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Cúpula de Lima

Christian F. Trippe (lk)15 de maio de 2008

Comissária das Relações Exteriores fala à DW-TV sobre necessidade de que AL e UE unam forças em prol da coerência social e do combate à pobreza.

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Benita Ferrero-Waldner em entrevista ao 'Journal' da DW-TVFoto: DW-TV

Em entrevista à DW-TV, a comissária das Relações Exteriores da União Européia, Benita Ferrero-Waldner, fala de suas expectativas em relação à 5ª Cúpula ALC-UE, que se realizará em Lima nos dias 16 e 17 deste mês.

Em sua opinião, é importante que os países latino-americanos se conscientizem da importância de que o crescimento econômico reverta em benefício dos indivíduos. E que os dois blocos unam forças para combater os fatores que colocam em risco a coerência social e o combate à pobreza. Na produção sustentável de biocombustíveis, o Brasil desempenha um papel importante, diz a comissária.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida ao Journal da DW-TV.

DW-TV: Quais são os interesses da União Européia na América Latina?

Benita Ferrero-Waldner: Temos grandes interesses. Em primeiro lugar, eu diria que, do ponto de vista cultural, histórico e também no que diz respeito aos nossos valores comuns, a América Latina e a Europa são muito próximas. Mas nós, europeus, somos também os primeiros investidores e os segundos maiores parceiros comerciais desse grande continente. Portanto temos interesses enormes.

No último encontro desta espécie, em Viena há dois anos, o chefe de Estado da Venezuela, Hugo Chávez, concentrou todas as atençõe,s com seus pronunciamentos polêmicos. A senhora não teme que isto volte a acontecer?

Acho que é principalmente uma responsabilidade da mídia. Talvez os meios de comunicação tenham relatado muito pouco sobre o que aconteceu na cúpula. E nós apresentamos lá de fato um programa excelente. Nós o preparamos na Comissão, participei do processo e me lembro muito bem. Mas, no fundo, houve muito pouca cobertura a esse respeito. Espero que isto não volte a acontecer em Lima. Seria pena, porque temos dois grandes blocos temáticos. Um é justamente a questão da coerência social, quer dizer, o autêntico combate à fome, e o segundo é a conexão desse tema com as mudanças climáticas e com a questão da segurança energética. Mas questões sobre a imigração também desempenharão um papel importante. Portanto, temas muito importantes.

Qual meta concreta deve ser atingida na cúpula de Lima, em sua opinião?

Parece-me essencial que os Estados latino-americanos compreendam que a coerência social é muito importante, a fim de que o crescimento econômico – que é um fato hoje na América Latina – beneficie de fato cada indivíduo. Ao mesmo tempo, que se conscientizem de que os grandes temas globais da atualidade – as mudanças climáticas e a segurança energética – são fatores de risco para a coerência social e desempenham um papel importante no combate à pobreza. E que precisamos unir forças para tomar medidas contra eles.

Certas ONGs afirmam que a demanda dos europeus por biocombustível aumenta a fome na América Latina, pois contribui para reduzir as áreas lá destinadas ao cultivo de gêneros alimentícios. A senhora concorda com essa opinião?

Essa é uma visão míope, que carece de qualquer fundamento. O que queremos é que apenas 10% das energias renováveis, principalmente no setor do transporte, seja destinado à produção de biocombustível. Esse é um dos aspectos. O segundo tem a ver com o tipo de biocombustível em questão. Os biocombustíveis têm que ser resultado de uma produção sustentável, não utilizar plantas destinadas à alimentação. É preciso cultivar sem destruir. Neste ponto, o Brasil, por exemplo, desempenha um papel importante. E o Brasil ainda dispõe de áreas enormes, hoje cobertas por pastos, que no futuro serão transformadas em áreas de cultivo.

Muitos países latino-americanos têm governos populistas de esquerda, neomarxistas, enquanto na União Européia predomina a tendência liberal-conservadora. É fácil estabelecer um diálogo nessas condições?

Nós nos esforçamos. Na minha opinião, o diálogo é a única possibilidade. Claro que existem divergências de opiniões, mas para nós o mais importante é que essas lideranças tenham resultado de um processo democrático em seus países. Também precisamos levar em consideração as condições econômicas e também sociais nesses países. Elas é que levaram a uma predominância da esquerda no momento.

A UE deve buscar uma aproximação com Raúl Castro em Cuba, como exige a Espanha, por exemplo?

Sou favorável a um diálogo construtivo com Cuba. Mas também esperamos dos cubanos avanços autênticos. Raúl Castro libertou de fato alguns dos dissidentes que estavam presos há anos. Também houve certa liberalização no setor de telecomunicações. Esses são os primeiros passos. Mas esperamos impulsos muito maiores.

Os tchecos, e também representantes de outros países que foram comunistas, vêem essa aproximação com ceticismo...

Sim, existem opiniões divergentes no Conselho Europeu, é verdade. A República Tcheca é um dos países que se opõem. Mas é claro que nós também abordamos a questão dos direitos humanos. Mas acho que precisamos mostrar que, se Cuba se move, nós também nos movemos. Claro que em pequenos passos, não é preciso passar de oito a oitenta.

A senhora é a favor da abolição definitiva das sanções da EU contra Cuba?

Não sou favorável a uma abolição definitiva. Sou a favor de mantê-las por enquanto, mas de afrouxá-las aos poucos, quando registrarmos passos positivos de Cuba. Ainda não chegamos lá, mas já há os primeiros sinais. Agora também precisamos nos mostrar capazes de uma reação positiva.