Exposição em Frankfurt retrata Dürer e seu tempo
27 de outubro de 2013"Quando se contempla os Cavaleiros do Apocalipse, é tal a riqueza de detalhes transportada para uma placa grosseira de madeira, que os olhos simplesmente transbordam", aponta Alexandra König. A historiadora de 24 anos estuda na Escola Städel de Belas-Artes e, desde outubro do ano passado, acompanha o planejamento e a montagem da exposição Dürer. Kunst – Künstler – Kontext (Dürer. Arte – Artista – Contexto), atualmente no Museu Städel, em Frankfurt.
Por volta de 280 obras de Albrecht Dürer (1471-1528) e seus contemporâneos estão expostas em dois andares. O visitante atravessa as salas de exposição sobre um tapete felpudo, a luz baixa. As paredes escuras e altas harmonizam com as obras de arte e liberam a visão para o essencial: o talento artístico e técnico do mestre de Nurembergue.
"Os pequenos detalhes escondidos nas xilogravuras são simplesmente inacreditáveis", ressalta König, enquanto observa uma das 16 páginas do Apocalipse penduradas na parede. Dürer dominava a xilogravura como nenhum artista antes dele. "Esse meio foi elevado a um novo nível artístico", assinala.
Marca Dürer
A jovem com longos cabelos ruivos e sedosos conheceu Albrecht Dürer na sala de estar de sua avó. Ela se lembra da famosa imagem de uma Lebre. Mas só quando Alexandra König começou a estudar, ela passou a se ocupar intensamente do gravador alemão – em sua época, um superstar da cena artística.
As xilogravuras e gravuras em metal de Dürer foram impressas em grande número e se espalharam rapidamente para além das fronteiras nacionais. "Ele desenvolveu tino para os negócios e estava ciente de como o mercado de arte funcionava", explica König.
Albrecht Dürer logo se transformou numa marca. Seu monograma pode ser visto em todas as obras, valendo como selo de qualidade – e de propriedade intelectual. A dimensão da influência de Dürer sobre os artistas de sua época fica evidente em duas pinturas a óleo que retratam São Jerônimo. Ao lado do quadro de Dürer, vê-se o do holandês Joos van Cleve. A segmentação da imagem e toda a postura do santo no trabalho do holandês correspondem ao modelo de Dürer, até à ponta dos dedos.
De ourives a gravador e pintor
No início da era moderna, Nurembergue, a cidade onde Dürer nasceu e viveu, era um centro cultural e econômico, o que lhe possibilitou uma fama precoce. Também a proximidade com Frankfurt, cidade de comércio, o beneficiou financeiramente, e ali ele pôde vender seus trabalhos gráficos.
No entanto, o pintor e gravador foi buscar inspiração fora de sua cidade natal. Viagens ao Alto Reno, à Itália e à Holanda puseram-no em contato com artistas e eruditos, e serviram aos negócios. Apesar disso, Alexandra König diz estar certa de que Dürer teria se tornado um artista reconhecido, mesmo em outro ambiente.
A formação como ourives foi decisiva para seu trabalho artístico, explica a historiadora. Assim ele aprendeu a trabalhar superfícies metálicas, e pôde usar esse saber técnico para a execução de gravuras em metal, cuja técnica se assemelha. Também na ourivesaria, tudo depende de traços finos, que Dürer introduziu tanto na gravura quanto na pintura.
História em quadrinhos para o imperador
Até hoje, o virtuosismo artesanal é fonte de grande parte da fascinação por Albrecht Dürer, acredita König. Por exemplo, no monumental Arco triunfal do imperador Maximiliano 1°. Juntas, suas 36 folhas formam uma xilogravura de 3,5 metros por 3 metros, uma das maiores da história da arte.
O obra também pode ser lida como uma enorme história em quadrinhos, distribuída entre as casas reais para contar e lembrar em textos e imagens as glórias do imperador. As lanças dos guerreiros nas numerosas cenas de batalha, talhadas na madeira com a espessura de um cabelo, são prova a alta qualidade do trabalho.
No segundo andar, o visitante é recebido com a peça central da exposição, o Altar Heller, um tríptico pintado por Dürer e Matthias Grünewald, por encomenda do conselheiro Jakob Heller. Seus painéis, dispersos em museus de Frankfurt e Karlsruhe, foram aqui reunidos. Os estudos preliminares do altar também estão expostos. Isso ilustra bem o objetivo perseguido pelos curadores nesta mostra: concentrar num local as obras de Dürer e posicioná-las no contexto de sua criação.
Arte viva até hoje
Segundo Jochen Sander, vice-diretor do Museu Städel e curador da exposição, a atual mostra é uma tentativa de fazer com que Dürer seja visto e compreendido de forma contemporânea. À pergunta por que o artista ainda fascina tantos, Sander tem uma resposta breve: "Ele é simplesmente um bom artista."
O curador admira a forma direta que, em muitas de suas obras, Dürer escolheu para se comunicar com o espectador.
"Estas pessoas que vemos nos retratos já estão mortas há 500 anos, e mesmo assim elas nos afetam, como se fôssemos nos deparar com elas amanhã na Antuérpia, em Frankfurt ou em Nurembergue. A coisa viva, direta: é isso que é fantástico", concluiu.