Expectativa de mudanças no Irã esbarra em limitações do presidente
17 de junho de 2013O resultado da eleição presidencial no Irã criou uma expectativa de reorientação da política externa do país, especialmente no que diz respeito à questão nuclear.
Em sua campanha eleitoral, o clérigo moderado Hassan Rohani, de 64 anos, prometeu tentar a suspensão das sanções internacionais ao país, através de uma aproximação com o Ocidente. O que é, aliás, extremamente necessário, considerando a terrível situação econômica do país.
Nesta segunda-feira (17/06), na sua primeira entrevista à imprensa, Rohani descartou suspender as atividades de enriquecimento de urânio, mas falou em maior transparência para mostrar que elas estão de acordo com as regras internacionais. Ele também qualificou as sanções internacionais ao seu país de injustas.
"Rohani tem um mandato claro e uma grande responsabilidade em relação ao povo do Irã, que lhe confiou o cargo, e perante o mundo", afirmou o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, ao comentar os resultados das eleições iranianas. A chefe da política externa da UE, Catherine Ashton, se mostrou disposta a cooperar com Rohani para chegar a uma "solução diplomática rápida" na disputa em torno do programa nuclear.
Resistência conservadora
Especialistas em Irã divergem sobre o quão realistas são as expectativas positivas criadas com a eleição. O jornalista iraniano Bahman Nirumand, radicado em Berlim, avalia que Rohani encontrará grande resistência se tentar implementar suas promessas de campanha, sobretudo por parte do líder religioso Aiatolá Khamenei e da poderosa Guarda Revolucionária. Khamenei e a Guarda Revolucionária têm mostrado nos últimos oito anos, segundo Nirumand, que não estão dispostos a ceder na questão nuclear.
Ambos detêm autoridade para definir o programa nuclear e as relações com o Ocidente, que, formalmente, estão fora da alçada de Rohani. Atualmente eles parecem estar em acordo com Rohani, mas podem facilmente se virar contra o presidente, caso passem a encará-lo como uma ameaça.
O cientista político Sadegh Zibakalam, da Universidade de Teerã, também adverte contra o excesso de otimismo causado pela eleição do clérigo moderado. "Não devemos nos deixar cegar por esse sucesso. As principais instituições de poder ainda estão nas mãos dos conservadores. Mas eles perderam parte de seu poder para as forças reformistas", ressalta o analista político.
Acordo com líderes religiosos
O cineasta iraniano Mohammad Nourizad considera possível que a confiança entre o Irã e o Ocidente possa ser restaurada com relação às negociações nucleares. Ele acredita que, para isso, basta o país se abrir às inspeções nucleares internacionais, o que, por sua vez, exige um certo alinhamento entre as posições dos líderes religiosos e as do novo presidente.
Nourizad, que nos últimos dois anos e meio foi diversas vezes preso devido às suas opiniões, diz acreditar que as negociações nucleares podem ganhar um novo impulso com a eleição de Rohani. "Khamenei e os líderes da Guarda Revolucionária se veem num beco sem saída por causa do crescente isolamento internacional. Por isso criaram as condições necessárias para que alguém como Rohani possa abrir novas portas."
Na política interna, a população iraniana espera que Rohani tornem possíveis maiores direitos e liberdades. Durante os oito anos de Mahmoud Ahmadinejad no poder, o país não viveu somente uma piora na situação econômica. O clima político e social também se tornou opressivo.
Durante sua campanha eleitoral, Rohani se disse a favor, entre outras coisas, da libertação de prisioneiros políticos detidos desde 2009. "O poder de Rohani é baseado nos mais de 18 milhões de votos que recebeu dos iranianos. Eles querem uma mudança", sublinha Nirumand.
Resistência no Parlamento
Internamente, Rohani teria algumas possibilidades de influência. Ele pode tentar ocupar as posições importantes nos ministérios e instituições centrais, como o Conselho Supremo de Segurança Nacional, de acordo com seus interesses.
O que pode ser um problema é a necessária cooperação entre o presidente e o Parlamento. "Ele está nas mãos do inimigo, e temo que os adeptos do derrotado linha-dura Saeed Jalili continuarão a agir destrutivamente", avalia Walter Posch, especialista em Irã do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP).
Mas, no final, o Parlamento vai decidir conforme os desejos de Khamenei, que, na opinião de Posch, "parece ter entendido o desejo do povo, pois de outra forma não teria admitido Rohani."