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Europa prepara planos para a Ucrânia antes da posse de Trump

20 de dezembro de 2024

Líderes da UE avaliam formas de apoiar Kiev nos meses potencialmente caóticos que se seguirão à posse de Trump. Zelenski quer que o bloco trabalhe junto com os Estados Unidos.

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O presidente ucraniano Volodimir Zelenski
Zelenski pede apoio conjunto de EUA e União EuropeiaFoto: John Thys/AFP

Apelos à unidade da União Europeia são um refrão comum nas cúpulas do bloco, muitas vezes emitidos por funcionários exaustos de Bruxelas às 3 da manhã, enquanto tentam desesperadamente chegar a um acordo entre os 27 Estados-membros.

Mas, desta vez, o apelo partiu do presidente ucraniano, feito durante a cúpula de líderes da UE nesta quinta-feira (19/12) e em uma reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na noite anterior. "É muito importante que a voz da Europa seja uma voz unida", disse Volodimir Zelenski aos repórteres. "E que ela esteja unida aos EUA", enfatizou.

É um importante teste para a União Europeia — que, juntamente com os aliados ocidentais, gastou mais de 100 bilhões de euros (R$ 641 bilhões) armando e ajudando Kiev desde que a Rússia invadiu o país há quase três anos.

Trump pressiona por acordo

O retorno do imprevisível republicano Donald Trump à Casa Branca em janeiro deve abalar as relações transatlânticas, principalmente no que diz respeito ao apoio do Ocidente à Ucrânia. Trump tem prometido acabar imediatamente com a guerra, sem até agora especificar como.

Trump indicou várias vezes que poderia reduzir o apoio à Ucrânia e pressionar Zelenski em direção a um acordo.

Trator retira destroços após bomba em cidade ucraniana
Ucrânia vê guerra indefinida mais de mil dias após início do conflitoFoto: Dmytro Smolienko/Avalon/Photoshot/picture alliance

Figuras próximas ao republicano sugerem que a Ucrânia deveria ceder os territórios do leste já ocupados pela Rússia e desistir de suas ambições de entrar para a Otan. É altamente improvável que ambas as perspectivas sejam aceitas em Kiev.

Perguntado sobre o que pensa da posse de Trump, Zelenski disse que o republicano é um "homem forte". "Eu quero ter ele do nosso lado", afirmou.

Zelenski tem motivos para agir com cautela. O Instituto Kiel para a Economia Global calculou que, sem novos pacotes de ajuda dos EUA, a ajuda militar total do Ocidente no próximo ano poderia cair de 59 bilhões de euros para 34 bilhões de euros (de R$ 378 bilhões a R$ 218 bilhões).

Chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas rechaçou pressões para que Kiev se sente à mesa com Moscou. "Qualquer pressão para negociações muito cedo será, na verdade, um mau negócio para a Ucrânia", disse . "Todos os outros atores do mundo estão observando atentamente como agimos nesse caso e, portanto, precisamos realmente ser fortes."

A chefe de diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas
Chefe de diplomacia da UE, Kaja Kallas, é contra pressão por acordo às pressas entre Ucrânia e Rússia Foto: John Thys/AFP/Getty Images

Segurança pós-conflito

A UE também tem se questionado sobre como garantir a segurança da Ucrânia no futuro. O presidente francês Emmanuel Macron– que não participou da reunião em Bruxelas devido à crise no território ultramarino francês de Mayotte, devastado por ciclones –  estaria cogitando enviar tropas europeias para a Ucrânia como forças de manutenção da paz, assim que o conflito terminar.

Mas vários líderes, incluindo o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro holandês, Dick Schoof, consideram essas conversas prematuras.

"Acho completamente inapropriado que alguns estejam agora discutindo o que deve acontecer como terceiro e quarto passos", disse Scholz na quinta-feira.

"Agora estamos pensando no que acontecerá em breve. Por enquanto, o apoio contínuo à Ucrânia é importante aqui. Um curso claro para que não haja uma escalada de guerra, para que não se transforme em guerra entre a Rússia e a Otan", disse ele.

Uma voz discordante foi a do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, mais próximo de Vladimir Putin. Orban propôs um cessar-fogo até o Natal — ideia rechaçada por Zelenski.

Apoio europeu não resolve impasse, diz Zelenski

Zelenski vê a adesão à Otan como a única opção para manter a Ucrânia segura no longo prazo. Moscou mantém uma oposição veemente à adesão do antigo país soviético à aliança militar ocidental, seu adversário desde a Guerra Fria.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, durante encontro no início de dezembro em Paris
Em entrevista recente, Trump cogitou saída da Otan e cortar ajuda à UcrâniaFoto: Sarah Meyssonnier/AFP

"Acredito que as garantias europeias não serão suficientes para a Ucrânia", disse Zelenski. "É impossível discutir isso apenas com os líderes europeus, porque, para nós, as garantias reais em qualquer caso — hoje ou no futuro — são a Otan", disse ele.

"No caminho para a Otan, queremos garantias de segurança enquanto não estivermos na Otan. E podemos discutir essas garantias separadamente com os EUA e com a Europa", disse Zelensky, ao mesmo tempo em que expressou um apoio cauteloso ao envio à Ucrânia de eventuais tropas europeias de manutenção da paz.

A UE reconfirmou, em nota, seu "compromisso inabalável de fornecer apoio político, financeiro, econômico, humanitário, militar e diplomático contínuo à Ucrânia e ao seu povo pelo tempo que for necessário e com a intensidade necessária".

"Hora da verdade" se aproxima

Analistas vêm alertando há meses que a UE deve estar preparada para intensificar sua política de segurança nos próximos meses.

"A primeira vítima do segundo mandato de Donald Trump como presidente dos EUA provavelmente será a Ucrânia. As únicas pessoas que podem evitar esse desastre somos nós, europeus, mas nosso continente está em desordem", escreveu o historiador Timothy Garton Ash para o grupo de reflexão do Conselho Europeu de Relações Exteriores no mês passado.

"A menos que a Europa possa, de alguma forma, enfrentar o desafio, não apenas a Ucrânia, mas todo o continente ficará fraco, dividido e irritado ao entrarmos em um novo e perigoso período da história europeia", alertou Garton Ash.