Fiasco empresarial ameaça circuito de Nürburgring
21 de julho de 2012Muitas figuras proeminentes da política, da economia e do automobilismo compareceram em 9 de julho de 2009 à pomposa cerimônia de inauguração do novo complexo de diversão do autódromo de Nürburgring. Em apenas dois anos, um impressionante complexo de edifícios foi erguido rapidamente na remota região no norte do estado da Renânia-Palatinado. Além de uma nova arquibancada principal, foram construídos dois hotéis, um complexo de casas para férias e restaurantes, mais uma discoteca grande, um cassino e um centro de convenções.
Mesmo o ex-piloto da Fórmula 1, Hans-Joachim Stuck, ficou impressionado. "Acho ótimo. Especialmente a região do Eifel, que em termos de estrutura é pouco desenvolvida, certamente poderá se beneficiar deste empreendimento", avaliou Struck, em entrevista à Deutsche Welle à época da inauguração. "É uma decisão corajosa. E esperamos que ela valha a pena."
Meca do automobilismo
Desde 1927 são realizadas corridas em Nürburgring. O circuito, entre montanhas e vales, foi apelidado pelo piloto de Fórmula 1 Jackie Stewart como o "inferno verde". Ele foi palco de centenas de corridas emocionantes e acidentes trágicos. Depois que Niki Lauda sofreu um grave acidente no Grand Prix de 1976, escapando por pouco da morte, com queimaduras graves, constatou-se que o circuito de 21 quilômetros não era seguro o suficiente para a categoria. Foi criado então um circuito de cinco quilômetros, inaugurado em 1984.
A partir de meados da década de 1990, as conquistas do piloto Michael Schumacher provocaram um renascimento do automobilismo alemão. Diversas reformas no percurso fizeram dele um dos mais modernos da Europa.
Mas mesmo antes disso, a administração do lugar já havia se dado conta de que o local poderia ser usado não apenas para o automobilismo. Desde 1985, a área também é uma meca para os fãs de rock. Milhares pessoas reúnem-se no meio do ano para o festival "Rock am Ring". O sucesso deste e de outros eventos levaram os administradores a fazer novos planos, que em 2004 resultaram no projeto Nürburgring 2009.
Passo maior que a perna
"O que chamamos de Nürburgring 2009 é um desenvolvimento lógico da nossa estratégia de crescimento", dizia há quatro anos Walter Kafitz, então diretor-executivo da Nürburgring GmbH, administradora do lugar, em entrevista à Deutsche Welle. A área já era um grande canteiro de obras, cujos custos eram estimados em 215 milhões de euros. Investidores privados deveriam arcar com 80 milhões de euros.
No entanto, os custos explodiram, e o grande investidor com quem os donos do projeto contavam, simplesmente não apareceu. O estado da Renânia-Palatinado, acionista majoritário, com 90% do capital, tinha sempre que intervir com novas injeções de verba para salvar o projeto.
No final, o governo do estado conseguiu angariar uma empresa privada para gerenciar Nürburgring. Ela deveria organizar as atrações do complexo de lazer e operá-lo mais eficientemente. Mas os visitantes não apareceram, o que causou demissões e o fechamento do parque de diversões durante os meses de inverno. Além disso, os inquilinos não conseguiram pagar o aluguel. Para tentar salvar o complexo, o contrato com os gerenciadores foi rescindido em fevereiro deste ano.
Promessas quebradas, esperanças frustradas
Na quarta-feira passada (18/07) começou o último ato do drama de Nürburgring. A Comissão Europeia negou ao estado da Renânia-Palatinado a rápida aprovação de um crédito de emergência no valor de 13 milhões de euros. A Nürburgring GmbH precisava do dinheiro para continuar operando por pelo menos mais seis meses. Devido ao risco de insolvência já no final do mês, o governador do estado, Kurt Beck, resolveu dar o tiro de misericórdia e decretar falência.
Para o próprio Beck, isso é um fiasco político, já que o político social-democrata pretendia, com o projeto milionário, deixar sua marca na paisagem do estado. Ele afirmava repetidamente que o projeto não custaria aos contribuintes um único centavo. Uma promessa que não virou realidade, da mesma forma que a esperado impulso econômico desta região de fraca infraestrutura não aconteceu. A previsão era que fossem criados 500 empregos diretos e outros 2.500 postos de trabalho indiretos.
Para aqueles que vivem ao redor de Nürburgring – há anos acostumados com más notícias – a falência foi um choque. "Todos em Nürburg dependem do circuito. Agora, talvez toda a região sofra com isso", disse o prefeito Reinhold Schussler em uma declaração ao jornal regional Trierischer Volksfreund. O medo toma conta da região. "Vivo 100% do circuito, nossos hóspedes sempre foram relacionados ao percurso. Na minha idade, eu não posso transformar o hotel em um spa", reclamou um hoteleiro. "Se vier um russo rico que alugue isso aqui e mantenha como hobby, em três meses não estou mais por aqui", diz um dono de posto de gasolina local.
Campanha para salvar circuito
O diretor da Câmara de Comércio e Indústria de Koblenz e piloto amador, Manfred Sattler, ainda tem esperança. "Após estes anos com os atuais operadores, Nürburgring merece novamente ser dirigido por profissionais que coloquem o automobilismo em primeiro lugar."
Colocar o automobilismo como prioridade também é a reivindicação do Save the Ring, um movimento reunindo equipes de corrida, pilotos amadores, associações e empresários, que se opôs veementemente à expansão do circuito, que o transformou numa espécie de "Nürodisney".
Apesar do grande prejuízo para Nürburgring, tudo indica que os carros de corrida vão continuar percorrendo as pistas do circuito. O chefe da Fórmula 1, Bernie Ecclestone já sinalizou seu interesse para 2013. O organizador do "Rock am Ring" também está interessado em continuar o festival e supõe que um futuro gerenciador também estará de acordo. Como traz o dito popular, a esperança é a última que morre.
Autor: Arnd Riekman (md)
Revisão: Mariana Santos