Feira em Colônia reflete crescimento do mercado de arte no mundo
22 de novembro de 2014
Martelar frenético, medições e gente pendurando coisas. A movimentação é frenética na maior parte dos cerca de 100 estandes no primeiro dia da feira Cologne Fine Art & Antique, em Colônia. O assistente de galeria Lutz Rüweler dá uma última polida na lâmpada de prata, uma raridade dos anos 1970. As pinturas são penduradas em uma posição mais atraente, a iluminação é checada, os arranjos florais são ajeitados. A arte é uma coisa bela, mas dá muito trabalho. Assim, os expositores se preparam para receber a clientela.
A feira é uma câmara de maravilhas do tempo, cheia de pinturas, esculturas e mobiliário antigo. Artesanato faz parte dessa mistura de coisas belas, assim como carros antigos reluzentes. Tudo isso pode ser visto nos pavilhões em Colônia até domingo (23/11).
Otimismo e reclamações
"O mercado de arte alemão vai muito bem", comemora Thole Rotermund, porta-voz da Associação Federal Alemã de Galerias e Comerciantes de Arte (BVDG, na sigla original). "Por enquanto", acrescenta. Ele é otimista, mas também se queixa de altos impostos e taxas. Essa é uma velha tradição dos negociantes de arte, na qual até mesmo a ministra alemã da Cultura, Monika Grütters, se encaixa.
"O mercado de arte na Alemanha está em risco", alertou a política em agosto, acrescentando que quem trabalha no ramo está em desespero. Artistas são, segundo ela, ameaçados de desemprego, galerias menores de falência, enquanto as grandes optam, cada vez mais, por fazer seus negócios no exterior.
Amarelo é a cor da banana na capa do álbum do Velvet Underground, uma obra gráfica de Andy Warhol. Klaus Benden pendura o trabalho emoldurado com orgulho em seu estande. Numa etiqueta está o preço: 950 euros. É um dos itens baratos da feira de arte.
"Procuro convencer meus colecionadores a não levar tais coisas a leilão", diz o dono de galeria. "Casas de leilão não contribuem em nada para a construção da carreira de um artista, mas somente se deitam na cama que já está feita", reclama. Ele se refere à concorrência existente entre diferentes modelos de comércio de arte, representados pelas casas de leilão e pelas galerias de arte.
Excesso de dinheiro prejudica museus
Há alguns dias, os trabalhos de Warhol Triple Elvis e Four Marlons renderam 130 milhões de dólares à administradora de casinos alemã Westspiel, de propriedade do estado de Renânia do Norte-Vestfália, em um leilão da Christie's, em Nova York. Diretores de museus da Alemanha ficaram alarmados, se queixaram de uma iminente liquidação cultural.
"Há muito que os museus já não podem mais, por falta de dinheiro, concorrer no mercado de arte", afirmou o presidente da Associação Alemã de Museus, Eckart Köhne.
O mercado de arte em expansão, com novos recordes de preços, tem causado dificuldades a muitos museus. "Só pelos altos valores do seguro das obras, cada vez menos casas têm condições de montar grandes exposições sem patrocinadores", constata o especialista em seguro de arte da gigante alemã de seguros Allianz Georg von Gumpenberg. "Há realmente no momento uma grande quantidade de dinheiro no mundo", diz.
Poucas vezes o negócio de arte esteve melhor e não há indícios que ele venha a piorar tão cedo. Dentro de apenas um ano, leilões de arte contemporânea arrecadaram no mundo cerca de 1,6 bilhão de euros, enquanto que o faturamento total com arte é sete vezes maior.
Somente o mais recente leilão na Christie's arrecadou 850 milhões de dólares. "Isto é equivalente ao volume de negócios anual estimado de todo o comércio de arte alemão", estima Rotermund da BVDG. Ele não vê uma situação crítica para a indústria de arte. Mas ressalta que foi necessário unir forças. Muitas organizações se fundiram, outras desapareceram. Hoje, a BVDG é a maior associação comercial de arte europeia, segundo Rotermund.
"A arte inspira, dinheiro não"
O artista alemão Gerhard Richter chegou a classificar de "insuportáveis e perversas" as "grandes somas" que suas obras atingem regularmente no mercado de arte. Atualmente, ele é um dos artistas mais desejados do mundo. Colecionadores pagam qualquer preço por suas obras. É isso que mostra também a Larry's List, um banco de dados de colecionadores baseado na internet.
O projeto de pesquisa, financiado pela iniciativa privada, contou com a colaboração de 25 pesquisadores de 20 países, que reuniram informações sobre arte contemporânea. Uma descoberta surpreendente: a Europa reúne a maioria dos colecionadores, seguida pela América do Norte e a Ásia. O colecionador de arte tem, em média, 59 anos de idade, sendo significativamente mais jovem na Ásia.
Hans-Peter Jochum é especialista em design do século 20. Em seu estande, ele expõe móveis, luminárias e vasos. As peças têm uma coisa em comum: cada item representa uma ideia de design especial. "As pessoas se dispõem a pagar por coisas especiais", afirma Jochum. "Ao comprar, você leva algo de especial para casa que serve diariamente de inspiração e satisfação. Enquanto que dinheiro no banco não produz o mesmo efeito", compara.
As maiores obras de Andy Warhol não podem ser encontradas na Cologne Fine Art & Antique. Mas o artista disse certa vez algo que combina muito bem com o evento de Colônia. "Ganhar dinheiro é arte. Trabalho é arte. E fazer um bom negócio é a melhor de todas as artes."