Eventos esportivos dão visibilidade tanto a governos quanto à oposição
19 de junho de 2012
Pomposas cerimônias de abertura, estádios modernos, torcidas agitadas e estrelas mundialmente conhecidas. Jogos Olímpicos e outros torneios internacionais são uma boa forma de publicidade para os países que os realizam. Estes eventos estimulam o turismo, e muitas vezes líderes mundiais homenageiam o país anfitrião com sua visita.
Muito regimes reconhecem nesses eventos esportivos uma oportunidade ideal para melhorar sua reputação no panorama internacional, entre eles os autocráticos. "O governante autocrático vê nesses grandes eventos um meio de cuidar de sua imagem", diz Wenzel Michalski, diretor do escritório alemão da ONG Human Rights Watch. Segundo Michalski, esses grandes acontecimentos ajudam a mostrar ao mundo e à própria população que o país em questão não é tão sombrio quanto seus adversários o mostram, que há nele uma vida colorida, pessoas felizes, e que todo mundo vai ao lugar, prestar homenagem ao país e a seu governo. "Os dirigentes dão diversão ao povo, para evitar que ele se revolte."
Ditadores amantes do esporte
Isso não é um fenômeno novo. Ansgar Molzberger, historiador especializado em esporte da Universidade do Esporte de Colônia, lembra as Olimpíadas de Seul em 1988, a Copa do Mundo na Argentina em 1978 e as Olimpíadas de 1968, na Cidade do México, a qual foi precedida por uma sangrenta repressão a protestos de estudantes. Entretanto, ele destaca um evento em particular. "Os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 são um exemplo de como a ditadura nazista usou um grande evento esportivo para desviar a atenção da realidade alemã", lembra.
Molzberger observa, porém, que as sedes da atual Eurocopa foram decididas em 2007, quando a Ucrânia ainda vivia um renascimento democrático sob Viktor Yushchenko e Julia Timoshenko.
"Critérios importantes para que um país seja escolhido como sede de grandes eventos esportivos é que o maior número de Estados possível seja palco dos jogos e que o país anfitrião seja capaz de enfrentar o desafio”, diz Molzberger. Por exemplo, deve haver um número suficiente de estádios e uma infraestrutura bem desenvolvida. Entretanto, o sistema de escolha tanto no Comitê Olímpico Internacional (COI), como na federação mundial de futebol Fifa e na europeia Uefa são muito complexos e pouco transparentes. Boatos de vendas de votos aparecem regularmente, mas raramente são comprovados.
Ativistas também se beneficam
O COI e a Fifa costumam justificar a escolha de Estados autocráticos para sediar eventos desportivos afirmando que o esporte pode construir pontes e, assim, indiretamente conduzir a uma melhor situação dos direitos humanos no país. Mesmo ativistas de direitos humanos, como Wenzel Michalski da Human Rights Watch, reconhecem possíveis efeitos positivos. "Os grandes eventos podem servir para que ONGs e políticos críticos chamem a atenção para violações de direitos humanos que normalmente recebem pouca atenção do resto do mundo." Isso, segundo ele, pode contribuir para aumentar a pressão internacional sobre um governo.
Realmente, os Jogos Olímpicos de Pequim parecem ter servido principalmente de palco onde a oposição chamou atenção para suas reivindicações, como também é o caso agora na Eurocopa, na Ucrânia. As imagens de protestos de monges tibetanos circularam o mundo da mesma forma que as fotos de uma doente Julia Timoshenko presa. Elas ficam gravadas mais fortemente na memória da opinião pública mundial do que as imagens do respectivo governo. Mas essa presença da oposição na mídia, em geral, não contribui para a democratização de um país.
Câmeras se vão
A Coreia do Sul foi uma exceção. "No exemplo de Seul está provado que desde a escolha do país, em 1981, até a realização dos Jogos houve um processo de democratização na Coreia do Sul", diz o historiador esportivo Ansgar Molzberger. Os olhos atentos da opinião pública mundial, dirigidos ao país devido aos Jogos Olímpicos, foi um fator importante para esse desenvolvimento, segundo o especialista. Ao passo que os Jogos de Pequim em 2008 de Berlim em 1936 e a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, são exemplos contrários.
Na opinião de Wenzel Michalski, na maioria dos casos os eventos esportivos não conduziram a uma profunda mudança porque as câmeras vão embora dos países juntamente com os atletas. Ele observa, no entanto, que eles tiveram alguns efeitos a curto ou médio prazo no que diz respeito a alguns presos políticos, que foram libertados por causa da pressão internacional. E, assim, o plano dos governantes autoritários, de usar os grandes eventos esportivos para melhorar a imagem de seus regimes, foi pela culatra.
Autora: Christina Ruta (md)
Revisão: Carlos Albuquerque