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Filho de brasileiros eleito nos EUA será investigado

29 de dezembro de 2022

Deputado eleito George Santos mentiu sobre formação superior e trabalho no Citigroup e Goldman Sachs. Reportagens na imprensa americana levantam novos questionamentos e revelam que ele também era investigado no Brasil.

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Imagem de vídeo mostra o rosto de George Santos, filho de brasileiro que se elegeu em novembro para o Congresso dos EUA e depois admitiu ter mentido em currículo durante a campanha
George Santos se elegeu em novembro para o Congresso dos EUA e depois admitiu ter mentido em currículo durante a campanhaFoto: George Santos campaign/REUTERS

Procuradores de Long Island, no estado americano de Nova York, deram início a uma investigação sobre George Santos, filho de imigrantes brasileiros que se elegeu em novembro para a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e, posteriormente, admitiu ter mentido em vários pontos de seu currículo durante a campanha.

Santos, de 34 anos, é alvo de vários pedidos de renúncia, feitos até por membros de sua legenda, o Partido Republicano, além de ter questionada a sua aptidão para exercer o cargo na Câmara. Até o momento, porém, ele não demonstrou intenção de abrir mão do cargo.

"As inúmeras invenções e inconsistências associadas ao congressista eleito Santos são impressionantes", afirmou a procuradora distrital do condado de Nassau, Anne T. Donnelly, que também é republicana.

"Os residentes do Condado de Nassau e de outras partes do terceiro distrito devem ter um representante honesto e responsável no Congresso", afirmou. "Ninguém está acima da lei e se um crime foi cometido neste condado, será alvo de um processo."

Santos foi eleito pelo 3.º distrito do estado de Nova York, que inclui o bairro do Queens e Long Island. Na segunda-feira, ele admitiu em duas entrevistas que teria "embelezado" seu currículo.

"New York Times" revelou mentiras

Santos confessou que nunca trabalhou nos bancos Goldman Sachs ou Citigroup, e que tampouco possui um diploma universitário, ao contrário do que afirmou anteriormente.

Em entrevista ao jornal New York Post, ele descartou a possibilidade de renunciar ao cargo antes da posse, no dia 3 de janeiro, afirmando não ser um criminoso.

Se ele assumir o cargo, poderá enfrentar investigações por parte do Comitê de Ética da Câmara dos Representantes e do Departamento de Justiça. A Procuradoria-Geral de Nova York já analisa algumas das questões associadas a Santos.

As mentiras sobre uma série de dados que constavam em seu currículo foram reveladas por uma investigação do New York Times (NYT), publicada em meados de dezembro.

O jornal revelou que o candidato mentiu em várias informações que constam em seu currículo, como ao afirmar que teria recebido em 2010 um diploma em Finanças no Baruch College, em Nova York, além das passagens pelo Citigroup Bank e Goldman Sachs Investment Bank.

Ao New York Times, as três entidades disseram que não encontraram nenhum registro de Santos em seus dados.

Enriquecimento rápido

O jornal também lançou dúvidas sobre o funcionamento da associação de proteção animal Friends of United Animals, que teria sido criada pelo republicano, e considera ainda que a sua empresa de consultoria financeira, a Devolder Organization, seria "uma espécie de mistério".

Em sua declaração de contas apresentada em setembro à Câmara dos Representantes, Santos garantiu que a empresa lhe pagou um salário de 750 mil dólares (quase 4 milhões de reais) e dividendos entre 1 milhão e 5 milhões de dólares.

Mas, segundo o NYT, o formulário não incluía "qualquer informação sobre clientes que possam ter contribuído para tais depósitos, numa aparente violação da exigência de divulgar qualquer compensação acima de 5 mil dólares de uma única fonte".

Em entrevista concedida a poucos dias de ser eleito, Santos afirmou que conseguiu uma educação boa proporcionada pelos Estados Unidos, e disse ter construído "uma carreira respeitável" no setor financeiro, e que agora procurava dedicar-se ao serviço público.

Um fiel apoiador do ex-presidente Donald Trump, Santos se colocou como um candidato republicano nada tradicional: jovem, descendente de imigrantes nascido em uma "família pobre" no Queens e homossexual. Ele, porém, disse rejeitar rótulos, afirmando que isso não "faria diminuir os impostos dos eleitores".

Antecedentes no Brasil

O NYT também descobriu registros de que Santos teria sido alvo de uma investigação criminal no Brasil em 2008, pelo fato de ter, supostamente, usado cheques roubados para comprar artigos em uma loja de roupas em Niterói. À época, ele tinha 19 anos. Segundo o jornal, o caso não avançou porque o acusado nunca compareceu ao tribunal.

Ele também é acusado de mentir sobre possuir ancestralidade judaica – o que poderia lhe render alguns votos em sua região. Além disso, há questionamentos sobre sua fortuna aparentemente conseguida com rapidez, apesar de ele ter atravessado recentemente alguns problemas financeiros, como ao ser alvo de ordens de despejo e possuir dívidas de milhares de dólares em aluguéis atrasados.

Nas eleições de novembro, Santos derrotou o democrata Robert Zimmerman, que chegou a denunciar as falsidades do filho de brasileiros, mas sem conseguir impor prejuízos à campanha do republicano. Após as revelações na imprensa, o candidato derrotado afirmou que Santos é inapto a ocupar o cargo e pediu sua renúncia, de modo a permitir a realização de novas eleições distritais.

rc/lf (Lusa, AFP, AP)