Ex-ministras francesas lançam apelo contra assédio sexual
15 de maio de 2016Dezessete ex-ministras francesas lançaram neste domingo (15/05) um apelo inédito contra o silêncio e a impunidade face ao assédio sexual.
"Chega. A impunidade acabou. Não nos calaremos mais. Denunciaremos sistematicamente todos os comentários sexistas, os gestos inapropriados, os comportamentos impróprios. Encorajamos todas as vítimas de assédio e de agressões sexuais a falarem e a apresentarem queixa", escreveram as ex-ministras no manifesto publicado no semanário Journal du Dimanche.
"Pedimos aos nossos partidos e grupos políticos para verificarem se tais atos foram cometidos e, se for o caso, ajudarem as vítimas a esclarecer a verdade", prosseguiram. "Fomos ministras. Como todas as mulheres que chegaram a cargos antes ocupados exclusivamente por homens, tivemos que lutar contra o sexismo."
Entre as signatárias do apelo está a ex-ministra e atual diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e Monique Pelletier, ministra sob a presidência de Valéry Giscard d'Estaing (1974-1981) e que acaba de romper o silêncio 37 anos depois de ter sido agredida por um senador.
No Twitter, o primeiro-ministro Manuel Valls manifestou seu apoio à iniciativa.
Na semana passada, oito mulheres, entre as quais quatro eleitas, acusaram o deputado Denis Baupin, casado com a ministra da Habitação, Emmanuelle Cosse, de assédio e agressão sexual. Baupin rejeitou as alegações, mas renunciou ao cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional. O Ministério Público de Paris abriu um inquérito para investigar as acusações.
"Desta vez, é demais"
Cinco anos após as revelações sexuais sobre o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss Kahn, que enfrentou acusações de agressão sexual em Nova York, as ex-ministras consideram que "desta vez, é demais". As acusações contra Kahn acabaram sendo abandonadas devido a declarações contraditórias da alegada vítima, que chegou depois a um acordo com o político francês.
As ex-ministras defendem a "extensão dos prazos de prescrição" em relação à agressão sexual, atualmente de três anos, a possibilidade das associações competentes poderem apresentar queixa em vez das vítimas e também que o Ministério Público receba instruções para "processar sistematicamente em caso de assédio".
No início deste mês, mais de 500 políticos e ativistas denunciaram no jornal Libération o silêncio coletivo sobre o assédio sexual na política francesa.
LPF/lusa/dpa