Festival de Bayreuth abre espaço para a nova geração
24 de julho de 2003O Festival de Bayreuth abre suas portas no dia 25 de julho de 2003 com uma nova montagem da ópera O Navio Fantasma, do diretor Claus Guth e direção musical do maestro Marc Albrecht. Ambos têm menos de 40 anos e fazem sua estréia em Bayreuth.
Eles trabalharam juntos em 2001 em Dresden, na estréia da ópera Celan, do compositor alemão Peter Ruzicka. Foi o diretor do festival, Wolfgang Wagner, quem os convidou, como parte do seu projeto de renovação.
Aos 83 anos de idade, o neto de Wagner dirige Bayreuth há mais de 50 anos. No ano passado, resolveu que não iria encenar mais nenhuma ópera e tratou de abrir espaço para novos talentos e idéias.
O diretor Christoph Schlingensief - enfant terrible do mundo teatral europeu - irá dirigir em 2004 uma nova montagem de Parsifal. Em 2005, Christoph Marthaler levará ao palco Tristão e Isolda. E, em 2006, será a vez do controvertido diretor de cinema dinamarquês Lars von Trier. Ele está incumbindo de uma nova encenação do Anel do Nibelungo, a chamada Tetralogia.
Nazismo e modernidade
Fundado em 1876, o Festival de Bayreuth sempre acompanhou as mudanças políticas e estéticas. Uma de suas épocas mais sombrias foi durante o Terceiro Reich, quando serviu de plataforma à ideologia nazista. A montagem de Os Mestres Cantores de Nurembergue com o coro de soldados da SS simboliza esta nefasta aliança.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o festival ressuscitou, abrindo-se à modernidade. Um dos seus mais controvertidos momentos foi a montagem da Tetralogia, em 1976, ano do centenário de Bayreuth, pelo diretor francês Patrice Chéreau, com regência de Pierre Boulez.
A representação de O Crespúsculo dos Deuses (última ópera da Tetralogia) foi seguida de mais de trinta minutos de aplausos e insultos irados dos tradicionais wagnerianos. Mas, no final das contas, as montagens de Chéreau resgataram o prestígio de Bayreuth, que deixou de ser apenas um templo wagneriano para tornar-se uma oficina de teatro contemporâneo.
Entre tradição e renovação
O Festival de Bayreuth está apostando numa mistura entre a tradição e a renovação, para solidificar o seu prestígio no século 21. Os novos diretores, como Schlingensief, Marthaler e Trier "não são iconoclastas, que irão destruir o templo wagneriano", afirma Peter Emmerich, porta-voz do festival. O importante, segundo ele, é desenvolver interpretações contemporâneas que justifiquem a singularidade e necessidade de Bayreuth no futuro.
Arte e política
Durante a sua vida, Richard Wagner dedicou-se tanto à arte quanto à política. Suas óperas chocaram com freqüência o público da época e Wagner ganhou a fama de ser um provocador.
"Foi um momento muito especial quando me convidaram por telefone para trabalhar em Bayreuth", confessou à DW o diretor Christoph Schlingensief. "Sonhava com este convite há muitos anos."
Schlingensief afirma que não está interessado em fazer o papel de provocador, mas simplesmente em montar óperas. A música, segundo ele, é algo que vem de dentro: "ela arranca as imagens que estavam dentro de mim, antes de serem expostas".