Exposição resgata Hesse na rede da mídia
9 de junho de 2002Anúncio
"Você já viu vaga-lumes no lugar onde mora? Quanto tempo você leva de bicicleta da sua casa até o pasto mais próximo? Quando você vai para o trabalho a pé, você é daqueles que costuma ir correndo, ultrapassando os outros, ou prefere ir devagar, com toda calma?" Estas são algumas das questões com que a mostra sobre Hesse confronta o visitante no Kulturforum de Berlim.
Contrapondo imagens urbanas de velocidade e técnica com espaços meditativos de contemplação, o curador suíço Hans-Peter Maier-Dallach insere motivos da obra de Hermann Hesse (1877-1962) em espaços de apelo sensorial, trançando lemas da contracultura com reivindicações antiglobalizantes.
Pérolas e cacos
– "O mundo nunca esteve tão próximo de formar uma unidade. A discrepância entre suas partes nunca foi tão visível. Nos jornais, são os cacos que predominam: guerra, terror, injustiça, pobreza e luta por poder e prestígio. Embora seja difícil achar as pérolas, elas existem." Com esta convicção, o curador remete o público à utopia de uma harmonia universal esboçada por Hesse em sua obra tardia Jogo de Contas de Vidro. Em diferentes vitrinas repletas de plaquetas de acrílico, quadradas (cacos) e redondas (pérolas), o visitante pode selecionar os problemas e as conquistas sociais que considera mais relevantes e transferi-las para uma superfície iluminada. Se isso não for suficientemente interativo, ele pode anotar suas preocupações e sonhos nas plaquetas em branco.O real nas imagens
– Através de instalações de som e luz, labirintos de textos, assemblages e projeções, a exposição em comemoração aos 125 anos de nascimento de Hermann Hesse tenta fazer jus à linguagem das novas mídias, procurando ao mesmo tempo veicular a crítica de Hesse à mídia: "A única realidade é a que existe dentro de nós. A maioria das pessoas vive fora da realidade, por reconhecer o real nas imagens externas e desconsiderar seu mundo interior". O resultado é um percurso nostálgico através de um complexo de efeitos midiáticos que denunciam uma era sem idílios.Cult
entre hippie – Se o Prêmio Nobel da Literatura (1946), filho de missionários indo-alemães na Índia, virou cult na década de 60 – através de seus contos orientais e, sobretudo, do romance Sidarta (1919), a bíblia dos hippies – foi por ter reduzido a um formato digerível para o Ocidente as mais diferentes tradições religiosas e filosóficas do Oriente, do hinduísmo ao zen-budismo, passando pelo taoísmo e confucionismo. Neste sentido, pode-se dizer que Hesse diluiu as especificidades culturais que os antiglobalizadores tanto prezam. Por outro lado, como incansável propagador de uma ética global, porta-voz da tolerância e do respeito por outras culturas, Hesse certamente ainda tem muitos lemas a oferecer ao público-leitor jovem.Didatismo com efeitos especiais
– Direcionada sobretudo para um público adolescente, a exposição no Kulturforum de Berlim tenta traduzir numa linguagem hip o apelo de Hesse por uma harmonia universal. Resta saber se uma geração alfabetizada pelos videogames ainda acha instigante uma mostra didática e de certa forma moralizante, colorida com efeitos especiais.Anúncio