Facções extremistas avançam na AfD, diz inteligência alemã
1 de agosto de 2023O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) está se tornando progressivamente mais extremista e antidemocrático, à medida que galga as pesquisas de opinião. A avaliação é de Thomas Haldenwang, presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), serviço de inteligência doméstica da Alemanha.
Durante a convenção partidária federal da AfD do fim de semana (29-30/07), na cidade de Magdeburg, na Saxônia-Anhalt, na qual foram selecionados os candidatos para as eleições do Parlamento Europeu de 2024, alguns deles teriam manifestado "teorias da conspiração de extrema direita", relatou Haldenwang à agência de notícias alemã DPA.
Entre elas, estariam narrativas abertamente racistas, como a da "Grande Substituição", proposta pelo teórico da conspiração francês Renaud Camus, segundo a qual as elites políticas estariam deliberadamente introduzindo migrantes não brancos na Europa com o fim de suprimir a raça branca.
A convenção "mais uma vez confirmou nossa avaliação de que há elementos fortemente anticonstitucionais no partido, cuja influência está aumentando", e todos os moderados remanescentes ficaram totalmente apagados no processo de seleção, resumiu o chefe do BfV.
Ecos do nazismo
A política da AfD Irmhild Bossdorf, que ficou em nono lugar na seleção, por exemplo, empregou o termo "remigração", antes disseminado pelo ultranacionalista Movimento Identitário, e advertiu que os alemães deveriam ter mais medo da "mudança populacional de fabricação humana" do que da mudança climática.
Em 2022, um tribunal da cidade de Colônia concluiu que a "agitação xenófoba em massa" do movimento expressava "desprezo pelos direitos humanos especificados na Lei Fundamental", a Constituição da Alemanha. Expressões como "remigração" ou "chega de mudança da população" seriam hostis aos estrangeiros e ao islã.
Na atual convenção, sob o lema "Pronta para mais", diversos delegados da AfD reclamaram de "multiculturalismo" e de "imigração em massa".
As quotas de imigração, a alocação forçada de migrantes, tudo isso é um atentado contra tudo aquilo que prezamos: nossa cultura, nossa religião, sim, a nossa pátria", disse Petr Bystron, da Baviera.
A imprensa alemã divulgou durante o fim de semana diversas citações anti-União Europeia do evento. Björn Höcke, líder da AfD no estado da Turíngia, afirmou à emissora Phoenix que "esta UE precisa morrer para que a verdadeira Europa viva".
Num tuíte, o historiador Matthäus Wehowski ressaltou que essa frase do político ultradireitista ecoava uma manchete do jornal da era nazista Völkischer Beobachter, segundo a qual os soldados alemães teriam morrido em Stalingrado "para que a Alemanha possa viver".
"UE fala de crises e guerra, a AfD de prosperidade e paz"
O próprio Maximilian Krah, de 46 anos, que foi eleito principal candidato dos ultradireitistas ao Parlamento Europeu, comentou à emissora DLF na segunda-feira que gostaria de reduzir a Comissão Europeia em 80%.
"A UE tem uma agenda muito simples no momento: falar quase exclusivamente da crise climática, questões de gênero, imigração e guerra. A AfD, no entanto, fala de prosperidade, família, gente e paz", declarou.
Indagada pela DW sobre os extremistas em seu partido, a destacada política Beatrix von Storch argumentou: "Não estou dizendo que não tenhamos nenhum tipo de problema. Ninguém diz isso, nem o diretório do partido. Mas não é que esse seja problema da AfD. O problema da Alemanha é que precisamos de uma direção diferente para a nossa política ir em frente."
O Departamento Federal de Proteção da Constituição tem como missão monitorar grupos extremistas na Alemanha e avaliar que ameaças podem representar para a ordem democrática nacional, como definida na Lei Fundamental. No momento, a agência classifica a AfD como "caso suspeito", mantendo, portanto, a legenda sob certas medidas de vigilância.