Farmacêuticas alemãs contestam estudo feito por ONG no Brasil
4 de dezembro de 2012Consultadas pela DW Brasil, as empresas farmacêuticas alemãs Bayer HealthCare e Boehringer Ingelheim contestaram as acusações apresentadas no estudo Às custas dos pobres, realizado pela ONG alemã Bundeskoordination Internationalismus (Buko, na sigla em alemão). No estudo, os preços, a qualidade de remédios e publicidade de empresas farmacêuticas no Brasil foram questionados.
A Bayer rejeitou com veemência as acusações feitas pela Buko. "O estudo publicado descreve nossas atividades de forma incompleta e negiglencia informações por nós previamente disponibilizadas e tornadas públicas, como por exemplo nosso engajamento na área da doença de Chagas", respondeu a empresa.
A Bayer disse ainda que vai se reunir no início de dezembro com representantes da Buko para debater o conteúdo e a metodologia do estudo.
Outra farmacêutica alemã, a Boehringer Ingelheim, respondeu que comercializa apenas medicamentos com resultados positivos na avaliação benefício-risco, ou seja, "na qual o benefício se sobrepõe aos possíveis riscos à saúde." A empresa disse ainda que a decisão de liberar um produto no mercado cabe apenas às autoridades de saúde nacionais.
A Boehringer Ingelheim disse ainda que mantém um "diálogo crítico" constante também com a Buko e disponibiliza informações sobre os produtos por ela oferecidos em países em desenvolvimento.
Posição da Bayer HealthCare
No relatório, a Bayer HealthCare foi criticada por vender caro o medicamento Nexavar, muito importante no tratamento do câncer de fígado e que custa no Brasil – por mês para cada paciente – cerca de 7.300 reais, afirma o estudo.
Outra crítica foi a "mistura absurda de vitaminas" – considerada problemática por especialistas, uma vez que a reação do corpo à ingestão concomitante de tantos princípios ativos seria imprevisível – no composto Supradyn Pré-Natal.
A Bayer disse que as "declarações e números" sobre os custos de pesquisa do Nexavar apresentados no estudo estão errados. A empresa afirmou ainda que o desenvolvimento de um novo medicamento é um processo longo, complexo, arriscado e com custos que podem ultrapassar 1 bilhão de euros. "Além disso, os preços de medicamentos são negociados com as autoridades locais e estão sujeitos a diferentes margens de lucro, impostos e outros fatores."
Sobre a segurança dos seus medicamentos, a empresa afirmou que "todos os estudos clínicos [para a liberação de medicamentos] se submetem a rigorosos princípios éticos e científicos internacionais e preenchem, sem exceção, as exigências das autoridades locais de saúde", acrescentando que a liberação de novos medicamentos só ocorre após testes de eficácia e segurança por autoridades locais e internacionais.
Além disso, "a Bayer se comprometeu com o marketing responsável, segundo padrões internacionais, especificados por códigos de conduta e preceitos externos. Todas as atividades de marketing ocorrem, em todo o mundo, em estrita concordância com as leis e normas nacionais".
Posição da Boehringer Ingelheim
A Boehringer Ingelheim foi criticada por comercializar no Brasil o Buscopan Composto, proibido em outros países por conter a substância ativa metamizol. O estudo afirma que a substância pode desencadear diversas reações adversas no corpo, além de provocar uma redução drástica de glóbulos brancos, importantes para o sistema imunológico.
A empresa respondeu que está convencida do "perfil de segurança e eficácia" da família de produtos Buscopan. Segundo ela, o medicamento é aprovado em mais de 20 países, incluindo Bélgica, Espanha, Argentina e Brasil.
A Boehringer Ingelheim afirmou ainda que a relação benefício-risco é analisada e avaliada de forma contínua pela empresa e pelas autoridades de autorização e de controle, com base em todas as informações disponíveis. "Assim asseguramos que nossos medicamentos são eficazes e seguros."
De acordo com a empresa, na Alemanha os dois princípios ativos do Buscopan Composto – metamizol e brometo de n-butilescopolamina – estão disponíveis no mercado isoladamente e podem ser combinados de forma livre.
A empresa disse ainda que havia uma campanha publicitária para a família de produtos Buscopan no Brasil, mas que esta foi exibida pela última vez em setembro de 2012.
Autores: Fernando Caulyt / Christina Weise
Revisão: Francis França / Alexandre Schossler