Eurogrupo libera nova parcela de ajuda e acerta plano para a Grécia
27 de novembro de 2012Foram necessárias três tentativas e longas sessões noturnas para se chegar a um acordo. Mas, ao contrário da reunião fracassada da última semana, desta vez as olheiras dos participantes não eram tão visíveis e o alívio ao fim da jornada, bem maior.
O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, declarou à imprensa, em tom algo patético, que se trata de muito mais do que apenas dinheiro – o acordo selado é a promessa de um futuro melhor para o povo grego e para toda a zona do euro. E o comissário para assuntos monetários da União Europeia (UE), Olli Rehn, acrescentou que a zona do euro passou por um teste de credibilidade no qual não poderia falhar.
Sem corte da dívida
Para amenizar o peso das dívidas gregas, os Estados da zona do euro aprovaram, entre outras medidas, uma redução dos juros, prazos maiores para quitação, bem como o repasse de lucros obtidos com títulos gregos ao próprio país.
Mas a reivindicação da presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, de que os Estados renunciassem a uma parte do valor já emprestado – em outras palavras, um corte da dívida – foi rejeitada pelos países da zona do euro, sobretudo pela Alemanha.
O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, já havia descartado essa sugestão logo ao chegar a Bruxelas, argumentando que os países da zona do euro já estão dando garantias à Grécia. "Não se pode garantir algo e, ao mesmo tempo, executar um corte da dívida", afirmou. Ele disse ser um mau hábito da mídia ficar insistindo que essa seria uma posição tipicamente alemã. "Isso acontece com todos os países da zona do euro", completou Schäuble.
Apesar de tudo, Lagarde parecia satisfeita ao fim das negociações. Segundo ela, o mais importante, para o FMI, era chegar a um nível de endividamento suportável para a Grécia. Para isso, os parceiros europeus deveriam fazer o necessário. "Posso dizer que isso foi alcançado."
Plano ambicioso de redução da dívida
Com as novas medidas para ajudar os gregos, aliadas a mais esforços da Grécia para implementar reformas, os credores esperam que o endividamento do país atinja seu ápice em 2016, mas que depois caia para 124% do PIB até 2020 e fique abaixo dos 110% em 2022. Hoje ele está beirando os 190%.
O patamar de 120% é considerado suportável por um país, embora seja o dobro do limite máximo previsto no pacto de estabilidade da UE.
Sobretudo a sensível redução planejada para ocorrer entre 2020 e 2022 é considerada por demais ambiciosa e, em função do futuro longínquo, difícil de ser calculada com exatidão. A economia grega caiu fortemente nos últimos anos, e é difícil saber como ela vai se comportar daqui a uma década.
Os próprios ministros das Finanças da zona do euro não confiam plenamente nos seus planos, como pode ser subentendido de uma declaração de Schäuble: "Dependendo da situação, iremos debater novas medidas de redução do endividamento", disse o ministro alemão.
Críticos afirmam que, mais cedo ou mais tarde, o corte da dívida virá, às custas dos contribuintes europeus, e que Schäuble torce para que isso só fique claro depois das eleições parlamentares na Alemanha, a serem realizadas em setembro de 2013.
Elogios à Grécia
De qualquer forma, os ministros das Finanças não pouparam elogios aos esforços de Atenas para implementar reformas e medidas de austeridade. A ministra austríaca das Finanças, Maria Fekter, que anteriormente havia feito comentários negativos sobre o governo grego, afirmou que a Grécia tem se esforçado muito. "Na verdade, não temos, no momento, nada a reclamar."
Apesar disso, ela parece não confiar muito na paz entre os dois lados. "Haverá um controle de acompanhamento, tanto no que diz respeito aos gastos, quanto às reformas estruturais." Já o ministro Schäuble afirmou que irá apresentar a nova proposta ao Parlamento alemão com a consciência limpa. O Bundestag, bem como outros parlamentos europeus, ainda terão que aprovar o que foi decidido em Bruxelas. Depois disso, a atual parcela do pacote de auxílio à Grécia, de 43,7 bilhões de euros, poderá ser definitivamente liberada, em meados de dezembro.
Autor: Christoph Hasselbach (sv)
Revisão: Alexandre Schossler