Exército do Egito ganha poder de polícia
10 de dezembro de 2012Poucos dias antes do referendo sobre o novo e controverso projeto de Constituição do Egito, o presidente do país, Mohammed Morsi, deu permissão ao Exército para prender civis. Através de um decreto, o chefe de Estado instruiu o Exército nesta segunda-feira (10/12) a cooperar com a polícia na garantia da segurança durante o referendo, agendado para sábado.
As Forças Armadas devem "ajudar temporariamente a polícia em plena cooperação" para garantir a segurança "até o anúncio dos resultados do referendo", diz o texto. Para isso, os militares receberam o poder de prender civis, direito geralmente reservado à polícia.
A organização de direitos humanos Anistia Internacional criticou duramente o decreto. O órgão acusou a medida de ser "perigosa" por poder levar ao julgamento de civis em tribunais militares.
Apesar de ser temporário, o decreto lembra a lei de emergência do deposto líder Hosni Mubarak, também introduzida com caráter temporário, sob a qual tribunais militares ou de segurança do Estado julgaram milhares de dissidentes políticos e militantes islâmicos.
O porta-voz do presidente egípcio, Yasser Ali, ressaltou que a comissão que supervisionará a votação solicitou a ajuda do Exército. "As Forças Armadas vão trabalhar dentro de um quadro jurídico para assegurar a realização do referendo, retornando (aos quartéis) logo que o referendo terminar."
Novos protestos programados
Depois de violentos protestos da oposição, Morsi anulou no sábado um controverso decreto que dava a ele poderes especiais, mas continua rejeitando um adiamento da votação sobre a Constituição. A oposição não ficou satisfeita com a retirada do decreto e convocou mais manifestações para a terça-feira.
Na noite de segunda-feira, cerca de cem pessoas marcharam rumo ao palácio presidencial. As primeiras horas dos protestos transcorreram de forma pacífica. A Irmandade Muçulmana também convocou para esta terça-feira uma passeata de apoio ao governo.
O ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, apelou novamente para que oposição e governo iniciem um diálogo. "É uma situação muito frágil, que nos preocupa muito, porque queremos o sucesso da revolução egípcia", declarou em Bruxelas.
Aumento de impostos suspenso
Nesta segunda-feira, Morsi suspendeu uma série de planejados aumentos de impostos, pouco antes de sua entrada em vigor. De acordo com a agência de notícias Mena, ele encarregou o primeiro-ministro, Hisham Qandil, de preparar um "diálogo social" para "não aumentar ainda mais o fardo sobre os cidadãos". Pouco antes, o partido de Morsi havia declarado sua oposição a qualquer política que aumente o "sacrifício para os pobres". Um porta-voz de Morsi reiterou que as medidas foram suspensas e não canceladas.
O presidente egípcio planejava aumentar, entre outros, os impostos sobre aço, cimento, refrigerantes, cerveja e cigarros. Desde a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011, o Egito atravessa uma profunda crise econômica. Especialmente o investimento estrangeiro e o turismo caíram drasticamente.
A suspensão dos aumentos faz surgirem dúvidas sobre a capacidade do governo de levar adiante reformas econômicas que fazem parte de um acordo com o Fundo Monetário Internacional, envolvendo um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares.
MD/rtr/afp
Revisão: Francis França