Emergentes
30 de janeiro de 2010O Fórum Econômico Mundial de Davos homenageou nesta sexta-feira (29/01) o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva com o prêmio Estadista Global. Lula não viajou ao encontro por motivos de saúde, e o ministro do Exterior, Celso Amorim, recebeu a honraria em nome do presidente.
O encontro deixou, mais uma vez, patente o aumento da influência dos emergentes no panorama mundial. De Estados suscetíveis a colapsos, eles se transformaram nos países que poderão salvar o mundo da crise. No entanto, nem todos os jornalistas experientes presentes no Fórum de Davos conhecem os novos magnatas da economia mundial, cuja influência já é maior do que as dos presidentes de empresas como a Siemens ou Daimler.
Um deles é Azim Premji, fundador e presidente da Wipro, a segunda maior empresa de tecnologia de informação da Índia, que hoje conta com cerca de 100 mil empregados e tem um faturamento anual de mais de 2 bilhões de euros.
No futuro, no entanto, será difícil para um jornalista de economia não se ocupar com pessoas como Premji, já que países como Índia, Brasil e Malásia se tornam cada vez mais importantes.
"Não subestimem os emergentes"
Neste ano, o chefe da Wipro foi um dos realizadores do Fórum de Davos. Premji participou da coletiva de imprensa por ocasião da abertura do Fórum sentado ao lado de um velho conhecido dos jornalistas alemães, o presidente do Deutsche Bank, Joseph Ackermann.
E é o próprio Ackermann que adverte em alto e bom tom: "Não subestimem os emergentes! Pois lá vivenciaremos um intenso desenvolvimento, que muito ajudará aos países industrializados".
Isso é o que também prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI), que da mesma forma acredita que serão os países emergentes que tirarão o mundo da crise.
Para a China, o FMI prevê um crescimento econômico neste e no próximo ano de cerca de 10%. Para a Índia, o crescimento deverá ficar por volta de 8% no mesmo período. Em comparação: o FMI prevê um crescimento abaixo dos 2% para a Alemanha em 2010.
Lições da crise
Enquanto em crises anteriores, a economia dos países emergentes sofreu consideravelmente, agora acontece justamente o contrário. Os motivos são diversos. Por um lado, em países como a Índia e a Malásia, o setor bancário não é tão importante como nos EUA e Reino Unido. Por outro lado, os governos desses países emergentes aprenderam com crises passadas e se tornaram, por esse motivo, resistentes a crises.
"Dessa forma, essa crise econômica pôde rapidamente deslocar o poder econômico no mundo", explica Peter Sands, um dos principais executivos do banco britânico Standard Chartered Bank. "Falando mais claramente: do Ocidente para o Oriente", explica Sands. Assim, segundo ele, o poder econômico se afasta daqueles que "consomem e se endividam, para se aproximar daqueles que poupam e produzem". Ou seja: do endividado importador EUA para a Índia e China.
Pois algo também mudou na relação de comércio exterior desses países. Enquanto no passado as nações emergentes viveram principalmente da exportação de produtos baratos para o Ocidente, agora sua demanda interna aumenta.
Como é o caso da Índia. O mercado de automóveis e, da mesma forma, o mercado imobiliário, vivenciam um boom. Mesmo em regiões rurais, a demanda aumentou. "Desde que essa passou a ser apoiada por programas estatais", afirma o professor de Finanças da Universidade de Chicago, Raghuram Rajan
Entrando em uma nova era de ouro?
Possivelmente, os países emergentes estão à frente de uma nova era de ouro, contanto que que resolvam alguns problemas fundamentais. A população jovem como motor do crescimento pode naturalmente levar a inseguranças sociais, caso todos aqueles homens e mulheres jovens não encontrem um emprego do qual possam viver.
"A Índia, por exemplo, tem que ampliar maciçamente sua infraestrutura", diz Raghuram Rajan. "E, além disso, o país tem que deixar de ser agrário e se transformar, finalmente, em um país industrial", acrescenta o professor.
E não somente na Índia o grande problema das diferenças sociais ainda existe. Apesar da nova classe média, a realidade continua sendo a existência de uma grande massa de pessoas muito pobres diante de alguns extremamente ricos. Diminuir o abismo social é a maior tarefa dos governos dos prósperos países emergentes.
Autor: Manfred Götzke / Carlos Albuquerque
Revisão: Marcio Damasceno