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Orientalismo na Europa

31 de janeiro de 2011

Em meio ao debate entre os pontos de contato entre a Europa e o Oriente, a exposição "Orientalismo na Europa: de Delacroix a Kandinsky" mostra como a arte ocidental se apropriou de imagens e clichês orientais.

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'A escrava branca', de Jean Leconte: inspiração orientalFoto: picture alliance/dpa

Debate sobre véu islâmico, briga das caricaturas, missão no Afeganistão, ameaça de terrorismo: a polêmica e o medo determinam, muitas vezes, os debates em torno dos pontos de contato entre a Europa e a região chamada, no passado, de Oriente.

Nesse contexto, a sensação fica agora por conta da mostra intitulada Orientalismo na Europa: de Delacroix a Kandinsky , aberta neste fim de semana no espaço de exposições Hypo-Kunsthalle de Munique.

Com cerca de 150 pinturas e esculturas emprestadas em todo o mundo, a exposição mostra, desde a campanha militar de Napoleão no Egito até a modernidade do início do século 20, como o mundo ocidental trabalhou as imagens e os clichês do Oriente.

Obras-primas de Ingres, Delacroix, Gérôme e Renoir até Sargent, Klee e Kandinsky apresentam o Oriente como um tema artístico multifacetado, que ultrapassa fronteiras, estilos e posições artísticas.

Flash-Galerie 'Orientalismus in Europa: Von Delacroix bis Kandinsky
'Bonaparte em Alexandria', de François-Henri MulardFoto: picture-alliance/ akg-images/VISIOARS

Orientalismo na arte

O curador Roger Diederen explica que o percurso da mostra se inicia no Egito. "A exposição começa de forma cronológica com a campanha de Napoleão no Egito, que para o comandante francês foi um fracasso militar, mas que exerceu um importante papel em toda a história colonial".

Mais importante do que a operação militar, explicou Diederen, foi o fato de Napoleão ter levado consigo cientistas e artistas, que começaram a descrever o Egito, não somente os monumentos históricos, mas também o Egito da época. "E isso levou a uma verdadeira egiptomania – não somente na França, mas em toda a Europa".

A fascinação pela região geográfica de tamanho continental dominada pelo Império Otomano já existia desde que o Ocidente tomou conhecimento de sua cultura e comércio, mas se restringia às assim chamadas turqueries e chinoiseries, formas reduzidas de apreensão do vocabulário formal de culturas orientais.

A partir do século 19, essa situação mudou por completo. Até aquele momento, poucos artistas haviam empreendido longas viagens. Com as tropas de Napoleão, viajaram 167 cientistas e artistas, que deflagraram além de novas disciplinas científicas, também um novo orientalismo na arte.

Superfície de projeção

O curador da mostra explicou que o propósito principalmente de artistas acadêmicos era oferecer representações detalhadas e que, muitas vezes, essa era a primeira razão de uma viagem ao norte da África ou ao Oriente Médio, já que a maioria dos artistas do século 19 teve uma formação acadêmica.

Assim, seu verdadeiro objetivo era a pintura histórica, com temas bíblicos ou mitológicos. Mas, ao chegarem ao norte da África, foram confrontados com a cultura islâmica, desconhecida até aquele momento.

O Oriente se tornou então uma superfície de projeção para todas as variações de temas já conhecidos, não faltando naturalmente as representações do "bom selvagem" ou de fantasias eróticas de haréns.

Flash Galerie Orientalismus in Europa von Delacroix bis Kandinsky
James Tissot, 'A viagem dos Três Reis Magos'Foto: Minneapolis Institute of Arts, The William Hood Dunwoody Fund

Pintores, fotógrafos, escritores e compositores

Em missões oficiais de governo ou por iniciativa própria, muitos artistas viajaram aos mais diversos locais para documentar uma cultura que sentiam ser original. Muitos até se mudaram definitivamente para lá. Suas pinturas e fotografias estimularam, por um lado, o turismo e assinalaram, por outro, uma imagem do Oriente marcada pela arrogância ocidental durante a era do colonialismo.

Enquanto alguns almejavam vivências sensoriais de "1001 noites", o que se espelha nos diversos quadros de fantasias eróticas e alucinógenas, outros se sentiam atraídos pela emocionalidade daquela cultura até então considerada bárbara e ameaçadora.

O Oriente não inspirou somente pintores, mas também fotógrafos, escritores e compositores. Por ocasião da abertura do Canal de Suez, em 1869, Verdi compôs sua ópera Aída. No mesmo ano, Thomas Cook passou a oferecer as primeiras excursões para o Egito.

Os pintores franceses Renoir e Matisse realizaram viagens de trabalho ao norte da África. A luz norte-africana também inspirou Wassily Kandinsky, August Macke e Paul Klee a pintarem um delírio incomparável de cores. Seus trabalhos abstratos finalizam os destaques do grande esplendor de quadros da mostra em Munique.

A fascinação ocidental pelo Oriente durou até a Primeira Guerra Mundial e a queda do Império Otomano. Após esse período, a arte europeia passou a se dedicar a outros temas. A exposição Orientalismo na Europa: de Delacroix a Kandinsky pode ser visitada até 1° de maio próximo na Hypo-Kunsthalle, em Munique.

Autora: Dorothee von Canstein (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer