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Facções extremistas avançam na AfD, diz inteligência alemã

1 de agosto de 2023

Na convenção em que o partido de ultradireita escolheu seus candidatos ao Parlamento Europeu, os mais moderados ficaram apagados. Teóricos da conspiração, racistas, xenófobos e eurocéticos ganham terreno na AfD.

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Tino Chrupalla fala em um púlpito em frente a um painel da AfD
Tino Chrupalla, colíder de uma AfD "pronta para mais"Foto: Frank Hoermann/SVEN SIMON/picture alliance

O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) está se tornando progressivamente mais extremista e antidemocrático, à medida que galga as pesquisas de opinião. A avaliação é de Thomas Haldenwang, presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), serviço de inteligência doméstica da Alemanha.

Durante a convenção partidária federal da AfD do fim de semana (29-30/07), na cidade de Magdeburg, na Saxônia-Anhalt, na qual foram selecionados os candidatos para as eleições do Parlamento Europeu de 2024, alguns deles teriam manifestado "teorias da conspiração de extrema direita", relatou Haldenwang à agência de notícias alemã DPA.

Entre elas, estariam narrativas abertamente racistas, como a da "Grande Substituição", proposta pelo teórico da conspiração francês Renaud Camus, segundo a qual as elites políticas estariam deliberadamente introduzindo migrantes não brancos na Europa com o fim de suprimir a raça branca.

A convenção "mais uma vez confirmou nossa avaliação de que há elementos fortemente anticonstitucionais no partido, cuja influência está aumentando", e todos os moderados remanescentes ficaram totalmente apagados no processo de seleção, resumiu o chefe do BfV.

Ecos do nazismo

A política da AfD Irmhild Bossdorf, que ficou em nono lugar na seleção, por exemplo, empregou o termo "remigração", antes disseminado pelo ultranacionalista Movimento Identitário, e advertiu que os alemães deveriam ter mais medo da "mudança populacional de fabricação humana" do que da mudança climática.

"Extremistas não imporão sua vontade", diz Scholz

Em 2022, um tribunal da cidade de Colônia concluiu que a "agitação xenófoba em massa" do movimento expressava "desprezo pelos direitos humanos especificados na Lei Fundamental", a Constituição da Alemanha. Expressões como "remigração" ou "chega de mudança da população" seriam hostis aos estrangeiros e ao islã.

Na atual convenção, sob o lema "Pronta para mais", diversos delegados da AfD reclamaram de "multiculturalismo" e de "imigração em massa". 

As quotas de imigração, a alocação forçada de migrantes, tudo isso é um atentado contra tudo aquilo que prezamos: nossa cultura, nossa religião, sim, a nossa pátria", disse Petr Bystron, da Baviera.

A imprensa alemã divulgou durante o fim de semana diversas citações anti-União Europeia do evento. Björn Höcke, líder da AfD no estado da Turíngia, afirmou à emissora Phoenix que "esta UE precisa morrer para que a verdadeira Europa viva".

Num tuíte, o historiador Matthäus Wehowski ressaltou que essa frase do político ultradireitista ecoava uma manchete do jornal da era nazista Völkischer Beobachter, segundo a qual os soldados alemães teriam morrido em Stalingrado "para que a Alemanha possa viver".

Alice Weidel fala em um púlpito, em frente a um grande painel da AfD
Colíder da AfD Alice Weidel: "Pronta para mais"Foto: AFP

"UE fala de crises e guerra, a AfD de prosperidade e paz"

O próprio Maximilian Krah, de 46 anos, que foi eleito principal candidato dos ultradireitistas ao Parlamento Europeu, comentou à emissora DLF na segunda-feira que gostaria de reduzir a Comissão Europeia em 80%.

"A UE tem uma agenda muito simples no momento: falar quase exclusivamente da crise climática, questões de gênero, imigração e guerra. A AfD, no entanto, fala de prosperidade, família, gente e paz", declarou.

Indagada pela DW sobre os extremistas em seu partido, a destacada política Beatrix von Storch argumentou: "Não estou dizendo que não tenhamos nenhum tipo de problema. Ninguém diz isso, nem o diretório do partido. Mas não é que esse seja problema da AfD. O problema da Alemanha é que precisamos de uma direção diferente para a nossa política ir em frente."

O Departamento Federal de Proteção da Constituição tem como missão monitorar grupos extremistas na Alemanha e avaliar que ameaças podem representar para a ordem democrática nacional, como definida na Lei Fundamental. No momento, a agência classifica a AfD como "caso suspeito", mantendo, portanto, a legenda sob certas medidas de vigilância.