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Festival tira digitais da sombra

Soraia Vilela16 de setembro de 2002

Berlim sedia primeiro festival competitivo de cinema digital na Alemanha. Além da mostra principal e dos ciclos paralelos, oficinas e painéis discutem novas formas de criação, produção e distribuição do gênero.

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"Meu Irmão, o Vampiro", que participa do b.film + digital visionFoto: presse

Há muito, o cinema digital deixou de pertencer ao nicho de produções low budget, não sendo mais usado apenas como um meio barato escolhido na ausência do celulóide. No entanto, se por um lado cada vez mais cineastas realizam seus trabalhos com câmeras DV, por outro, as possibilidades técnicas de projeção e distribuição do cinema digital ainda caminham a passos de tartaruga.

Geração digital —

O número de filmes — de ficção e documentários — realizados com DVs cresceu assustadoramente nos últimos anos. Diretores jovens obtêm sucesso de público e acabam se tornando fiéis ao meio, fazendo nascer uma espécie de geração digital na história do cinema. Esse é o caso, por exemplo, do irlandês Eoin Moore, que alcançou reconhecimento internacional com seu Plus-Minus Null (Mais ou Menos Zero), realizado como trabalho final da Academia de Cinema e TV de Berlim (DFFB), em 1998.

Hoje, quatro anos mais tarde, Moore retoma sua DV — depois de ter rodado seu segundo longa em 35mm — com When Pigs Will Fly (Quando os Porcos Voarem), que tem estréia mundial agendada para o Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha. No entanto, apesar da disseminação das DVs, a transcrição para a forma tradicional em 35mm parece ainda ser a única forma de produções independentes chegarem ao grande público.

Debates —

Esses e outros dilemas do mercado cinematográfico estão sendo discutidos até a próxima quarta-feira (18), em Berlim, durante o festival b.film + digital vision. Servindo não só como vitrine, mas como uma espécie de bolsa de informação para diretores e produtores, o festival promove discussões teóricas e workshops sobre o trabalho com cinema digital. A idéia é refletir sobre as formas possíveis de manter a liberdade de criação no trabalho com uma DV.

Financiamento, produção e pós-produção são alguns dos tópicos das discussões. A escolha do meio adequado para chegar ao público, possibilidades de organizar a distribuição via internet (video-on-demand) e as reais perspectivas das salas de cinema digital do futuro são alguns dos temas pincelados pelos especialistas. As intenções são claras: fazer com que cada vez mais diretores possam chegar ao público sem abdicar da criatividade e da independência.

Ortodoxos e experimentais —

Dividido em seis sessões, o festival traz cerca de 60 filmes, cobrindo do flerte com Hollywood ao menos ortodoxo experimental. Da competição, participam oito longas de oito países: Japão, Coréia do Sul, Alemanha, Dinamarca, Islândia, EUA, Canadá e Turquia. O vencedor, ao invés de levar um urso ou leão de ouro para casa, recebe da Das Werk de Berlim um prêmio sedutor: a pós-produção e transcrição para 35mm de um longa nas ilhas da empresa — um trabalho com custos avaliados em 28 mil euros.

A idéia do festival é provar que "através da diversidade estética e de conteúdo, o cinema digital não pode ser reduzido a apenas uma assinatura ou um dogma". Esse é, inclusive, o lema da sessão independent images, dedicada especialmente a trabalhos pouco ou nada ortodoxos no uso da DV. Entre outros, estão ali os veteranos Claire Denis e Steven Soderbergh, ao lado de diretores jovens alemães e coreanos, entre outros.

Amores e gângsters —

Problema Todo Dia, uma "obra prima do cinema europeu", segundo os organizadores do festival, com direção de Denis, tem ninguém menos que Beatrice Dalle e Vincent Gallo como protagonistas. Considerado "um dos filmes de amor mais contundentes já rodados na história", é a mais recente experiência da diretora francesa com o cinema digital.

No mais, há de se perguntar "quantos Steven Soderbergh existem?". O diretor norte-americano, além de preparar um remake de Solaris, de Tarkovski, e rodar Full Frontal, fundou há pouco a produtora Section Eight, com seu sócio Georg Clooney. O primeiro produto da dupla é o digital Bem-vindo a Collinwood, presente no b.film + digital vision de Berlim, em que Soderbergh retoma seu amor pelas sujas histórias de gângsters com suas figuras grotescas.