Ensino
22 de outubro de 2008No último ano, o encarregado especial da Nações Unidas, Vernor Muñoz Villalobos, proclamou o veredicto em relação às escolas alemãs, afirmando que o sistema de ensino do país é "discriminatório". Um grêmio, que conta com a presença da chanceler federal Angela Merkel, reúne-se nesta quarta-feira (22/10), em Dresden, para debater, durante um encontro de cúpula da educação, os problemas que afetam os estrangeiros e seus filhos nas escolas do país.
"Origem migratória"
Apesar das críticas e acusações, o anuário estatístico publicado pelo governo em 2008 aponta uma tendência interessante: a comparação mostra que cada vez mais filhos de imigrantes conseguem freqüentar o pilar do sistema de ensino que permite o ingresso na universidade (Gymnasium).
E mais ainda: entre os alunos com "histórico de migração", como são chamados os descendentes de imigrantes no país que freqüentam o Gymnasium, a cota daqueles que concluem o ciclo escolar é até mais alta que entre os outros alunos, filhos de alemães.
"Isso pode ser explicado pelo fato de que os pais das crianças e adolescentes de origem migratória, em geral, depositam nelas uma expectativa muito alta. Pois para o projeto migração, o sucesso dos filhos é a melhor prova de ter feito a coisa certa", analisa Ingrid Gogolin, professora de Pedagogia da Universidade de Hamburgo.
Nos estados da ex-Alemanha Oriental, os descendentes de imigrantes no Gymnasium têm notas até melhores que os outros alunos. Em todo o país, 19% dos escolares de Gymnasium possuem um passaporte estrangeiro. Na Saxônia, essa taxa sobe para 52%.
Pior do que em outros países europeus
Especialistas acreditam que o sucesso escolar dos filhos de imigrantes na região está ligado ao fato de que, nos estados da antiga Alemanha Oriental, há vagas suficientes em creches e jardins-de-infância. Pois freqüentando uma instituição desde pequenos, os filhos de imigrantes aprendem o idioma mais cedo. Isso enquanto as vagas para crianças pequenas no oeste do país continuam raras.
Mas mesmo com toda a exposição de melhorias e dados positivos, os políticos reunidos em Dresden não podem negar que o sistema escolar alemão impõe diversas dificuldades aos filhos de estrangeiros. Note-se que 13% dos filhos de imigrantes não conseguem terminar a escola (mesmo considerando que muitos freqüentam os pilares do sistema de ensino que não permite o ingresso numa universidade). Entre os alemães, apenas 2% não obtêm um diploma de conclusão do ensino médio.
"Minha estimativa é que a situação do sistema educacional alemão não é boa para crianças com origem migratória, sendo pior do que em outros países europeus. Essas crianças, entre nós, não recebem os impulsos condizentes com o potencial que trazem consigo", diz Gogolin.
Três opções, três destinos
Um dos principais "culpados" pela situação é o sistema de ensino dividido em três pilares, que divide as crianças, depois do quarto ou do sexto ano do ensino fundamental, de acordo com o aproveitamento escolar. Aqueles com melhores notas vão para o Gymnasium e depois podem freqüentar uma universidade. Os de notas medianas vão para a Realschule, que habilita a freqüentar cursos em escolas profissionalizantes, vocacionais ou o segundo ciclo do ginásio. E a Hauptschule, em que os alunos recebem uma formação geral básica e bem menos qualificada.
Geralmente, o destino profissional destes alunos já é traçado na escolha de um desses tipos de escola. Cedo demais, criticam vários profissionais e especialistas. Pois crianças que crescem bilíngües muitas vezes não conseguem, neste estágio, deixar claro quais são seus reais potenciais.
Em busca de uma solução, os especialistas reunidos em Dresden têm basicamente três sugestões a fazer à premiê Merkel: mais creches e jardins-de-infância no país e mais professores que vejam nos alunos bilíngües não um obstáculo, mas uma chance para o futuro.