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Aliança militar

Nick Amies (sv)28 de abril de 2008

O ingresso na Otan de países dos Bálcãs, além da Ucrânia e da Geórgia, tem causado um clima de tensão entre a aliança militar e a Rússia, além de gerar conflitos internos.

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Bandeiras dos países da Otan: nem todos em prol da expansãoFoto: AP

Quando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi criada, em 1949, a aliança era baseada num sistema de "defesa coletiva", segundo o qual os membros da organização se comprometiam a se defender mutuamente em caso de ataque externo. Em boa parte da segunda metade do século 20, este inimigo externo era a União Soviética.

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4 de Abril de 1949: assinatura do Tratado do Atlântico NorteFoto: picture-alliance / dpa

Pouco depois da assinatura do tratado que criou a Otan, a Guerra Fria se tornou ainda mais intensa, colocando os membros da aliança militar em oposição aos países que formavam o Pacto de Varsóvia. Uma situação que perpetuaria mais de 40 anos. Até a derrocada da União Soviética, em 1991, a meta principal da Otan era conter a ameaça que acreditava vir do outro lado da Cortina de Ferro.

Rumo ao Leste

Desde o fim da ameaça soviética, a meta da Otan na Europa deixou de ser a de proteger os países da aliança nas suas fronteiras orientais, passando a ser a de "empurrar" as fronteiras da organização o máximo possível em direção ao leste do continente. Em 2004, a Otan teve a maior expansão de sua história, ao incluir sete novos países: Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia – todos antigos membros ou da União Soviética ou do Pacto de Varsóvia.

No entanto, a expansão da Otan parece não parar por aí. Mais cinco nações foram listadas para ingresso na aliança em 2008. A entrada da Albânia, Croácia e Macedônia marcaria a presença da Otan na instável região dos Bálcãs, consolidando aí o poder da aliança militar.

Já uma expansão das fronteiras em direção ao Leste até a Ucrânia ou mesmo até a Geórgia tem desencadeado uma série de questões acerca das razões pelas quais a organização chega cada vez mais perto do antigo adversário dos tempos de Guerra Fria: a Rússia.

Expasão: sinônimo de estabilidade?

O discurso oficial da Otan procura convencer seus membros de que fazer parte da aliança militar traz mais estabilidade e segurança para um país. Há de se notar que todos os países cujo ingresso está sendo analisado no momento passaram recentemente por algum tipo de instabilidade política.

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Cúpula da Otan em Bucareste, este anoFoto: AP

"A região dos Bálcãs foi sacudida, mais uma vez, pela recente declaração de independência do Kosovo da Sérvia. A entrada da Albânia, Croácia e Macedônia poderia estabilizar a região em meio a essa nova onda de instabilidade. Pois em casos anteriores de ingresso na Otan, as preparações para a entrada na aliança acabavam por encorajar os países a solidificar governos democráticos e o controle civil dos militares", diz à DW-WORLD.DE Charles Kupchan, pesquisador de Estudos Europeus no Conselho de Relações Exteriores, em Washington.

Já Dan Plesch, diretor do Centro de Estudos Internacionais e Diplomacia, em Londres, e especialista em segurança global, acredita que os planos da Otan vão além das explicações oficiais. "A posição pública ignora a Rússia. Enquanto a própria Otan e seus membros europeus afirmam não ter intenção de reafirmar a hegemonia regional ao redor da Rússia, o mesmo não pode ser dito em relação aos EUA. Para muita gente nos EUA, a Otan não é nada além de uma veículo usado para expandir o poder global do país. A meta explícita de Washington é a hegemonia regional", diz Plesch.

Irritações em Moscou

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Putin: ameaçado realmente ou tudo não passa de um jogo?Foto: AP

As propostas de expansão da Otan com relação aos territórios da antiga União Soviética irritam a Rússia. Apesar da aparente reconciliação durante um encontro bilateral recente entre representantes dos dois governos, o presidente russo, Vladimir Putin, continua acreditando que a expansão das fronteiras da Otan até a Ucrânia e a Geórgia representa uma ameaça para Moscou.

"O surgimento de um bloco militar poderoso do lado das nossas fronteiras será entendido como uma ameaça direta à segurança do país", afirmou Putin no início de abril, durante um encontro de cúpula da Otan em Bucareste. Na mesma ocasião, Putin revidou o argumento da aliança militar de que ter vizinhos democráticos só trará vantagens para a Rússia. "A entrada da Letônia na Otan não mudou em nada a vida das centenas de milhares de pessoas que vivem no país. A Otan não é um democratizador", afirmou Putin.

Rússia: fazendo o jogo ou sob ameaça?

A Rússia reage às possibilidades de expansão da Otan com um arsenal de advertências bélicas, reminiscentes da retórica soviética usada durante a Guerra Fria. Em fevereiro último, Putin alertou para o fato de que Moscou poderia fazer uso de uma "retaliação", caso a Ucrânia ingressasse na Otan, sugerindo que mísseis russos poderiam se voltar contra Kiev.

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Manifestantes nacionalistas protestam contra o ingresso da Ucrânia na OtanFoto: AP

No início de abril, um general reiterou as palavras do presidente, ao afirmar que a Rússia iria dar passos "militares e de outro tipo", em caso de entrada da Ucrânia e da Geórgia na aliança militar. Alguns especialistas acreditam que as reações de Putin são um exagero em torno de uma ameaça que ele mesmo sabe ser contornável. Outros supõem que o presidente russo e seu sucessor, Dimitri Medvedev, estão realmente preocupados – e com razão para isso. "O pior cenário possível seria uma volta da rivalidade militar entre a Otan e a Rússia, embora essa possibilidade seja remota", diz Kupchan.

Toda essa discussão pode permanecer no terreno das hipóteses, diante da improbabilidade de que a Ucrânia e a Geórgia se tornem realmente membros da Otan. Mesmo levando em conta o "plano de ação" da Ucrânia, a ser avaliado em dezembro próximo.

De qualquer forma, as tensões entre os envolvidos, que, sem dúvida, vão persistir e possivelmente aumentar até um veredicto sobre o ingresso ou não na aliança, podem ser tão ou mais importantes que a própria decisão final em relação à entrada dos novos membros.