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Cultura da raiva

19 de março de 2010

Existe uma nova cultura da raiva como reação à crise política e econômica? Por meio de exposição, performances, textos e videoinstalações, a Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, discute a raiva na sociedade atual.

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Raiva é tema na sociedade atualFoto: Regina José Galindo/HKW/Prometeo Gallery di Ida Pisani

A mostra Sobre a raiva, que pode ser visitada de março a maio de 2010 na Casa das Culturas do Mundo (HKW), em Berlim, acolhe uma série de eventos com diversas temáticas e questionamentos sobre o tema da raiva na sociedade atual. Existe uma nova cultura da raiva que é fruto das crises político-econômicas? Onde se encontra a manifestação da raiva nas esferas da política e da arte?

Abordando essas questões, a mostra não permite uma contemplação rápida. Os espectadores não podem se colocar em posições confortáveis, apoiando-se em uma bancada. O público fica no meio dos acontecimentos.

Ausstellung Kultur der Wut
Imagem da mostra 'Sobre a raiva'Foto: reloading images

As curadoras da mostra Valerie Smith, Susanne Stemmler e Cordula Hamschmidt conceberam conjuntamente a temática da exposição e a interligação entre os projetos. Elas conseguiram obter uma diversidade de performances, pinturas irônicas, recitais e um extenso programa de filmes.

A exploração colonial, a destruição global, a aniquilação de diversas populações indígenas são os temas que percorrem as exposições. A abertura da mostra, na última sexta-feira (13/03), contou com performances da artista guatemalteca Regina José Galindo e do ator turco-alemão Birol Ünel.

Autotortura

Regina José Galindo, que geralmente usa o martírio do corpo e a autotortura nos seus trabalhos, é responsável pela performance Looting (Saque). A visão é difícil de aguentar: enquanto uma broca barulhenta tortura os ouvidos do público, a artista torna pública a extração do seu dente de ouro.

A referência ao saque do dente não foi por acaso. Segundo a artista, a performance simbolizaria o pavor da exploração colonial, buscando atingir a aliança entre a elite guatemalteca e os alemães, responsáveis pela exploração da sua pátria.

Segundo a artista, a Alemanha e a Guatemala possuem um relacionamento conflituoso de longa data, que teria início no final do século 19. "Um de nossos muitos ditadores incentivou os alemães a imigrarem para melhorar a raça", conta. Para ela, a imigração alemã ajudou a dividir a sociedade entre ricos e pobres, marginalizando as populações indígenas.

Ausstellung Kultur der Wut
Instalação na Casa das Culturas do MundoFoto: Jimmie Durham/Matt's Gallery,London

Kaya Behkalam

O trabalho de Kaya Behkalam, webdesigner berlinense, consiste em imagens recorrentes encenadas por atores de sete países diferentes. Eles discutem a revolução num filme com o título Images reloaded (Imagens recarregadas).

A artista criou uma peça desconhecida sobre a revolução, em três atos, composta por uma colagem de diferentes posições "sobre Brecht e Heiner Müller, ou também textos dos Panteras Negras; na verdade, tudo o possível está misturado lá dentro, de forma que o contexto dessa revolução se perde completamente". Ao fim, "o que resta são slogans ou posicionamentos muito fortes", explica.

Debate sobre a raiva

Para debater o tema da raiva na sociedade, Susanne Stemmler e Cordula Hamschmidt também conceberam um programa com uma série de palestras. Os encontros ocorrem todas as quartas-feiras com discussões sobre manifestações atuais da raiva nas esferas políticas e filosóficas na era do pós-colonialismo.

A abertura dos debates foi realizada pela artista e filósofa Yana Milev. Em sua palestra, ela analisou a cultura de protesto no contexto do novo mercado globalizado e da urbanização.

Autora: Jutta Schwengsbier / Deyvis Drusian
Revisão: Carlos Albuquerque