Ex-premiê alemão e CIA encobriram criminoso nazista
8 de junho de 2006O historiador Timothy Naftali, da Universidade de Virginia, nos EUA, revela que tanto o serviço secreto norte-americano quanto o governo alemão sabiam do paradeiro do oficial nazista Adolf Eichmann, dois anos antes da captura deste por israelenses, em 1960.
Segundo as informações de Naftali, o serviço secreto alemão foi o primeiro a descobrir o criminoso responsável por arquitetar as barbaridades do Holocausto, que havia se refugiado na Argentina sob o pseudônimo Clemens.
Adenauer: proteção a assessor envolvido em crimes nazistas
Os documentos divulgados por Naftali mostram que também o governo alemão do ex-chanceler democrata-cristão Konrad Adenauer sabia do refúgio de Eichmann. Acredita-se que Adenauer omitiu a informação, por temer revelações a respeito de membros do envolvimento de membros de seu governo em crimes nazistas, como o político e advogado Hans Globke, seu influente assessor.
Globke pertenceu ao alto escalão do governo nazista a partir de 1934. No pós-guerra, entre 1953 e 1963, assumiu a chefia da Casa Civil no governo Adenauer. Os documentos revelados por Naftali provam que Adenauer pressionou a revista Life, pedindo para que o nome de Globke fosse omitido das memórias de Eichmann, quando a revista adquiriu os direitos de publicação sobre o material.
Eichmann foi preso em Buenos Aires pelo serviço secreto israelense em 1960, julgado, condenado e executado em Tel Aviv por ter arquitetado o assassinato de seis milhões de judeus.
Culpa por omissão
"Quando se lê que a caça a Eichmann demorou mais tempo porque os israelenses sabiam que ele estava na Argentina, mas não sabiam sob qual pseudônimo vivia escondido, compreende-se a importância destes documentos. Os alemães ocidentais, naquele momento, teriam que ter tido a responsabilidade de prender Eichmann ou de, pelo menos, de repassar a informação ao serviço secreto israelense. Isso é que o aumenta a culpa deles", afirma Naftali.
As revelações do historiador mostram também que os Estados Unidos fizeram uso de uma ampla rede de espiões, recrutados entre ex-nazistas, e que a CIA não demonstrou no pós-guerra um interesse real em prender criminosos de guerra responsáveis pelo Holocausto, por motivos estratégicos durante a Guerra Fria.
Milhares de páginas
Os documentos examinados por Naftali fazem parte de 27 mil pastas entregues recentemente pela CIA ao Arquivo Nacional dos Estados Unidos. O acesso a esses documentos relativos ao pós-guerra foi liberado após pressão exercida pelo Congresso norte-americano, que insistiu na publicação dos nomes dos agentes que, na época, trabalhavam no serviço secreto a mando de Washington. Um relatório final sobre o material deverá ser publicado até meados de 2007.