Euro fraco pode estimular economia da UE, mas oferece riscos
5 de janeiro de 2015Em março de 2014, 1 euro valia 1,39 dólar; em setembro, 1,29 dólar; agora, apenas 1,19 dólar. Após meses de desvalorização contínua, a moeda comum europeia chegou a seu valor mínimo em relação à americana desde 2006.
O desdobramento não foi uma surpresa. Enquanto o Federal Reserve dos Estados Unidos trabalha em direção a uma elevação dos juros dentro em breve, o Banco Central Europeu (BCE) segue apostando numa política de "dinheiro barato", pois nos EUA houve forte aceleração da economia, enquanto que, na zona do euro, o crescimento continua moderado e precisando de apoio.
"Em princípio está acontecendo o que muitos analistas prediziam, o tempo todo", comenta Stefan Schneider, economista do Deutsche Bank, em entrevista à DW. Para analistas, nos próximos anos a cotação das duas moedas tende à paridade, sendo bem possível que, dentro de algum tempo, o euro esteja valendo 1 dólar.
Mas os europeus não precisam se preocupar com a queda do euro, complementa Schneider. Pelo contrário: a moeda barata torna mais atraente comprar da Europa; nações exportadoras, como a Alemanha, se beneficiam disso. As empresas europeias ganham competitividade também em relação ao Japão, onde houve uma forte desvalorização monetária nos últimos anos.
Ponto para o BCE de Draghi
Um euro fraco vai também ao encontro dos interesses do BCE. Em entrevista ao jornal Handelsblatt, na última semana, o presidente da instituição, Mario Draghi, observou que a cotação não é uma meta central da política de seu banco, contudo é importante para a estabilidade de preços e o crescimento.
A fim de garantir a estabilidade de preços – ou seja, impedir a deflação – estariam em curso preparativos para "medidas adicionais eventualmente necessárias", revelou Draghi. Alguns analistas inferiram aqui uma referência à disposição do BCE de comprar títulos de dívida pública em grande escala.
Tais especulações precipitam ainda mais a queda do euro, da mesma forma que o medo do fim da política de austeridade na Grécia, ou da saída do país da zona do euro.
A três semanas das eleições legislativas gregas, o partido de esquerda Syriza, de Alexis Tsipras, lidera claramente as pesquisas de intenção de voto. Ele promete dar fim ao curso de austeridade e reformas, além de exigir, dos credores internacionais da Grécia, um corte de dívidas – o que equivaleria a uma rescisão dos acertos com as instâncias doadoras.
Segundo noticiou a revista Der Spiegel, o governo alemão considera quase inevitável o país altamente endividado abandonar a comunidade monetária caso revogue a política de austeridade após as eleições parlamentares.
"A discussão a respeito da Grécia, neste ponto, é bem elementar: psicologicamente, é uma grande carga, e se reflete nos mercados de finanças", observa Folker Hellmeyer, analista-chefe do Bremer Landesbank. "Isso combina também, é claro, com a concepção do Sr. Draghi. A intenção é ter um euro mais fraco, e assim influenciar positivamente as economias, sobretudo na Europa Meridional."
Ameaça de nova crise monetária
A baixa cotação do euro não prejudica apenas os europeus que viajam para os Estados Unidos: também os produtos importados de fora da Europa poderão ficar mais caros, como, por exemplo, computadores vindos da Ásia.
Também os investidores estrangeiros que optaram pela zona do euro estão tendo prejuízos com a queda da moeda, acrescenta o analista de finanças Christoph Zwermann, que teme uma desvalorização continuada. "Aí vamos ver que o euro pode cair muito mais rápido do que se gostaria", comenta.
"É possível que isso desencadeie uma nova crise do euro, simplesmente por se desfazer a confiança nele ou na União Europeia", prossegue Zwermann, para quem uma perda de credibilidade é decididamente mais perigosa do que viver com um euro forte. "Os grandes exportadores alemães se acertam com o euro a 1,40 dólar e ainda permanecem competitivos", assegura.