).
As medidas de segurança são fora do comum e especialmente reforçadas com a chegada do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, não só para prevenir atentados terroristas, mas também por causa de protestos de adversários da globalização. O centro de convenções e os hotéis onde se hospedam os chefes de Estado foram transformados em fortalezas. Para um protesto contra a zona de livre comércio entre os EUA, Canadá e México (Nafta), estão sendo esperados no mínimo dez mil adversários de "globofóbicos".
Primos pobres
- As diferenças entre os parceiros na futura Alca não poderiam ser mais extremas. Em termos de tamanho de Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil é o terceiro primo pobre dos Estados Unidos, com US$ 450 bilhões. À sua frente estão o Canadá, com US$ 720 bilhões, e o México, com US$ 640 bilhões.No comércio, os EUA são também, indiscutivelmente, o gigante no continente americano. Suas exportações somaram US$ 974 bilhões em 2002, quantia sete vezes maior que as do México, 20 vezes maior que o volume das exportações do Brasil e duas mil vezes maior que as do Haiti.
Os cidadãos latino-americanos mais ricos são, pela ordem, os chilenos, os mexicanos e os brasileiros. Com uma renda per capita de US$ 37 mil, os cidadãos norte-americanos são cinco vezes mais ricos que os brasileiros, com apenas US$ 7600. A renda média anual dos chilenos é de US$ 10 mil e a dos mexicanos, US$ 9 mil. Os canadenses formam o segundo povo mais rico do continente, com média de US$ 29.400. Os mais pobres são os haitianos, com US$ 1700, e os bolivianos, com US$ 2300.
Em virtude das diferenças extremamente grandes entre a superpotência mundial e os parceiros na futura Alca, e também com medo da concorrência dos exportadores americanos altamente subsidiados, o Brasil e outros vizinhos queriam que a cúpula de Monterrey discutisse só temas sociais. O momento não seria adequado para se tratar de assuntos relacionados à criação da Alca.
Recuperação de terreno
- O presidente Bush quer aproveitar a conferência também para reconquistar terreno perdido nos vizinhos do sul, onde cada vez mais países rejeitam a dominância tradicional de Washington, destacadamente o Brasil e a Venezuela. Além disso, a reputação dos EUA sofreu sérios danos com a guerra no Iraque, diz o analista mexicano Frederico Reys:"Os interesses dos EUA na América Latina chegaram a quase zero, desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, porque Washington passou a ver suas prioridades em outras regiões. E, ao mesmo tempo, cresceu entre as populações latino-americanas o sentimento de rejeição dos EUA."
É incerto se as tensões entre o irmão rico do norte com os pobres do sul vão diminuir nestes dois dias de duração da Cúpula Extraordinária das Américas, pois os interesses são diferentes. Os representantes dos EUA querem discutir também sobre liberalização da economia, corrupção e medidas para combater o terrorismo internacional. Mas países como Brasil, Argentina e Venezuela fazem questão que o combate à pobreza seja o centro dos debates, como foi combinado inicialmente.