Risco de contágio
29 de julho de 2011Para afastar qualquer risco de contágio da crise vista na Europa – e que ameaça se abater sobre os Estados Unidos –, o governo brasileiro reforçou nos últimos dias a sua previsão: o país vai continuar crescendo em torno de 5% até 2015, apesar do tropeço das nações ricas, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Os mercados, até agora, parecem confiar na palavra do ministro. Há dois anos, antes de a crise do euro eclodir, ninguém ousaria dizer que seria mais arriscado investir num país europeu do que no Brasil. Mas o que era "absurdo" mostrou-se palpável: atualmente, custa mais pagar um seguro contra calote da dívida na Espanha do que no Brasil, por exemplo. "Ou seja, o risco que o mercado vê na Espanha e na Itália, no momento, é maior do que o risco visto em países emergentes, incluindo o Brasil", avalia a economista do Deutsche Bank Maria Laura Lanzeni.
Apesar de as nações emergentes terem se saído bem, até agora, durante a crise do euro em Portugal, Grécia e Irlanda, o alastramento para a Espanha e a Itália pode contagiar países da América Latina. É o que demonstra um estudo publicado pelo centro de pesquisa do Deutsche Bank nesta sexta-feira (29/07).
Risco de contágio
Lanzeni, autora do estudo do DB Research, concorda que o setor bancário no Brasil está mais protegido. "O mercado brasileiro não interdepende dos bancos espanhóis, apesar de eles terem grande presença no país. Os dois grandes bancos privados, que são brasileiros, agiriam por trás do sistema em caso de uma crise."
Mas o mesmo não se pode dizer de outros países latino-americanos, como o Chile e o México. No caso chileno, segundo informações do Bank for International Settlements (BIS) – instituição internacional financeira que reúne dados de todo o mundo –, os bancos espanhóis têm empréstimos correspondentes a 30% do Produto Interno Bruto do país. Já no México, esse valor equivale a 13% do PIB.
A soma incluiu empréstimos feitos ao setor público e privado, tanto indústria como cidadãos comuns. "A presença significativa dos bancos espanhóis na América Latina deixa essa região especialmente vulnerável", diz o estudo. A crise poderia forçar os latino-americanos a serem os próximos a terem que socorrer o setor bancário com enormes quantias do orçamento público.
"S o cidadão que guardou toda a economia da sua vida num banco desses sabe que a matriz na Espanha está com dificuldade, ele automaticamente vai retirar todo o dinheiro da poupança. E isso também é um grande problema para um banco", adiciona Lanzeni.
Perto do perigo
Na Espanha, o cenário econômico não é animador. As altas taxas de desemprego levaram milhões de espanhóis a pedir mudanças nas ruas do país. No setor privado, quem já sofre graves efeitos da recessão são os bancos menores.
"Os bancos menores já sofrem com a crise porque são mais dependentes do mercado imobiliários. E muitos espanhóis que adquiriram financiamento de casa não estão mais conseguindo pagar a dívida e estão sendo obrigados a devolver o imóvel para o banco", comentou o pesquisador espanhol Manuel Manrique, da Fride (Fundação para Relações Internacionais e Diálogo Exterior).
Na análise do especialista, a crise pública espanhola parece ainda não ter contaminado os grandes bancos. "Eles parecem menos vulneráveis à crise, foram os menos afetados até agora", diz Manrique.
De qualquer forma, o relatório do DB Research alerta: "Espanha e/ou Itália são países que devem ser observados quando se considera contágio potencial para mercados emergentes." Os números do grupo espanhol Santander dão uma ideia da dimensão do risco: é o quarto maior banco do mundo em lucros e o oitavo em capitalização de mercado – maior instituição financeira da zona do euro por capitalização na bolsa. No Brasil, é o terceiro maior entre os privados.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler