Fim do apoio americano a rebeldes cria vácuo na guerra síria
21 de julho de 2017Há muito tempo a deposição de Bashar al-Assad já não era uma prioridade americana. O ditador sírio mantém o poder de forma simplesmente estável demais para tanto. Graças à ajuda russa, ele conseguiu recapturar, um após o outro, os territórios tomados pela oposição secular e islâmica, afugentando os insurgentes com ajuda de bombardeiros enviados por Moscou, assessores militares iranianos e de combatentes do Hisbolá libanês.
Os americanos reconheceram claramente: os rebeldes ajudados por eles pouco podiam contra o sólido poder de fogo que sustenta Assad. Por isso, decidiram agora não mais ajudá-los com fornecimento de armas.
"Isso é um reconhecimento da realidade", comenta Ian Goldenberg, ex-assessor de Obama, em entrevista ao jornal The Washington Post. Em abril, o presidente americano, Donald Trump, já havia sinalizado que a queda de Assad não tinha prioridade para ele.
Influência russa
Caso os EUA realmente considerem a permanência de Assad no poder como algo quase imutável, então isso significaria também que Washington desistiu de suas pretensões de poder na região, em parte ou no todo, segundo os críticos. "Putin venceu", disse ao The Washington Post um consultor da Casa Branca, em condição de anonimato.
De fato, a retirada do apoio aos rebeldes representa uma mudança significativa na política dos EUA em relação à Síria. Quando a cooperação começou, em 2013, o objetivo era claro: Assad deveria ser pressionado militarmente e, assim, obrigado a se sentar à mesa de negociações.
Logo ficou evidente que somente a força militar dos rebeldes não seria suficiente para gerar pressão sobre o ditador sírio. Repetidamente, o então secretário de Estado americano, John Kerry, reclamava do tímido envolvimento militar de seu país. Neste ponto, ele se distanciava de seu presidente, Barack Obama, que de fato promoveu uma política contida para a Síria.
Isso ficou particularmente evidente em agosto de 2013, quando o regime de Assad usou armas químicas pela primeira vez - cruzando a tal "linha vermelha" traçada por Obama. O então presidente americano, porém, não reagiu.
Novos atores
Essa política deixou cada vez mais espaço para outros atores – como Rússia, Irã e Hisbolá. Os Estados Unidos estão hoje diante do mesmo dilema de então: o espaço que deixam vazio na Síria será ocupado imediatamente por outros atores. A decisão de não apoiar mais os rebeldes pode incentivar outros Estados – como os do Golfo – a fazê-lo.
Isso pode fazer com que os combates aumentem ainda mais. Os americanos se disseram no direito de apoiar apenas rebeldes "moderados". Permanece a questão sobre se outros Estados também farão uso desse mesmo princípio. Além disso, os americanos disseram que tentariam impedir uma transferência de armas. É difícil saber se outros atores no terreno terão os mesmos escrúpulos.
A retirada dos americanos não é apenas um triunfo para Putin e seu protegido Assad. O endurecimento das relações entre EUA e Irã, teme o jornal Al-Araby al-Jadeed, também pode ajudar a acirrar ainda mais os combates no campo de batalha sírio.
"O desastre é que a guerra fria entre árabes e iranianos está em plena 'fase quente'", escreveu o periódico. Pois esta guerra também é – além do Iêmen – travada na Síria. Resta saber até que ponto os russos – em vez dos americanos – estão dispostos a exercer uma influência moderadora sobre a Arábia Saudita.
"A reputação dos Estados Unidos já foi afetada", escreve o Al-Araby al-Jadeed. "Todas as partes na região não poderiam mais contar com os EUA como um aliado confiável."