Ex-procuradora-geral da Venezuela viaja ao Brasil
23 de agosto de 2017A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz, uma das principais vozes de oposição ao governo do país, viajou da Colômbia para o Brasil nesta terça-feira (22/08). Em reação à notícia, o presidente Nicolás Maduro afirmou que pedirá à Interpol um alerta vermelho para sua captura.
A viagem foi comunicada pela agência migratória colombiana e depois confirmada por Ortega em nota publicada em redes sociais. A ex-procuradora – destituída do cargo no início de agosto – havia fugido para Bogotá na semana passada ao lado do marido, o deputado chavista Germán Ferrer.
Ortega participará, em Brasília, da 22ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul. Segundo a Agência Brasil, ela foi convidada ao evento pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
No comunicado, a jurista explicou que, "como procuradora-geral da Venezuela", pretende "ratificar perante o mundo a denúncia sobre a ruptura do fio constitucional e a instauração da ditadura auspiciada desde a fraudulenta e inconstitucional Assembleia Nacional Constituinte".
"Os venezuelanos são hoje perseguidos e presos por pensarem diferente do regime do ditador Nicolás Maduro e da cúpula corrupta que o rodeia. Esse evento vai me permitir mostrar ao mundo as provas que incriminam Nicolás Maduro e seu grupo em graves casos de corrupção", acusou ela.
Maduro apela à Interpol
Ao ser informado por uma repórter sobre a viagem de Ortega ao Brasil durante uma coletiva de imprensa nesta terça-feira, Maduro afirmou que pedirá à Interpol a captura da ex-procuradora e de seu marido. "Espero que esses delinquentes sejam entregues à Justiça venezuelana", afirmou ele.
Maduro ainda criticou o "governo golpista do Brasil" por acolher "foragidos da Justiça venezuelana". "Diga-me com quem andas e te direi quem és", disse o presidente, que ainda atacou o líder colombiano, Juan Manuel Santos, descrevendo-o como "protetor da rede de extorsão".
Ortega deixou a Venezuela depois de seu marido ter a prisão decretada na quarta-feira passada. Ferrer foi acusado de estar envolvido numa rede de extorsão que funcionaria dentro do Ministério Público enquanto Ortega comandava o órgão.
O casal chegou a Bogotá na sexta-feira passada, proveniente de Aruba, onde desembarcou de um pequeno barco que partiu da costa venezuelana. O governo havia proibido os dois de deixarem o país.
Nesta segunda-feira, o presidente colombiano afirmou que concederá asilo político à ex-procuradora-geral venezuelana, caso ela o peça. "Ortega se encontra sob a proteção do governo colombiano. Se pedir asilo, concederemos", disse Santos em mensagem no Twitter.
Oposição ao regime
Apesar de ser por anos uma chavista declarada, a jurista se distanciou do governo Maduro e se tornou uma das principais vozes contra o presidente ao denunciar rupturas constitucionais após decisões do Tribunal Supremo, além de rechaçar a Assembleia Constituinte. Seu marido também é crítico das recentes decisões governistas.
Como procuradora-geral, criticou ainda a atuação da polícia durante os protestos contra Maduro, que em quatro meses deixaram mais de cem mortos, cerca de 2 mil feridos e registraram 5 mil detenções.
Ortega foi destituída pela Assembleia Nacional Constituinte em 5 de agosto passado, acusada de ter cometido "atos imorais". A ex-procuradora-geral não reconheceu a decisão e considerou a medida mais um passo do governo Maduro para o estabelecimento de uma ditadura no país.
EK/abr/efe/afp/dpa/lusa