Fim do Transrapid?
27 de março de 2008A explosão dos custos tornou inviável a construção dos 37 quilômetros do primeiro trecho comercial do trem de alta velocidade Transrapid na Alemanha. A justificativa foi apresentada na manhã desta quinta-feira (27/03) pelo ministro alemão dos Transportes, Wolfgang Tiefensee, após uma reunião em Berlim com o governador da Baviera, Günther Beckstein, e o presidente da Siemens, Peter Löscher. O governo federal se nega a contribuir com mais do que foi acertado inicialmente.
A indústria corrigiu os custos da obra de 1,85 bilhão de euros para até 3,4 bilhões de euros. Se ficasse no orçamento inicial, a União estava disposta a pagar até 925 milhões de euros e o estado da Baviera ajudaria com 500 milhões de euros.
Outros investidores seriam a própria empresa ferroviária Deutsche Bahn (235 milhões), o aeroporto de Munique (100 milhões), a União Européia (50 milhões) e as empresas Siemens e ThyssenKrupp (25 milhões cada).
Tiefensee ainda vê chances
O ministro alemão dos Transportes, no entanto, ainda vê chances em outros países para o projeto do trem magnético de alta velocidade, considerado um produto de prestígio da tecnologia alemã.
Representantes da indústria teriam lhe assegurado que continuarão desenvolvendo o projeto. A China é o único país onde o Transrapid circula comercialmente. O presidente da Siemens disse haver interesse também dos Estados Unidos e do Catar.
O professor Rainer Schach, da Escola Superior Técnica de Dresden, adverte que a negativa à obra em Munique pode significar o fim do projeto na Alemanha. "Sem um trecho de referência para aperfeiçoar o projeto, as patentes irão para a China", disse Schach, que organiza seminários regulares sobre o trem magnético de alta velocidade, ao site Tagesschau.
Com Munique, são três os projetos de Transrapid cancelados na Alemanha. Em 2000, a falta de rentabilidade havia sido a justificativa para cancelar a construção dos 292 quilômetros de trem magnético entre Hamburgo e Berlim. Três anos mais tarde, o estado da Renânia do Norte-Vestfália anunciaria a desistência de construir o Metrorapid, que ligaria várias cidades na região do Ruhr.
Indústria alemã lamenta
"Este não é um bom sinal para a indústria alemã", lastimou Heinrich Höfer, especialista em tecnologia da Confederação da Indústria Alemã (BDI). "É lamentável que tenhamos desenvolvido uma tecnologia tão moderna e nos últimos 20, 30 anos não tenhamos conseguido construir aqui um trecho para ela", disse Klaus-Heiner Röhl, do Instituto da Economia Alemã (IW).
Para Wolfgang Fengler, professor de sistemas ferroviários da Escola Superior Técnica de Dresden, o problema do Transrapid é sua falta de lobby na Alemanha. Segundo ele, o trem magnético é um veículo de futuro, mas a Alemanha deixará de ser um player nesta área.
Fengler especula que num futuro próximo o trem magnético se desenvolverá no sudeste asiático e em Xangai. Não se trata, segundo ele, de acabar com o trem convencional, mas de dar impulso à técnica mais adequada para trens de alta velocidade.
Ele cita três fatores para exemplificar a importância desta nova tecnologia nos dias atuais: a economia de combustível, a proteção do meio ambiente e o fato de a tecnologia ferroviária atual ter atingido seus limites.
Opção ideal para a Europa Central
A falta de coragem para investir na construção de um trecho de referência na Alemanha é justificada, segundo Fengler. Os investimentos são altíssimos e os resultados só apareceriam em 15 anos. Para ele, a Alemanha de hoje não é o local ideal para o Transrapid.
Mas a tecnologia seria a solução para muitas regiões que hoje não dispõem de uma boa malha ferroviária, como a Europa Central. É a opção ideal para países que hoje têm de decidir em que tecnologia de futuro investir, aposta.
Mas se nem o próprio país dos seus descobridores consegue construir um trecho de referência, faltará a confiança necessária em outros países, completa Fengler.