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Festival em Berlim destaca a cultura urbana dos países que falam português

Marco Sanchez17 de maio de 2013

Ritmos como o funk carioca e o kuduro saíram das periferias de seus países e ganharam o mundo. O Lusotronics apresenta o melhor dessa cultura digital e urbana em português.

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Foto: Maria Emilia Abrantes

Mostrar a música digital, a cultura urbana e o estilo de vida de países que falam português é o objetivo do festival Lusotronics, que acontece neste sábado e domingo (18 e 19/05) em Berlim e reúne nomes como Bonde Do Rolê, Batida, João Brasil e Cibelle, Titica, Edu K, Dama Do Bling, Throes & The Shine, DJ Marfox, DJ Comrade e outros.

Nas últimas décadas, novos estilos musicais, que misturam formas baratas de fazer música com base eletrônica e ritmos locais, nasceram na periferia das grandes cidade de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal.

Indo muito além da música, novos gêneros musicais criaram pequenas revoluções culturais e sociais que ganharam força com a internet, expandindo barreiras dentro de seus países e ganhando o mundo como uma cultura emergente.

Hoje, gêneros como o funk carioca, o kuduro, o tecno-brega e o funana são o reflexo de uma crescente digitalização e de uma rede de comunicação formada por artistas desses países. Produzidos com instrumentos digitais baratos, esses gêneros nasceram nas periferias de Luanda, Rio de Janeiro, Maputo, Belém ou Lisboa e chegam rapidamente a clubes e festas ao redor do mundo.

Encarando o fenômeno como um sintoma positivo da globalização, o festival surgiu a partir do programa de rádio Luso FM, dedicado à música eletrônica feita em países que falam português e comandado pelo DJ e produtor Daniel Haaksman.

"Percebi o grande número de novos artistas e um aumento na qualidade do que está sendo produzido, então decidi criar uma plataforma para eles em Berlim. Esses artistas se influenciam, mas raramente tem a oportunidade de se conhecer pessoalmente. Berlim é o local ideal para eles se reunirem e permite uma visão mais objetiva do novo fenômeno musical no mundo lusófono", disse Haaksman, que também é o curador do evento.

Primeiro o asfalto, depois o mundo

Na última década, dois gêneros foram responsáveis por levar essa nova música para o mundo: o funk carioca e o kuduro.

Daniel Haaksman
Festival é comandado pelo DJ Daniel HaaksmanFoto: Man Recording

"O impacto do kuduro em Angola é muito forte. Depois de ser associado à marginalidade, ele foi chegando aos poucos à sociedade através de programas de televisão e festivais de música", explica a DJ e musicóloga alemã Stefanie Alisch, uma das palestrantes e DJs do festival.

Ela dedica seu projeto de doutorado ao gênero. "Em minha tese, estou abordando o kuduro e sua relação entre política e prazer. Desde sua luta colonial, os angolanos sabem mobilizar o poder da música popular. Penso que o prazer reumaniza pessoas em contextos de dificuldades, como a escravidão e a guerra", avalia.

O kuduro existe há mais de 20 anos, bebe muito da música congolesa e sul-africana. Já há alguns anos saiu da periferia e chegou ao asfalto, como dizem os angolanos.

Assim como o tecno-brega e o baile funk, o kuduro é mais do que um gênero musical. "O kuduro é música, dança e estilo de vida ao mesmo tempo. O sucesso de uma música é medido pelo sucesso dos movimentos da dança criada por ela, chamados de toques. Os toques vêm de situações do dia a dia angolano", diz Alisch.

Outro ponto em comum é a forma de distribuição. "O kuduro criou seu próprio mercado com pequenos estúdios e produtoras que administram, lançam e marcam os shows dos artistas. A venda na rua chama 'zunga' e até os mais estabelecidos artistas lançam seus discos na Praça da Independência, em Luanda. As pessoas vão e esperam para poder comprar o disco da mão do artista", conta.

O desenvolvimento histórico de Angola explica a importância no país do gênero, que através de artistas como a transexual Titica [foto principal] discute temas como o homossexualismo. A cantora é uma estrela no país e despertou atenção de artistas da vanguarda pop, como a islandesa Björk.

"O Brasil se tornou independente em 1822 e pelo menos a partir da Semana de 22 está ativamente na busca de uma identidade cultural. Hoje utiliza a música popular para mostrar o país internacionalmente. As antigas colônias portuguesas na África se tornaram independentes só um ano depois da Revolução dos Cravos, em 1975. Em consequência da guerra civil em Angola, muitas pessoas foram viver no exterior", diz Alisch. Consequentemente, esse intercâmbio foi se intensificando e criando novas formas de manifestações culturais.

"Sou megafã da Titica. Mal posso esperar para ver a Dama do Bling ao vivo e finalmente assistir ao Throes & The Shine. É sempre bom rever o Marfox e o Benjamin tocando, e também estou supercuriosa para ver a evolução musical do Edu K", destaca Alisch.

Inéditos na Alemanha

A seleção do festival traça um panorama dos principais nomes no Brasil, na África e na Europa. "Selecionei artistas que são relevantes nas cenas de seus países e que receberam certo reconhecimento internacional. Muitos desses talentos nunca se apresentaram em palcos berlinenses, como a Dama do Bling e o Throes & The Shine, ou até mesmo na Europa, como é o caso da Gang do Eletro", explica Haaksman.

Berlin - Eröffnung Tecno Brega DJ Waldo Squash
DJ Waldo Squash, da Gang do Eletro, um dos grupos que vão se apresentar no LusotronicsFoto: Taiana Laiun

O festival ainda conta com palestras e uma mostra de documentários. "O Brasil está em evidência na Alemanha, mas poucas pessoas sabem o que está acontecendo em Angola, Moçambique e até mesmo em Portugal em termos de música, então as palestras são uma boa introdução para esses países", diz o curador.

No sábado, o foco do festival é Angola, Moçambique e Portugal. A mostra de filmes tem ênfase em Angola, já que a cena do kuduro gerou muitos filmes interessantes. O Brasil é o destaque no domingo, com shows e documentários sobre o funk carioca e o recente fenômeno do tecno-brega.

O festival Lusotronics acontece no sábado (18/05) e no domingo (19/05) no clube Gretchen, em Berlim.