"Fechar fronteira com Venezuela não ajuda", diz ministro
20 de agosto de 2018Após imigrantes venezuelanos acampados na cidade de Pacaraima, no norte de Roraima, serem alvo de ataques no fim de semana, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Sérgio Etchegoyen, afirmou nesta segunda-feira (20/08) que o governo descarta totalmente o fechamento da fronteira do estado com a Venezuela.
"É impensável, porque é ilegal. A lei brasileira de migração determina o acolhimento de refugiados e imigrantes nessa situação. [Fechar a fronteira] é uma solução que não ajuda em nada a questão humanitária", afirmou.
O governo federal determinou, o envio de uma comitiva interministerial ao estado para avaliar a situação dos imigrantes. Técnicos de sete ministérios serão encarregados de apontar o que pode ser feito para amenizar a situação em Paracaima e Boa Vista.
Em entrevista coletiva a jornalistas em Brasília, Etchegoyen afirmou que a expectativa é que o grupo, que ficará apenas 24 horas no local, retorne à capital federal com "resultados de descompressão" para garantir uma resposta rápida.
Segundo ele, o governo avalia a situação como tranquila. "Obviamente há tensão, mas não há conflito, nem expectativas de incitamento de conflito neste momento", disse.
A reação do governo federal ocorre após a situação, que já era tensa em Pacaraima por causa da intensa entrada de imigrantes, virar cenário de guerra. No último sábado, um grupo de brasileiros armados com pedras, paus e bombas caseiras atacou venezuelanos que estavam acampados na cidade. Tendas onde os migrantes estavam abrigados foram queimadas e pertences destruídos.
O ato de violência foi convocado após um assalto sofrido por um comerciante brasileiro, supostamente cometido por venezuelanos na sexta-feira. O comerciante teve 23 mil reais roubados e foi agredido.
Para reforçar a segurança na cidade palco de conflito entre brasileiros e venezuelanos, 60 integrantes da Força Nacional foram enviados ao local na manhã desta segunda-feira. Outros 60 chegam nos próximos dias. "Precisamos levar viaturas e outras infraestruturas porque lá esse recurso não existe", justificou o ministro.
Etchegoyen, que é general do Exército, afirmou ainda que não há risco para brasileiros na região, inclusive para os que moram do lado venezuelano, em Santa Elena de Uairén, cidade a 15 km da fronteira com o município de Pacaraima.
Além disso, informou que as estruturas de defesa local permanecem preservadas e salientou que o governo de Roraima nunca solicitou o emprego das Forças Armadas no reforço da segurança fora da região fronteiriça.
Segundo ele, para a expedição de um decreto para Garantia da Lei e da Ordem (GLO), autorizando o emprego das Forças Armadas em Roraima, o governo do estado precisa declarar o esgotamento dos recursos de segurança pública, definir as regiões de atuação e o que necessita ser feito.
"O ofício da governadora [Suely Campos, enviado anteriormente] pedia o patrulhamento da zona de fronteira e isso a lei já autoriza de ofício", explicou.
Etchegoyen apontou que os atos que ocorreram no sábado não são crimes transfronteiços, mas crimes comuns. "Nesses, o Exército não pode agir mesmo que esteja na região de fronteira", diferenciou.
Tensão na região
Entre as medidas que o governo já calcula como necessárias para aliviar a tensão na região estão o refinamento das questões de saúde e vacinação, a eventual ampliação de abrigos existentes e aceleração da construção de novos.
Está previsto ainda o estabelecimento de comunicações mais confiáveis e efetivas. A região sofre com um problema grave de conexão à internet, e todo o sistema jurídico e judicial brasileiro está online, além do sistema que a Polícia Federal utiliza para controle da fronteira.
O governo garantiu ainda que está tomando todas as medidas para acelerar o processo de interiorização dos venezuelanos, transferindo aqueles que quiserem para outros estados brasileiros.
Outra preocupação, que virou tema de uma reunião da cúpula do governo federal também nesta segunda-feira, diz respeito ao fornecimento de energia elétrica à região. "Temos que resolver o problema da segurança energética que Roraima vive, porque eles dependem do envio de energia da Venezuela. A qualquer momento, no caminho que vai aquele país, isso pode colapsar", declarou, sem dar mais detalhes.
Com a grave crise política e econômica que atinge a Venezuela, centenas de milhares de pessoas têm deixado o país, a maior parte com destino à Colômbia e ao Equador. Entre 2017 e 2018, mais de 120 mil venezuelanos entraram em Roraima. Mais da metade deles já deixou o Brasil. Em julho, o governo brasileiro informou que 4 mil venezuelanos permaneciam em abrigos em Roraima.
O conflito deste sábado – que motivou cerca de 1.200 venezuelanos a deixar o Brasil às pressas, de acordo com o Exército – não foi o primeiro na região. Em fevereiro, um cidadão da Guiana foi acusado de ter ateado fogo em uma família venezuelana em Boa Vista. A crise na região tem levado o governo de Roraima a solicitar regularmente o fechamento da fronteira.
Nesta segunda-feira, o governo do estado voltou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão temporária da entrada de imigrantes em território brasileiro, na tentativa de evitar conflitos e o "eventual derramamento de sangue entre brasileiro e venezuelanos".
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