Ex-meia da seleção alemã revela que é homossexual
8 de janeiro de 2014O ex-jogador de futebol Thomas Hitzlsperger, que disputou a Copa de 2006 pela Alemanha, decidiu assumir publicamente a homossexualidade, como revela entrevista a ser publicada na edição desta quinta-feira (09/01) do semanário Die Zeit.
"Foi um processo longo e penoso. Somente nos últimos anos me dei conta de que preferiria viver com um homem", disse o ex-meio-campo. Segundo ele, agora, encerrada sua carreira esportiva, ele teve a impressão de ser um bom momento para ir a público. "Queria contribuir para fazer avançar a discussão sobre a homossexualidade entre esportistas profissionais."
Antes de seu coming out público, Hitzlsperger informou o treinador Joachim Löw e o coordenador-técnico da seleção alemã, Oliver Bierhoff. No futebol, a homossexualidade é "simplesmente ignorada", afirma o atleta de 31 anos, e até hoje ele não conhece nenhum jogador alemão que tenha tematizado sua orientação sexual.
"Nunca me envergonhei por ser assim", declarou. Ainda assim, lembra, era difícil suportar os comentários dos colegas. "Quando uns 20 rapazes estão sentados à mesa bebendo, você deixa a maioria ter a palavra, enquanto as piadas ainda estão mais ou menos engraçadas e o blablablá sobre homossexualismo não é ofensivo demais."
Ele é o primeiro jogador alemão de destaque a se revelar publicamente homossexual. Apelidado "Hitz, the Hammer", no início de setembro, ele encerrou sua carreira, alegando haver perdido o prazer no futebol.
Seu último clube foi o Everton, da Inglaterra. Antes, ele passara por Stuttgart e Wolfsburg, ambos da Alemanha. De 2004 a 2010, o atleta nascido em Munique participou de 52 jogos pela seleção alemã.
Apoio do esporte e da política
A iniciativa de Thomas Hitzlsperger foi saudada por numerosas personalidades públicas da Alemanha. O meia Lukas Podolski, da seleção alemã, postou no Twitter: "Respeito! Foi uma decisão corajosa e correta, e um sinal importante."
Wolfgang Niersbach, presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), também enfatizou o aspecto do respeito – que ele já tinha pelo jogador enquanto "modelo de conduta", e que "agora cresceu mais ainda". "Eu mantenho nossa palavra de que ele receberá de nós todo o apoio possível", afirmou.
O presidente da Liga Alemã de Futebol (DFL), Reinhard Rauball, comentou que o "grande e corajoso passo" será "certamente decisivo na luta contra a homofobia", mas fez uma ressalva.
"Considerando-se o enorme grau de exposição pública no futebol profissional, entretanto, continua sendo difícil calcular as reações no caso do coming out de um profissional ativo. Nesse aspecto, os clubes, enquanto empregadores, arcam com uma grande responsabilidade", afirmou.
Também na cena política alemã houve manifestações positivas sobre a revelação de Hitzlsperger. O porta-voz do governo federal, Steffen Seibert, declarou: "Vivemos num país em que ninguém deveria ter medo de assumir sua sexualidade, somente por medo da intolerância. Enquanto país, enquanto sociedade, na última década fizemos enormes progressos, justamente neste setor."
Os elogios foram ecoados por políticos de diversas facções, como o verde Volker Beck e o liberal Guido Westerwelle, ambos homossexuais declarados.
"Essa coragem merece grande respeito. O passo para a ampla exposição pública parece mais fácil na teoria do que é na realidade", disse Westerwelle, ex-ministro das Relações Exteriores e líder do Partido Liberal Democrático (FDP). "Eu desejo encorajamento, respeito e reconhecimento para os muitos que ainda lutam consigo, com seu meio e com a sociedade, devido a sua orientação homossexual."
AV/afp/dpa/sid